Sobre o Blog
O S.S (Sobre Semideuses) é um blog dedicado as séries "Percy Jackson e Os Olimpianos" e "Os Heróis do Olimpo" de Rick Riordan, Escriba Sênior do Acampamento Meio-Sangue.Postem comentários com opiniões e ideias.Muito Obrigada!
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quinta-feira, 20 de junho de 2013
A Corrida de Bigas
Oi semideuses!Eu retirei do livro O Mar de Monstros uma das corridas de Bigas, espero que gostem!!
A manhã da corrida estava quente e úmida. A névoa estava baixa sobre a terra, como vapor de sauna. Milhões de pássaros se empoleiravam nas árvores – gordos pombos cinza e brancos, só que eles não arruinavam como pombos comuns. Soltavam aqueles desagradáveis guinchos metálicos que me lembravam radar de submarino. A pista da corrida fora construída em um campo gramado entre a linha de arco-e-fíecha e os bosques. O chalé de Hefesto usou os touros de bronze, completamente domesticados depois que as cabeças foram esmagadas, para preparar uma pista oval em questão de minutos. Havia fileiras de degraus de pedra para os espectadores – Tântalo, os sátiros, algumas dríades e todos os campistas que não estavam participando. O Sr. D não apareceu. Ele nunca acordava antes das dez horas.
– Certo! – anunciou Tântalo quando as equipes começaram a se reunir. Uma náiade levara para ele um grande prato de doces, e enquanto Tântalo falava, sua mão direita perseguia uma bomba de chocolate pela mesa do juiz. – Vocês todos conhecem as regras. Uma pista de quatrocentos metros. Duas voltas para vencer. Dois cavalos por biga. Cada equipe será composta de um auriga e um lutador. São permitidas armas. Esperem por truques sujos. Mas tentem não matar ninguém! – Tântalo sorriu para nós como se todos fôssemos crianças travessas. – Qualquer morte resultará em punição severa. Sem guloseimas junto à fogueira por uma semana. Agora, preparem suas carruagens!
Beckendorf liderou a equipe de Hefesto até a pista. Eles tinham uma biga toda de bronze e ferro – inclusive os cavalos, que eram autômatos mágicos, como os touros da Cólquida da história dos argonautas. Não tinha dúvidas de que a carruagem deles tinha todos os tipos de armadilhas mecânicas, e itens mais sofisticados que os de uma super Maserati. A biga de Ares era vermelho-sangue, puxada por dois medonhos esqueletos de cavalo. Clarisse embarcou com um feixe de lanças, clavas, bolas de pregos e outros brinquedos detestáveis. A de Apolo era elegante e graciosa, inteiramente dourada, puxada por dois belos cavalos baios. Seu lutador estava armado com um arco, embora tivesse prometido não disparar flechas comuns, com ponta, contra os aurigas oponentes. A de Hermes era verde e tinha aparência de um pouco velha, como se não saísse da garagem havia anos. Não parecia nada especial, mas era conduzida pelos irmãos Stoll, e estremeci só de pensar nos truques sujos que eles haviam armado. Restavam duas carruagens: uma, conduzida por Annabeth, e outra, por mim. Antes do começo da corrida, tentei me aproximar de Annabeth e lhe contar meu sonho. Ela se animou quando mencionei Grover, mas quando mencionei o que ele dissera, ela ficou distante outra vez, desconfiada.
– Você está tentando me distrair – concluiu.
– O quê? Não, não estou!
– Ora! Como se Grover, por mero acaso, tivesse tropeçado na única coisa que poderia salvar o acampamento.
– O que você quer dizer?
Ela revirou os olhos.
– Volte para sua biga, Percy.
– Eu não estou inventando isso. Ele está em perigo, Annabeth.
Ela hesitou. Pude perceber que tentava decidir se devia ou não confiar em mim. A despeito das brigas ocasionais, passamos por muita coisa juntos, e eu sabia que ela jamais desejaria que algo de ruim acontecesse a Grover.
– Percy, uma conexão empática é muito difícil de ser feita. Quer dizer, é mais provável que você estivesse mesmo sonhando.
– O Oráculo – disse eu. – Podíamos consultar o Oráculo.
Annabeth franziu a testa. No último verão antes de minha missão, eu visitara o estranho espírito que morava no sótão da Casa Grande, e ele me fizera uma profecia que se realizara de um modo que eu jamais imaginaria. A experiência tinha me aterrorizado por meses. Annabeth sabia que eu nunca sugeriria voltar lá se não estivesse falando realmente a sério. Antes que ela pudesse responder, a trombeta de concha soou.
– Aurigas! – bradou Tântalo. – Aos seus lugares!
– Conversamos mais tarde – disse Annabeth. – Depois que eu vencer. Enquanto eu caminhava de volta para a biga, notei que havia mais pombos nas árvores – guinchando como loucos, fazendo a floresta inteira farfalhar. Ninguém mais parecia estar prestando atenção, mas eles me deixavam nervoso. Os bicos cintilavam de modo estranho. Os olhos pareciam mais brilhantes que os de pássaros comuns. Tyson estava tendo problemas em controlar nossos cavalos. Precisei conversar com eles por um bom tempo até se acalmarem.
Ele é um monstro, senhor!, eles se queixaram para mim.
Ele é um filho de Poseidon, disse a eles. Assim como... bem, assim como eu.
Não!, eles insistiram. Monstro! Comedor de cavalos!Não confiamos!
Eu lhes darei torrões de açúcar no final da corrida, falei.
Torrões de açúcar?
Torrões de açúcar muito grandes. E maçãs. Eu tinha falado das maçãs?
Por fim, concordaram em deixar que eu os atrelasse. Agora, se você nunca viu uma biga grega, ela é construída para ser veloz, não para conforto e segurança. É basicamente um cesto de madeira, aberto atrás, montado sobre um eixo entre duas rodas. Quem conduz fica em pé o tempo todo, e a gente sente cada solavanco da estrada. É feita com uma madeira tão leve que se você perder o controle nas curvas fechadas em uma extremidade ou outra da pista provavelmente vai capotar, esmigalhando tanto a carruagem como a si mesmo. Tem mais adrenalina que andar de skate.
Segurei as rédeas e manobrei para a linha de partida. Entreguei a Tyson uma vara de três metros e disse a ele que sua função seria empurrar para longe as outras bigas se elas chegassem perto demais, e desviar qualquer coisa que tentassem atirar em nós.
– Sem bater nos pôneis com o pau – insistiu ele.
– Certo – concordei. – Nem nas pessoas, se você puder evitar. Vamos jogar limpo. Apenas afaste as distrações e deixe que eu me concentre em conduzir.
– Vamos vencer! – ele alardeou. A gente ia perder feio, pensei comigo mesmo, mas eutinha de tentar. Queria mostrar aos outros... bem, não sabia o quê, exatamente. Que Tyson não era um cara assim tão mau? Que eu não estava envergonhado de ser visto com ele em público? Que eles não tinham me ofendido com todas as suas piadas e provocações?
Quando as carruagens se alinharam, mais pombos de olhos brilhantes se juntaram nos bosques. Guinchavam tão alto que os campistas na arquibancada estavam começando a reparar, olhando nervosos para as árvores, que tremiam sob o peso dos pássaros. Tântalo não parecia preocupado, mas teve de falar mais alto para ser ouvido.
– Aurigas! – bradou ele. – Tomem suas posições!
Ele ergueu a mão e o sinal de partida desceu. As carruagens dispararam, fazendo barulho. Cascos ressoaram contra o pó. A multidão vibrou. Quase imediatamente se ouviu um alto e desagradável crac! Olhei para trás a tempo de ver a biga de Apolo virar de repente. Hermes colidira com ela – talvez por engano, talvez não. A equipe de Hermes – Travis e Connor – riu da boa sorte, mas não por muito tempo. Os cavalos de Apolo chocaram-se contra os dela, e a biga de Hermes também virou, deixando uma pilha de madeira quebrada e quatro cavalos empinando na poeira. Duas carruagens eliminadas nos primeiros seis metros. Adorei o esporte.
Voltei a prestar atenção à minha frente. Nosso tempo era bom, estávamos na frente de Ares, mas a vantagem da biga de Annabeth era muito grande. Ela já estava contornando a primeira coluna, seu lanceiro com um sorriso arreganhado, acenando para nós e gritando: Até mais! A carruagem de Hefesto também começava a nos alcançar. Beckendorf apertou um botão e um painel se abriu na lateral da carruagem.
– Desculpe-me, Percy! – gritou ele. Três conjuntos de bolas e correntes foram atirados diretamente para nossas rodas. Teriam nos destroçado por completo se Tyson não as tivesse desviado para o lado com um movimento rápido de sua vara. Ele deu um bom empurrão na biga de Hefesto, que saiu deslizando de lado enquanto seguíamos em frente.
– Bom trabalho, Tyson! – gritei.
– Passarinhos! – gritou.
–O quê?
Estávamos em tal disparada que era difícil ouvir ou ver alguma coisa, mas Tyson apontou para os bosques, e vi o que o preocupava. Os pombos tinham saído das árvores. Estavam voando em espiral como um enorme tornado, em direção à pista. E daí, disse para mim mesmo. São apenas pombos. Tentei me concentrar na corrida. Completamos nossa primeira volta, as rodas rangendo embaixo de nós, a biga ameaçando tombar, mas agora estávamos a apenas três metros de Annabeth. Se ao menos pudesse chegar um pouco mais perto, Tyson poderia usar sua vara... O guerreiro de Annabeth não estava mais sorrindo. Puxou um dardo de sua coleção e mirou em mim. Estava prestes a lançá-lo quando ouvimos os gritos.
Os pombos estavam se aglomerando – milhares deles mergulhando sobre os espectadores na arquibancada, atacando as outras bigas. Beckendorf estava cercado. Seu guerreiro tentou espantar os pássaros a pauladas, mas não conseguia enxergar nada. A biga deu uma guinada e saiu rasgando um caminho no meio dos campos de morangos, os cavalos mecânicos soltando vapor. Na carruagem de Ares, Clarisse gritou uma ordem para seu guerreiro, que rapidamente jogou uma tela de camuflagem por cima de seu cesto. Os pássaros enxamearam em volta dela, bicando e arranhando as mãos do guerreiro enquanto ele tentava segurar a rede no alto, mas Clarisse apenas trincou os dentes e continuou guiando. Seus cavalos esqueléticos pareciam imunes à distração. Os pombos bicavam inutilmente as órbitas vazias e voavam por entre suas costelas, mas os corcéis continuavam correndo. Os espectadores não tiveram tanta sorte. Os pássaros atacavam qualquer pedaço de carne exposta, levando todos ao pânico. Agora que os pássaros estavam mais perto, ficou claro que não eram pombos normais. Seus olhos eram pequenos, brilhantes e perversos. Os bicos eram de bronze e, a julgar pelos gritos dos campistas, deviam ser afiados como navalhas.
– Pássaros de Estinfália! – gritou Annabeth.
Ela reduziu a velocidade e emparelhou sua biga com a minha.
– Vão descarnar todo o mundo até os ossos se não os espantarmos!
– Tyson – disse eu – meia-volta!
– Pegamos o caminho errado? – perguntou ele.
– Sempre – resmunguei, mas manobrei a biga na direção da arquibancada. Annabeth seguia bem ao meu lado. Ela gritou:
– Heróis, às armas!
Mas eu não tinha certeza se alguém poderia ouvi-la, com os guinchos dos pássaros e todo aquele caos. Segurei as rédeas com uma das mãos e consegui empunhar Contracorrente, enquanto uma onda de pássaros mergulhava sobre meu rosto, os bicos metálicos batendo. Golpeei-os no ar, e eles explodiram em pó e penas, mas ainda restavam milhões deles. Um me pegou no traseiro, e quase pulei para fora da biga.
Annabeth não estava com muito mais sorte. Quanto mais perto chegávamos da arquibancada, mais compacta ficava a nuvem de pássaros.
Alguns dos espectadores tentavam se defender. Os campistas de Atena gritavam por escudos. Os arqueiros do chalé de Apolo carregaram seus arcos e flechas, prontos para exterminar a ameaça, mas com tantos campistas misturados com os pássaros não era seguro disparar.
– São pássaros demais! – gritei para Annabeth. – Como a gente se livra deles? Ela golpeou um pombo com a faca.
– Hércules usou barulho! Címbalos de bronze! Ele os espantou com o som mais horrível que conseguiu... – Os olhos dela se arregalaram. – Percy... A coleção de Quíron!
Entendi imediatamente.
– Acha que vai funcionar? – Ela entregou as rédeas ao guerreiro e pulou de sua biga para a minha como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
– Para a Casa Grande! É nossa única chance!
Clarisse acabara de cruzar a linha de chegada, sem adversários, e parecia só então ter notado como era sério o problema dos pássaros. Quando viu que nos afastávamos, gritou:
– Vocês estão fugindo? A luta é aqui, seus covardes!
Ela puxou a espada e investiu para a arquibancada. Fiz os cavalos galoparem. A biga passou com barulho pelos campos de morangos, atravessou a quadra de vôlei e parou bruscamente na frente da Casa Grande. Annabeth e eu corremos para dentro, disparando pelo corredor até o alojamento de Quíron. O aparelho de som ainda estava na mesa de cabeceira, e também seus CDs favoritos. Agarrei o mais repulsivo que pude encontrar, Annabeth agarrou o aparelho e corremos juntos de volta para fora. Na pista, as carruagens estavam em chamas. Campistas feridos corriam em todas as direções, com pássaros dilacerando-lhes as roupas e arrancando-lhes os cabelos, enquanto Tântalo perseguia doces do café da manhã em volta da arquibancada, gritando de vez em quando:
– Está tudo sob controle! Não se preocupem! Paramos a carruagem na linha de chegada. Annabeth preparou o som. Rezei para as pilhas não estarem fracas. Apertei o PLAY, e o favorito de Quíron começou a tocar – Os maiores sucessos de Dean Martin. De repente o ar se encheu com o som violinos e de um bando de caras resmungando em italiano. Os pombos demoníacos enlouqueceram. Começaram a voar círculos, colidindo uns com os outros como se quisessem explodir seus miolos. Depois, abandonaram de vez a pista e voaram para o céu em uma enorme onda escura.
– Agora! – bradou Annabeth. – Arqueiros!
Sem obstrução, a mira dos arqueiros de Apolo era infalível. A maioria conseguia disparar cinco ou seis flechas de uma vez. Em minutos, o chão estava coalhado de pombos de bico de bronze mortos, e os sobreviventes eram um distante rasto de fumaça no horizonte. O acampamento estava a salvo, mas a devastação não era bonita de ver. A maioria das bigas tinha sido completamente destruída. Quase todos estavam feridos, sangrando com bicadas múltiplas dos pássaros. As meninas do chalé de Afrodite gritavam porque seus penteados tinham sido arruinados e suas roupas estavam sujas de cocô de pombo.
– Bravo! – disse Tântalo, mas não estava olhando para mim ou para Annabeth. – Temos nossa primeira vencedora! – Ele foi até a linha de chegada e premiou com os louros dourados uma Clarisse perplexa. Ele então se virou e sorriu para mim. – E, agora, a punição para os desordeiros que tumultuaram a corrida.
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