Sobre o Blog

O S.S (Sobre Semideuses) é um blog dedicado as séries "Percy Jackson e Os Olimpianos" e "Os Heróis do Olimpo" de Rick Riordan, Escriba Sênior do Acampamento Meio-Sangue.Postem comentários com opiniões e ideias.Muito Obrigada!

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sábado, 29 de junho de 2013

Capas de O Mar de Monstros

Oi semideuses!Temos novas capas de PJ e o Mar de Monstros, vemjam so:


Atenção, semideuses! Com vocês, a capa da graphic novel de "O Mar de Monstros", de Rick Riordan, e a simulação da edição especial de "O Mar de Monstros" com capa inspirada no filme. *_*

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Os deuses do mar

Ola meio sangues!Como todos devem saber, alem de Poseidon, existiam outros deuses do mar, os quais irei apresentar agora.Muito obrigada e espero que gostem!   

Deuses do mar

Nereu
Era o velho deus do mar, deus da abundância de peixes no oceano. Morava no fundo do Egeu, em um palácio magnífico construído em uma caverna. Excelente metamorfo, era conhecido por sempre falar a verdade. Tinha cauda de peixe, torso de homem e barba e cabelos tão brancos quando a espuma do mar. Casou-se com Dóris, filha de Oceano, o titã dos mares. O casal gerou cinquenta belas sereias, chamadas Nereidas, que usavam sua voz doce e encantadora para proteger os marinheiros.

Proteu
Filho de Poseidon e pastor das focas do deus. Conhecia todos os mares e podia se transformar em qualquer animal. Embora possuísse o dom da profecia, não revelava o futuro a menos que fosse capturado.

Tritão
Deus do mar, filho de Poseidon e Anfitrite, atuava como mensageiro de Poseidon. Lembrava uma sereia: cabeça e torso de homem e cauda de peixe, e sempre carregava um chifre ou uma concha, que ele soprava.

Tritão era extremamente poderoso. Podia deslocar ilhas inteiras ou acalmar os mares. Participou da batalha dos deuses olimpianos contra os gigantes, ajudando a afugentá-los. Como Proteu e Nereu, tinha o dom da profecia.

Grade de Atividades


Queridos semideuses, está é a  rotina do Percy no Acampamento Meio Sangue, espero que gostem!!Atividades








terça-feira, 25 de junho de 2013

Enquete

Poxa pessoal, que custa votar na enquete.Eu só faço essas enquetes para saber o que vcs acham, já que ninguem comenta, mas sem votos tbm não adianta muita coisa.Muito obrigada pela sua atenção.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Mais um Poster...

Queridos semideuses, não param de aparecer novos posters de O Mar de Monstros!Este de ve ser o terceiro, quarto,por aí.Se alguem tiver ideias, pedidos ou desenhos, comentem ou mandem um e-mail para o e-mail cariucha.duda@gmail.com .Bem, onde eu estava?...Ah!, sim o poster, aqui está.Espero que gostem!!!



O longa tem estreia prevista para 16 de agosto no Brasil.
Mais um pôster de "Percy Jackson e o Mar de Monstros", filme inspirado na série literária de Rick Riordan! O que acharam desse?

O longa tem estreia prevista para 16 de agosto no Brasil.

domingo, 23 de junho de 2013

A Aparição dos Pôneis de Festa

Oi semideuses , bem, como  absolutamente ninguém (que eu conheça)Tem mandado novidades sobre The House of  Hades ou  O Mar de Monstros, estou postando trechos que eu considero legais dos livros, se souberem de alguma novidade, por favor avisem, bem como eu ia dizendo, tem gente que não se lembra dos Pônei de Festa, então eu retirei do livro O Mar de Monstros, um trecho do capítulo A Invasão dos Pôneis de Festa.Espero que gostem( e comentem!).

"O homem-urso ergueu meus amigos e mostrou os dentes. Foi quando o Hades inteiro foi libertado.

Zummm! Uma flecha com penas vermelhas brotou na boca de Oreios. Com uma expressão surpresa na cara peluda, ele desmoronou no convés.
– Irmão! – gemeu Agrio.
Ele afrouxou as rédeas do pégaso apenas por tempo suficiente para o corcel negro escoiceá-lo na cabeça e escapar voando, livre, sobre a baía de Miami. Por uma fração de segundo os guardas de Luke ficaram atordoados demais para fazer qualquer coisa a não ser olhar para os corpos dos gêmeos ursos se dissolvendo em fumaça. Então se ouviu um coro selvagem de brados de guerra e um estrépito de cascos contra metal. Uma dúzia de centauros irrompeu da escadaria principal.
– Pôneis! – exclamou Tyson, empolgado.
Minha cabeça teve dificuldade de processar tudo o que vi. Quíron estava no meio da multidão, mas seus parentes não pareciam quase nada com ele. Eram centauros com corpo de garanhões árabes, outros com pelo dourado de palomino, outros com manchas laranja e brancas como paint horses. Alguns usavam camisetas de cores vivas com letras fosforescentes que diziam PÔNEIS DE FESTA: DIVISÃO DO SUL DA FLORIDA. Alguns estavam armados com arcos, alguns com bastões de beisebol, alguns com pistolas de paintball. Um tinha a cara pintada como um guerreiro comanche e agitava uma enorme mão de isopor mostrando um grande Número 1. Outro estava de peito nu e inteiramente pintado de verde. Um terceiro usava óculos com olhos vesgos presos a molas, balançando para cima e para baixo, e um daqueles bonés de beisebol que têm latas de refrigerante com canudinhos penduradas dos dois lados.
Eles estouraram no convés com tamanha ferocidade e tanto colorido que por um momento até Luke ficou atordoado. Eu não sabia dizer se eles tinham chegado para comemorar ou atacar. Tudo levava a crer que as duas coisas. Enquanto Luke erguia sua espada para convocar as tropas, um centauro disparou uma flecha diferenciada, com uma luva de boxe na ponta. Ela atingiu Luke na cara e o mandou para dentro da piscina. Seus guerreiros se espalharam por todos os lados. Eu não podia culpá-los. Enfrentar os cascos de um garanhão empinado já é bastante assustador, mas sendo ele um centauro, armado com um arco e aos gritos, usando um chapéu com latas de refrigerante, até o mais bravo dos guerreiros bateria em retirada.
– Venham, acertem alguns! – gritou um dos pôneis de festa.
Eles mandaram ver com suas pistolas de paintball. Uma onda de azul e amarelo explodiu contra os guerreiros de Luke, cegando-os e emporcalhando-os da cabeça aos pés. Eles tentaram correr, apenas para escorregar e cair. Quíron galopou até Annabeth e Grover, pegou-os com facilidade do convés e os colocou nas costas. Tentei me levantar, mas minha perna ferida ainda parecia estar em fogo. Luke se arrastava para fora da piscina.
– Ataquem, seus idiotas! – ordenou às suas tropas.
Em algum lugar sob o convés um grande sino bateu. Eu sabia que a qualquer segundo seríamos esmagados pelos reforços de Luke. Seus guerreiros já estavam se recuperando da surpresa, avançando para os centauros com espadas e lanças erguidas.
Tyson jogou meia dúzia de lado com um tabefe, derrubando-os por cima da amurada na baía de Miami. Porém mais guerreiros vinham subindo pelas escadas.
– Irmãos, retirar! – disse Quíron.
– Você não vai escapar dessa impune, homem-cavalo! – berrou Luke.
Ele ergueu a espada, mas levou um murro na cara em outra flechada de luva de boxe, e caiu sentado numa espreguiçadeira. Um centauro palomino me içou para seu lombo.
– Cara, chame seu amigo grandalhão!
– Tyson! – gritei. – Venha!
Tyson largou os dois guerreiros que estava prestes a amarrar em um nó e correu atrás de nós. Ele pulou para o lombo do centauro.
– Cara! – gemeu o centauro, quase cedendo sob o peso de Tyson. – As palavras "dieta de baixo carboidrato" significam alguma coisa para você? 
Os guerreiros de Luke estavam se organizando em uma falange. Mas quando estavam prontos para avançar os centauros já tinham galopado para a beirada do convés e pulado sem medo por cima da amurada, como se aquilo fosse uma corrida de obstáculos e não dez andares acima do chão. Tive certeza de que íamos morrer. Despencamos para o cais, mas os centauros atingiram o asfalto praticamente sem um solavanco sequer e saíram galopando, bradando entusiasmados e gritando provocações para o Princesa Andrômeda enquanto galopávamos para as ruas do centro de Miami.
Não tenho ideia do que os moradores de Miami pensaram quando passamos galopando. Ruas e edifícios começaram a se tornar indistintos enquanto os centauros ganhavam velocidade. A sensação era de que o espaço estava se compactando – como se cada passo de centauro nos levasse por quilômetros e quilômetros. Num piscar de olhos, deixamos a cidade para trás. Disparamos por campos pantanosos, capim alto, lagos e árvores anãs. Finalmente, estávamos em um acampamento de trailers à beira de um lago. Os trailers eram todos puxados por cavalos, incrementados com televisores, minigeladeiras e mosquiteiros. Era um acampamento de centauros.
– Cara! – disse um pônei de festa enquanto descarregava seu equipamento. – Você viu aquele sujeito urso? Parecia que estava dizendo: "Epa! Tem uma flecha na minha boca!"
O centauro com os óculos de olhos vesgos riu.
– Aquilo foi fantástico! Trombada de cabeça!
Os dois centauros investiram um contra o outro com força total e bateram as cabeças, depois saíram cambaleando um para cada lado, com sorrisos bobos na cara.
Quíron suspirou. Pôs Annabeth e Grover sobre uma toalha de piquenique ao meu lado.
– Preferiria que meus primos não batessem as cabeças. Eles não têm neurônios sobrando. 
– Quíron – disse eu, ainda surpreso com o fato de ele estar ali. – Você nos salvou.
Ele me deu um sorriso seco.
– Bem, eu não poderia deixar que morressem, especialmente por terem limpado meu nome.
– Mas como sabia onde estávamos? – perguntou Annabeth.
– Planejamento avançado, minha querida. Eu calculei que vocês seriam trazidos pelas águas para perto de Miami, se conseguissem sair do Mar de Monstros vivos. Quase tudo o que é esquisito é trazido para Miami pelas águas.
– Puxa, obrigado – murmurou Grover.
– Não, não – disse Quíron. – Eu não quis dizer... Ah, não importa! Eu estou contente em vê-lo, meu jovem sátiro. A questão é que consegui bisbilhotar a mensagem de íris de Percy e rastrear o sinal. Íris e eu somos amigos há séculos. Pedia a ela que me alertasse sobre quaisquer comunicações importantes nesta área. Então não foi preciso grande esforço para convencer meus primos a vir em sua ajuda. Como vêem, nós, centauros, somos capazes de nos deslocar bem depressa quando queremos. Nossa noção de distância é diferente da dos seres humanos. Olhei para a fogueira, onde três pôneis de festa ensinavam Tyson a usar uma pistola de paintball. Torci para que soubessem no que estavam se metendo.
– Então, e agora? – perguntei a Quíron. – Simplesmente deixamos Luke ir embora? Ele está com Cronos a bordo daquele navio. Ou partes dele, de qualquer modo.
Quíron se ajoelhou, dobrando cuidadosamente as pernas dianteiras embaixo de si. Abriu a bolsa de remédios em seu cinto e começou a tratar meus ferimentos.
– Infelizmente, Percy, aconteceu hoje uma espécie de empate. Nós não tínhamos vantagem numérica para tomar aquele navio. E Luke não estava suficientemente organizado para nos perseguir. Ninguém venceu.
– Mas nós temos o Velocino! – disse Annabeth. – Clarisse está agora mesmo voltando com ele para o acampamento.
Quíron assentiu, embora ainda parecesse inquieto.
– Vocês todos são heróis de verdade. E assim que deixarmos Percy em condições, vocês devem voltar ao Acampamento Meio Sangue. Os centauros poderão levá-los.
– Você também vem? – perguntei.
– Ah, sim, Percy! Ficarei aliviado em ir para casa. Os meus irmãos aqui simplesmente não apreciam a música de Dean Martin. Além disso, preciso trocar algumas palavras com o senhor D. Temos o restante do verão para planejar. Muito treinamento para fazer. E eu quero ver... estou curioso a respeito do Velocino.
Eu não sabia exatamente o que ele queria dizer, mas aquilo me deixou preocupado com o que Luke dissera: Eu ia deixar você levar o Velocino... depois que eu tivesse terminado com ele. Ele estaria simplesmente mentindo? Eu aprendera com Cronos que sempre há um plano dentro de um plano. O senhor titã não era chamado de O Tortuoso à toa. Tinha meios de conseguir que as pessoas fizessem o que ele queria sem sequer se darem conta das verdadeiras intenções dele. Junto à fogueira, Tyson estava à vontade com sua pistola de paíntball. Um projétil azul explodiu contra um dos centauros, arremessando-o de costas para dentro do lago. O centauro saiu sorrindo, coberto de lama do pântano e tinta azul, e com as duas mãos fez sinal de positivo para Tyson.
– Annabeth – disse Quíron – quem sabe você e Grover poderiam ir tomar conta de Tyson e dos meus primos antes que eles, ahn, ensinem maus hábitos demais um ao outro?
Annabeth olhou-o nos olhos. Houve algum tipo de entendimento entre eles.
– Claro, Quíron – disse Annabeth. – Venha, garoto-bode.
– Mas eu não gosto de paintball.
– Sim, você gosta.
Ela pôs Grover sobre seus cascos e o levou em direção à fogueira. Quíron acabou de enfaixar minha perna.
– Percy, tive uma conversa com Annabeth a caminho daqui. Uma conversa sobre a profecia. 
O-oh, pensei.
– Não foi culpa dela – disse eu. – Eu a fiz contar.
Seus olhos pestanejaram com irritação. Tinha certeza de que ele iria me dar uma bronca, mas então seu olhar demonstrou cansaço.
– Acho que não poderia mantê-la em segredo para sempre.
– Então sou mesmo eu na profecia?
Quíron enfiou as ataduras de volta na bolsa.
– Eu gostaria de saber, Percy. Você ainda não tem dezesseis anos. Por ora, devemos simplesmente treiná-lo o melhor possível, e deixar o futuro para as Parcas. As Parcas. Eu não pensava naquelas velhas senhoras fazia um bom tempo, mas assim que Quíron as mencionou, a ficha caiu em minha cabeça.
– É isso que aquilo significava.
Quíron franziu o cenho.
– É isso que o quê significava?
– No último verão. O agouro das Parcas quando as vi arrebentar a linha da vida de alguém. Pensei que significasse que eu ia morrer imediatamente, mas é pior que isso. Tem algo a ver com sua profecia. A morte que elas previram... vai acontecer quando eu tiver dezesseis anos.
A cauda de Quíron varreu nervosamente a grama.
– Meu menino, você não pode ter certeza disso. Nós nem sabemos se a profecia é sobre você.
– Mas não existe nenhum outro filho meio-sangue dos Três Grandes!
– Que nós saibamos.
– E Cronos está retornando. Ele vai destruir o Monte Olimpo!
– Ele vai tentar – concordou Quíron. – E a civilização ocidental junto, se não o detivermos. Mas nós vamos detê-lo. Você não estará sozinho nessa luta.
Eu sabia que ele estava tentando me fazer sentir melhor, mas me lembrei do que Annabeth contara. Caberia a um só herói. Uma decisão que iria salvar ou destruir o Ocidente. E eu tinha certeza de que as Parcas me deram algum tipo de aviso sobre isso. Algo terrível iria acontecer, ou para mim ou para alguém próximo de mim.
– Eu sou apenas uma criança, Quíron – disse eu, sem forças. – De que adianta um heroizinho de nada contra uma coisa como Cronos?
Quíron conseguiu sorrir.
– De que adianta um heroizinho de nada? Joshua Lawrence Chamberlain me disse algo parecido certa vez, pouco antes de, sozinho, mudar o curso da Guerra Civil.
Ele puxou uma flecha de sua aljava e girou a ponta afiada como navalha de um jeito que a fez brilhar à luz da fogueira.
– Bronze celestial, Percy. Uma arma imortal. O que aconteceria se você disparasse isto contra um ser humano?
– Nada – disse eu. – Passaria através dele.
– Certo – disse ele. – Os seres humanos não existem no mesmo nível que os imortais. Eles não podem nem mesmo ser feridos pelas nossas armas. Mas você, Percy... você é parte deus, parte humano. Vive em ambos os mundos. Pode ser ferido por ambos, e pode influenciar ambos. É isso que torna os heróis tão especiais. Você transporta as esperanças da humanidade para a esfera do eterno. Os monstros nunca morrem. Eles renascem do caos e do barbarismo que sempre fermentam embaixo da civilização, o próprio material que torna Cronos mais forte. Precisam ser derrotados de novo, e de novo, mantidos encurralados. Os heróis personificam essa luta. Você enfrenta as batalhas que a humanidade precisa vencer, a cada geração, a fim de continuar sendo humana. Entende?
– Eu... eu não sei.
– Você precisa tentar, Percy. Porque, seja você ou não a criança da profecia, Cronos acha que você pode ser. E, depois de hoje, ele finalmente desistirá de levá-lo para o lado dele. Essa é a única razão de ele ainda não tê-lo matado, você sabe. Assim que ele tiver certeza de que não poderá usá-lo, irá destruí-lo.
– Você fala como se o conhecesse.
Quíron franziu os lábios.
– Mas eu o conheço.
Olhei para ele. Eu às vezes me esquecia de como Quíron era velho.
– É por isso que o senhor D culpou você quando a árvore foi envenenada? Por isso disse que algumas pessoas não confiam em você? 
– Sem dúvida.
– Mas, Quíron... Quer dizer, ora vamos! Por que eles haveriam de pensar que você iria trair o acampamento por Cronos?
Os olhos de Quíron eram de um castanho profundo, cheios de milhares de anos de tristeza.
– Percy, lembre-se de seu treinamento. Lembre-se dos estudos de mitologia. Qual é a minha conexão com o senhor titã?
Tentei pensar, mas minha mitologia sempre foi toda confusa Mesmo ali, quando ela era tão real, tão importante para minha vida, eu tinha problemas em guardar direito todos os nomes e os fatos. Sacudi a cabeça.
– Você, ahn, deve a Cronos algum favor ou coisa assim? Ele poupou sua vida?
– Percy – disse Quíron, a voz inimaginavelmente suave. – O titã Cronos é meu pai."

Resultados

Queridos semideuses, e com o final da enquete, os vencedores sã Apolo e Atena!!!Palmas para eles pessoal.Então, logo estarei colocando novas enquetes, e sintam-se livres para dar ideias e manifestar a sua opinião, muito obrigada pela sua atenção!

sábado, 22 de junho de 2013

Outra Corrida de Bigas

Oi semideuses!!Como vão todos?Da ultima vez, eu postei a primeira corrida de bigas, agora, estou postando a segunda, bem, espero que gostem!!

"Subi na biga e fiquei em posição bem na hora em que Quíron deu a largada. Os cavalos sabiam o que fazer. Disparamos pela pista tão depressa que eu teria caído da carruagem se meus braços não tivessem enrolado nas rédeas de couro. Annabeth se segurou firme no parapeito. As rodas deslizavam lindamente. Entramos na primeira curva com uma biga inteira de vantagem sobre Clarisse, que estava ocupada tentando se defender de um ataque de dardo dos irmãos Stoll na biga de Hermes.
– Nós os pegamos – gritei, mas foi cedo demais.
– Chegando! – gritou Annabeth.
Ela lançou seu primeiro dardo no modo arpéu, jogando longe uma rede com pesos de chumbo que teria envolvido nós dois. A carruagem de Apolo chegara ao nosso lado. Antes que Annabeth pudesse se armar de novo, o guerreiro de Apolo lançou um dardo contra nossa roda direita. O dardo se despedaçou, mas não sem antes arrebentar um dos raios. Nossa biga deu uma guinada brusca e oscilou. Tive certeza de que a roda iria se desintegrar de vez, mas de algum modo continuamos em frente. Instiguei os cavalos a manter a velocidade. Estávamos agora pescoço com pescoço com Apolo. Hefesto vinha logo depois. Ares e Hermes estavam ficando para trás, lado a lado enquanto Clarisse enfrentava Connor Stoll de espada contra dardo. Se fôssemos atingidos mais uma vez na roda, sabia que iríamos capotar.
– Você é meu! – gritou o auriga de Apolo. Era um campista de primeiro ano. Não me lembro do seu nome, mas certamente tinha autoconfiança.
– Ah, tá! – Annabeth gritou de volta. Ela pegou o segundo dardo – um grande risco, considerando que ainda tínhamos uma volta completa pela frente – e o lançou contra o auriga de Apolo.
A pontaria foi perfeita. A ponta rombuda surgiu bem no momento em que o dardo atingiu o auriga no peito, derrubando-o sobre o parceiro e fazendo os dois tombarem da carruagem num salto-mortal para trás. Os cavalos sentiram as rédeas afrouxarem e enlouqueceram, galopando direto para a multidão. Campistas correram procurando proteção enquanto os cavalos passaram no canto das arquibancadas e a biga dourada virou. Os animais galoparam de volta para o estábulo, arrastando a carruagem emborcada atrás deles. Consegui manter nossa biga inteira ao longo da segunda curva, a despeito dos gemidos da roda direita. Passamos pela linha de partida e entramos trovejando na volta final. O eixo rangia e chiava. A roda instável estava nos fazendo perder velocidade, muito embora os cavalos respondessem a todos os meus comandos, correndo como uma máquina bem lubrificada. A equipe de Hefesto continuava avançando. Beckendorf sorriu ao pressionar um botão no seu painel de controle. Cabos de aço foram lançados da frente de seus cavalos mecânicos e se enroscaram na traseira de nossa biga. A carruagem estremeceu quando o sistema de guincho de Beckendorf começou a funcionar – arrastando-nos para trás enquanto Beckendorf era puxado para a frente.
Annabeth praguejou e puxou sua faca. Ela golpeou os cabos, mas eram grossos demais.
– Não consigo cortá-los! – gritou. A carruagem de Hefesto estava agora perigosamente próxima, os cavalos a ponto de nos esmagar com os cascos.
– Troque comigo! – disse a Annabeth. – Pegue as rédeas!
– Mas...
– Confie em mim!
Ela passou para a frente e agarrou as rédeas. Eu me virei, num esforço para manter o equilíbrio, e destampei Contracorrente. Dei um golpe para baixo e os cabos arrebentaram como linha de pipa. Fomos lançados para a frente, mas o auriga de Beckendorf simplesmente deu uma guinada para a esquerda e encostou a biga ao nosso lado. Beckendorf puxou sua espada. Ele desferiu um golpe contra Annabeth, e eu o desviei. Estávamos entrando na última curva. Jamais conseguiríamos. Eu precisava desestabilizar a carruagem de Hefesto e tirá-la do caminho, mas também tinha de proteger Annabeth. Beckendorf era um cara legal, mas isso não significava que ele não iria mandar nós dois para a enfermaria se baixássemos a guarda. Estávamos agora pescoço com pescoço, Clarisse se aproximando atrás, recuperando o tempo perdido.
– Até mais, Percy! – gritou Beckendorf.
– Aí vai um presentinho de despedida!
Ele atirou uma bolsa de couro em nossa biga. Aquilo grudou imediatamente no piso e começou a soltar uma fumaça verde.
– Fogo grego! – gritou Annabeth.
Eu praguejei. Tinha ouvido histórias sobre o que o fogo grego era capaz de fazer. Calculei que teríamos talvez dez segundos antes que aquilo explodisse.
– Livre-se dele! – gritou Annabeth. Mas eu não podia. A carruagem de Hefesto ainda estava ao lado, aguardando até o último segundo para se certificar de que seu presentinho explodiria. Beckendorf me mantinha ocupado com sua espada. Se eu baixasse a guarda por tempo suficiente para lidar com o fogo grego, Annabeth seria fatiada, e nós nos arrebentaríamos de um jeito ou de outro. Tentei chutar a bolsa de couro para longe, mas não consegui. Ela estava bem grudada. Então me lembrei do relógio. Não sabia como aquilo poderia ajudar, mas consegui apertar o botão do cronômetro.
No mesmo instante o relógio se transformou. Expandiu-se, o aro de metal girando para fora como um obturador de máquina fotográfica antiga, e uma correia de couro se enrolou em torno do meu antebraço até que me vi segurando um escudo de guerra redondo com um metro e meio de diâmetro, o lado de dentro de couro macio, o lado de fora de bronze polido, com desenhos gravados que não tive tempo de examinar. Tudo o que sabia era que Tyson se saíra bem. Ergui o escudo e a espada de Beckendorf retiniu contra ele. Sua lâmina se estilhaçou.
– O quê? – gritou ele. – Como...
Ele não teve tempo de dizer mais nada porque eu o atingi no peito com meu novo escudo e o fiz voar da carruagem e rolar pela poeira. Eu estava prestes a usar Contracorrente para golpear o auriga quando Annabeth gritou:
– Percy!
O fogo grego estava soltando fagulhas. Enfiei a ponta da minha espada embaixo da bolsa de couro e a usei como espátula. A bomba incendiaria saiu do lugar e voou para dentro da carruagem de Hefesto, caindo nos pés do auriga. Ele soltou um ganido. Em uma fração de segundo o auriga fez a escolha certa: mergulhou da carruagem, que seguiu em diagonal e explodiu labaredas verdes. Os cavalos de metal pareciam estar em curto-circuito. Contornaram e arrastaram os destroços em chamas na direção de Clarisse e dos irmãos Stoll, que tiveram de se desviar para evitá-los. Annabeth puxou as rédeas para a última curva. Eu me segurei, certo de que iríamos capotar, mas de algum modo ela conseguiu continuar e tocou os cavalos pela linha de chegada. Um clamor se ergueu da multidão. Depois que a carruagem parou, nossos amigos se aglomeraram ao nosso redor. Começaram a entoar nossos nomes, mas Annabeth gritou, por cima do barulho:
– Esperem! Escutem! Não fomos apenas nós!
A multidão não queria silenciar, mas Annabeth se fez ouvir:
– Não teríamos conseguido sem outra pessoa! Não poderíamos ter ganhado esta corrida, nem conseguido o Velocino, nem salvado Grover, nem nada! Devemos nossas vidas a Tyson...
– Meu irmão! – disse eu, bem alto para todos ouvirem. – Tyson, meu irmãozinho mais novo.
Tyson corou. A multidão delirou. Annabeth me tascou um beijo na bochecha. Os gritos ficaram ainda muito mais altos depois disso. Todo o chalé de Atena nos ergueu nos ombros, Annabeth, Tyson e eu – e nos carregou em direção ao pódio dos vencedores, onde Quíron aguardava para entregar as coroas de louros."

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Novo poster de O Mar de Monstros

Finalmente a Intrínseca mandou novidades sobre o novo filme, então, com vcs, o novo poster!





Com estreia no Brasil prevista para 16 de agosto, o filme acompanha Percy (Logan Lerman), jovem semideus, filho do deus grego Poseidon, e seus amigos na busca pelo Velocino de Ouro.
Dirigido por Thor Freudenthal, com roteiro de Scott Alexander, Larry Karaszewski, Marc Guggenheim e Rick Riordan, Percy Jackson e o Mar de Monstros tem a presença de ainda Alexandra Daddario como Annabeth, Jake Abel como Luke, Brandon T. Jackson (Grover), Nathan Fillion (Hermes) e Stanley Tucci (Dionísio), entre outros.

A Corrida de Bigas


Oi semideuses!Eu retirei do livro O Mar de Monstros uma das corridas de Bigas, espero que gostem!!




A manhã da corrida estava quente e úmida. A névoa estava baixa sobre a terra, como vapor de sauna. Milhões de pássaros se empoleiravam nas árvores – gordos pombos cinza e brancos, só que eles não arruinavam como pombos comuns. Soltavam aqueles desagradáveis guinchos metálicos que me lembravam radar de submarino. A pista da corrida fora construída em um campo gramado entre a linha de arco-e-fíecha e os bosques. O chalé de Hefesto usou os touros de bronze, completamente domesticados depois que as cabeças foram esmagadas, para preparar uma pista oval em questão de minutos. Havia fileiras de degraus de pedra para os espectadores – Tântalo, os sátiros, algumas dríades e todos os campistas que não estavam participando. O Sr. D não apareceu. Ele nunca acordava antes das dez horas.
– Certo! – anunciou Tântalo quando as equipes começaram a se reunir. Uma náiade levara para ele um grande prato de doces, e enquanto Tântalo falava, sua mão direita perseguia uma bomba de chocolate pela mesa do juiz. – Vocês todos conhecem as regras. Uma pista de quatrocentos metros. Duas voltas para vencer. Dois cavalos por biga. Cada equipe será composta de um auriga e um lutador. São permitidas armas. Esperem por truques sujos. Mas tentem não matar ninguém! – Tântalo sorriu para nós como se todos fôssemos crianças travessas. – Qualquer morte resultará em punição severa. Sem guloseimas junto à fogueira por uma semana. Agora, preparem suas carruagens!
Beckendorf liderou a equipe de Hefesto até a pista. Eles tinham uma biga toda de bronze e ferro – inclusive os cavalos, que eram autômatos mágicos, como os touros da Cólquida da história dos argonautas. Não tinha dúvidas de que a carruagem deles tinha todos os tipos de armadilhas mecânicas, e itens mais sofisticados que os de uma super Maserati. A biga de Ares era vermelho-sangue, puxada por dois medonhos esqueletos de cavalo. Clarisse embarcou com um feixe de lanças, clavas, bolas de pregos e outros brinquedos detestáveis. A de Apolo era elegante e graciosa, inteiramente dourada, puxada por dois belos cavalos baios. Seu lutador estava armado com um arco, embora tivesse prometido não disparar flechas comuns, com ponta, contra os aurigas oponentes. A de Hermes era verde e tinha aparência de um pouco velha, como se não saísse da garagem havia anos. Não parecia nada especial, mas era conduzida pelos irmãos Stoll, e estremeci só de pensar nos truques sujos que eles haviam armado. Restavam duas carruagens: uma, conduzida por Annabeth, e outra, por mim. Antes do começo da corrida, tentei me aproximar de Annabeth e lhe contar meu sonho. Ela se animou quando mencionei Grover, mas quando mencionei o que ele dissera, ela ficou distante outra vez, desconfiada.
– Você está tentando me distrair – concluiu.
– O quê? Não, não estou!
– Ora! Como se Grover, por mero acaso, tivesse tropeçado na única coisa que poderia salvar o acampamento. 
– O que você quer dizer?
Ela revirou os olhos.
– Volte para sua biga, Percy.
– Eu não estou inventando isso. Ele está em perigo, Annabeth.
Ela hesitou. Pude perceber que tentava decidir se devia ou não confiar em mim. A despeito das brigas ocasionais, passamos por muita coisa juntos, e eu sabia que ela jamais desejaria que algo de ruim acontecesse a Grover.
– Percy, uma conexão empática é muito difícil de ser feita. Quer dizer, é mais provável que você estivesse mesmo sonhando.
– O Oráculo – disse eu. – Podíamos consultar o Oráculo.
Annabeth franziu a testa. No último verão antes de minha missão, eu visitara o estranho espírito que morava no sótão da Casa Grande, e ele me fizera uma profecia que se realizara de um modo que eu jamais imaginaria. A experiência tinha me aterrorizado por meses. Annabeth sabia que eu nunca sugeriria voltar lá se não estivesse falando realmente a sério. Antes que ela pudesse responder, a trombeta de concha soou.
– Aurigas! – bradou Tântalo. – Aos seus lugares!
– Conversamos mais tarde – disse Annabeth. – Depois que eu vencer. Enquanto eu caminhava de volta para a biga, notei que havia mais pombos nas árvores – guinchando como loucos, fazendo a floresta inteira farfalhar. Ninguém mais parecia estar prestando atenção, mas eles me deixavam nervoso. Os bicos cintilavam de modo estranho. Os olhos pareciam mais brilhantes que os de pássaros comuns. Tyson estava tendo problemas em controlar nossos cavalos. Precisei conversar com eles por um bom tempo até se acalmarem.
Ele é um monstro, senhor!, eles se queixaram para mim.
Ele é um filho de Poseidon, disse a eles. Assim como... bem, assim como eu.
Não!
, eles insistiram. Monstro! Comedor de cavalos!Não confiamos!
Eu lhes darei torrões de açúcar no final da corrida
, falei.
Torrões de açúcar?
Torrões de açúcar muito grandes. E maçãs. Eu tinha falado das maçãs?
Por fim, concordaram em deixar que eu os atrelasse. Agora, se você nunca viu uma biga grega, ela é construída para ser veloz, não para conforto e segurança. É basicamente um cesto de madeira, aberto atrás, montado sobre um eixo entre duas rodas. Quem conduz fica em pé o tempo todo, e a gente sente cada solavanco da estrada. É feita com uma madeira tão leve que se você perder o controle nas curvas fechadas em uma extremidade ou outra da pista provavelmente vai capotar, esmigalhando tanto a carruagem como a si mesmo. Tem mais adrenalina que andar de skate.
Segurei as rédeas e manobrei para a linha de partida. Entreguei a Tyson uma vara de três metros e disse a ele que sua função seria empurrar para longe as outras bigas se elas chegassem perto demais, e desviar qualquer coisa que tentassem atirar em nós.
– Sem bater nos pôneis com o pau – insistiu ele.
– Certo – concordei. – Nem nas pessoas, se você puder evitar. Vamos jogar limpo. Apenas afaste as distrações e deixe que eu me concentre em conduzir.
– Vamos vencer! – ele alardeou. A gente ia perder feio, pensei comigo mesmo, mas eutinha de tentar. Queria mostrar aos outros... bem, não sabia o quê, exatamente. Que Tyson não era um cara assim tão mau? Que eu não estava envergonhado de ser visto com ele em público? Que eles não tinham me ofendido com todas as suas piadas e provocações?
Quando as carruagens se alinharam, mais pombos de olhos brilhantes se juntaram nos bosques. Guinchavam tão alto que os campistas na arquibancada estavam começando a reparar, olhando nervosos para as árvores, que tremiam sob o peso dos pássaros. Tântalo não parecia preocupado, mas teve de falar mais alto para ser ouvido.
– Aurigas! – bradou ele. – Tomem suas posições!
Ele ergueu a mão e o sinal de partida desceu. As carruagens dispararam, fazendo barulho. Cascos ressoaram contra o pó. A multidão vibrou. Quase imediatamente se ouviu um alto e desagradável crac! Olhei para trás a tempo de ver a biga de Apolo virar de repente. Hermes colidira com ela – talvez por engano, talvez não. A equipe de Hermes – Travis e Connor – riu da boa sorte, mas não por muito tempo. Os cavalos de Apolo chocaram-se contra os dela, e a biga de Hermes também virou, deixando uma pilha de madeira quebrada e quatro cavalos empinando na poeira. Duas carruagens eliminadas nos primeiros seis metros. Adorei o esporte.
Voltei a prestar atenção à minha frente. Nosso tempo era bom, estávamos na frente de Ares, mas a vantagem da biga de Annabeth era muito grande. Ela já estava contornando a primeira coluna, seu lanceiro com um sorriso arreganhado, acenando para nós e gritando: Até mais! A carruagem de Hefesto também começava a nos alcançar. Beckendorf apertou um botão e um painel se abriu na lateral da carruagem.
– Desculpe-me, Percy! – gritou ele. Três conjuntos de bolas e correntes foram atirados diretamente para nossas rodas. Teriam nos destroçado por completo se Tyson não as tivesse desviado para o lado com um movimento rápido de sua vara. Ele deu um bom empurrão na biga de Hefesto, que saiu deslizando de lado enquanto seguíamos em frente.
– Bom trabalho, Tyson! – gritei.
– Passarinhos! – gritou.
–O quê?
Estávamos em tal disparada que era difícil ouvir ou ver alguma coisa, mas Tyson apontou para os bosques, e vi o que o preocupava. Os pombos tinham saído das árvores. Estavam voando em espiral como um enorme tornado, em direção à pista. E daí, disse para mim mesmo. São apenas pombos. Tentei me concentrar na corrida. Completamos nossa primeira volta, as rodas rangendo embaixo de nós, a biga ameaçando tombar, mas agora estávamos a apenas três metros de Annabeth. Se ao menos pudesse chegar um pouco mais perto, Tyson poderia usar sua vara... O guerreiro de Annabeth não estava mais sorrindo. Puxou um dardo de sua coleção e mirou em mim. Estava prestes a lançá-lo quando ouvimos os gritos.
Os pombos estavam se aglomerando – milhares deles mergulhando sobre os espectadores na arquibancada, atacando as outras bigas. Beckendorf estava cercado. Seu guerreiro tentou espantar os pássaros a pauladas, mas não conseguia enxergar nada. A biga deu uma guinada e saiu rasgando um caminho no meio dos campos de morangos, os cavalos mecânicos soltando vapor. Na carruagem de Ares, Clarisse gritou uma ordem para seu guerreiro, que rapidamente jogou uma tela de camuflagem por cima de seu cesto. Os pássaros enxamearam em volta dela, bicando e arranhando as mãos do guerreiro enquanto ele tentava segurar a rede no alto, mas Clarisse apenas trincou os dentes e continuou guiando. Seus cavalos esqueléticos pareciam imunes à distração. Os pombos bicavam inutilmente as órbitas vazias e voavam por entre suas costelas, mas os corcéis continuavam correndo. Os espectadores não tiveram tanta sorte. Os pássaros atacavam qualquer pedaço de carne exposta, levando todos ao pânico. Agora que os pássaros estavam mais perto, ficou claro que não eram pombos normais. Seus olhos eram pequenos, brilhantes e perversos. Os bicos eram de bronze e, a julgar pelos gritos dos campistas, deviam ser afiados como navalhas.
– Pássaros de Estinfália! – gritou Annabeth.
Ela reduziu a velocidade e emparelhou sua biga com a minha.
– Vão descarnar todo o mundo até os ossos se não os espantarmos!
– Tyson – disse eu – meia-volta!
– Pegamos o caminho errado? – perguntou ele.
– Sempre – resmunguei, mas manobrei a biga na direção da arquibancada. Annabeth seguia bem ao meu lado. Ela gritou:
– Heróis, às armas!
Mas eu não tinha certeza se alguém poderia ouvi-la, com os guinchos dos pássaros e todo aquele caos. Segurei as rédeas com uma das mãos e consegui empunhar Contracorrente, enquanto uma onda de pássaros mergulhava sobre meu rosto, os bicos metálicos batendo. Golpeei-os no ar, e eles explodiram em pó e penas, mas ainda restavam milhões deles. Um me pegou no traseiro, e quase pulei para fora da biga. 
Annabeth não estava com muito mais sorte. Quanto mais perto chegávamos da arquibancada, mais compacta ficava a nuvem de pássaros. 
Alguns dos espectadores tentavam se defender. Os campistas de Atena gritavam por escudos. Os arqueiros do chalé de Apolo carregaram seus arcos e flechas, prontos para exterminar a ameaça, mas com tantos campistas misturados com os pássaros não era seguro disparar.
– São pássaros demais! – gritei para Annabeth. – Como a gente se livra deles? Ela golpeou um pombo com a faca.
– Hércules usou barulho! Címbalos de bronze! Ele os espantou com o som mais horrível que conseguiu... – Os olhos dela se arregalaram. – Percy... A coleção de Quíron!
Entendi imediatamente.
– Acha que vai funcionar? – Ela entregou as rédeas ao guerreiro e pulou de sua biga para a minha como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
– Para a Casa Grande! É nossa única chance!
Clarisse acabara de cruzar a linha de chegada, sem adversários, e parecia só então ter notado como era sério o problema dos pássaros. Quando viu que nos afastávamos, gritou:
– Vocês estão fugindo? A luta é aqui, seus covardes!
Ela puxou a espada e investiu para a arquibancada. Fiz os cavalos galoparem. A biga passou com barulho pelos campos de morangos, atravessou a quadra de vôlei e parou bruscamente na frente da Casa Grande. Annabeth e eu corremos para dentro, disparando pelo corredor até o alojamento de Quíron. O aparelho de som ainda estava na mesa de cabeceira, e também seus CDs favoritos. Agarrei o mais repulsivo que pude encontrar, Annabeth agarrou o aparelho e corremos juntos de volta para fora. Na pista, as carruagens estavam em chamas. Campistas feridos corriam em todas as direções, com pássaros dilacerando-lhes as roupas e arrancando-lhes os cabelos, enquanto Tântalo perseguia doces do café da manhã em volta da arquibancada, gritando de vez em quando:
– Está tudo sob controle! Não se preocupem! Paramos a carruagem na linha de chegada. Annabeth preparou o som. Rezei para as pilhas não estarem fracas. Apertei o PLAY, e o favorito de Quíron começou a tocar – Os maiores sucessos de Dean Martin. De repente o ar se encheu com o som violinos e de um bando de caras resmungando em italiano. Os pombos demoníacos enlouqueceram. Começaram a voar círculos, colidindo uns com os outros como se quisessem explodir seus miolos. Depois, abandonaram de vez a pista e voaram para o céu em uma enorme onda escura.
– Agora! – bradou Annabeth. – Arqueiros!
Sem obstrução, a mira dos arqueiros de Apolo era infalível. A maioria conseguia disparar cinco ou seis flechas de uma vez. Em minutos, o chão estava coalhado de pombos de bico de bronze mortos, e os sobreviventes eram um distante rasto de fumaça no horizonte. O acampamento estava a salvo, mas a devastação não era bonita de ver. A maioria das bigas tinha sido completamente destruída. Quase todos estavam feridos, sangrando com bicadas múltiplas dos pássaros. As meninas do chalé de Afrodite gritavam porque seus penteados tinham sido arruinados e suas roupas estavam sujas de cocô de pombo.
– Bravo! – disse Tântalo, mas não estava olhando para mim ou para Annabeth. – Temos nossa primeira vencedora! – Ele foi até a linha de chegada e premiou com os louros dourados uma Clarisse perplexa. Ele então se virou e sorriu para mim. – E, agora, a punição para os desordeiros que tumultuaram a corrida.


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terça-feira, 18 de junho de 2013

A Casa de Hal

Oi meio sangues!!Bem, como nem a  Editora Intrínseca nem o Tio Rick tem mandado novas, então vejamos Os Perigos da Casa de Hal, ok?Espero que gostem e beijinhos.


Os perigos da casa de Hal

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Semideuses Gregos

oi semideuses!Aqui tem uma lista de vários semideuses heróis(nãos sao os do tio Rick) gregos.Espero que gostem!


Héracles - ou Hércules, autor dos famosos Doze Trabalhos; era filho de Zeus e da moratal Alcmena.
Édipo - que matou a esfinge e casou-se com sua própria mãe.
Perseu - que matou a Medusa, uma das Górgonas, e libertou a princesa Andrômeda da serpente marinha.
Cadmo - que matou um dragão e no local fundou a cidade de Tebas.
Europa - irmã de Cadmo, foi amada por Zeus que lhe apareceu sob a forma de um touro e, em suas costas, atravessou o mar.
Jasão - chefe dos Argonautas, equipe de heróis - Héracles, Orfeu, Castor e Pólux, e outros - que navegou no navio "Argos" em busca do Velocino de Ouro.
Teseu - que penetrou o labirinto de Creta e matou o Minotauro, acabando por unificar a Ática.
Atalanta - mulher aventurosa que se casou com o ardiloso Hipomenes.
Belerofonte - que matou o monstro Quimera e domou o cavalo alado, Pégaso.
Os heróis de Tróia -Aquiles, Heitor, Ájax, Agaménon, Ulisses - autor da idéia do cavalo de Tróia - e outros.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Filho da Magia

Oi semideuses!Como tem passado?Então, como muuita gente ainda não leu Os Diários do Semideus, eu estou retirando um capítulo de cada vez e postando aqui no blog.Este cap. é o filho da magia, escrito pelo filho do nosso querido Tio Rick. Espero que gostem!! 

                                               O  FILHO DA MAGIA

― Normalmente eu encorajo as pessoas a me fazerem perguntas quando termino, mas dessa vez eu tenho uma questão que gostaria de perguntar a todos vocês em vez disso. ―Ele deu um passo para trás, tentando fazer contato visual com cada uma das pessoas presentes na plateia. ― Quando vocês morrerem, o que vai acontecer? A pergunta parece bem infantil, não é mesmo? Mas algum de vocês sabe a resposta?
Houve silêncio, exatamente como deveria ser...
Dr. Claymore não esperava que alguém respondesse a pergunta depois do discurso que ele tinha feito. Ele não achava que alguém sequer ousaria tentar.
Mas como sempre, alguém frustrou suas expectativas.
Desta vez foi um garoto de cabelos castanhos, com um rosto cheio de sardas sentado na parte da frente do auditório. Claymore o reconheceu – era o mesmo garoto que correu em direção a ele no estacionamento, dizendo o quanto ele era seu fã e como ele tinha lido todos os seus livros...
― Sim? ― Dr. Claymore perguntou. ― Você acha que sabe? Então por favor, nós todos estamos morrendo de vontade de lhe ouvir.
O garoto que tinha sido tão enérgico antes, agora parecia que tinha engolido a língua. Claymore sabia que isso era cruel fazer esta inocente criança passar vergonha. Mas ele também sabia que era necessário.
Claymore era exatamente como um ator, atuando para seus expectadores como qualquer mágico faria durante um espetáculo de mágica. E esse garoto tinha acabado de se voluntariar para fazer parte da sua apresentação.
Naquele momento, toda a plateia estava encarando o menino. O homem sentado ao seu lado – o pai do garoto, Claymore supôs – mudava de posição desconfortavelmente em seu assento.
Com tanta atenção direcionada a ele, Claymore duvidava que o menino sequer tivesse forças para respirar. Ele parecia tão frágil – magricela e esquisito, provavelmente alvo de piadas na escola. Mas então o aparentemente garoto fraquinho fez algo surpreendente. Ele se levantou e encontrou sua voz.
― Nós não sabemos ― o garoto disse. Todo o seu corpo estava tremendo, mas ele encontrou o olhar fixo de Claymore. ― Você critica cada ideia que as pessoas têm acerca da vida após a morte. Depois de toda a sua pesquisa, por que está nos pedindo uma resposta? Você não pode achar uma por si próprio?
Claymore não respondeu de imediato. Se o garoto tivesse dito "paraíso" ou "reencarnação", ele teria rebatido como um chicote, mas esses comentários eram diferentes. Ele tinha feito sua apresentação chegar ao fim abruptamente. A plateia virou os olhos para ele com um olhar censurador, como se eles achassem mais fácil manter-se fiéis às palavras simplistas do garoto do que ao trabalho da vida de Claymore.
Porém como qualquer bom mágico, Claymore tinha um plano reserva. Ele não deixou que passassem mais que 5 segundos. Mais tempo, e ele pareceria nervoso. Menos tempo, e pareceria que ele estava atacando o garoto. Depois da pausa apropriada, ele deu sua réplica ensaiada.
― Eu estou lhes pedindo uma resposta porque eu ainda estou procurando por uma resposta por mim mesmo ― ele disse, agarrando-se ao palanque. ― E às vezes, as verdades mais complicadas vem dos lugares mais simples. Quando eu estiver no meu leito de morte, vou querer saber com certeza absoluta o que está por vir. Eu tenho certeza que cada um de vocês se sente da mesma forma.
A plateia aplaudiu. Claymore esperou para que pudesse terminar.
― Meu novo livro, Estrada Para a Morte, estará nas lojas em breve ― ele concluiu. ― Se quiserem saber mais, eu ficaria honrado se vocês o lessem. E agora eu os desejo boa noite. Espero que todos vocês achem as respostas que procuram.
Algumas pessoas da plateia o ovacionaram de pé. Claymore deu um último sorriso antes de se encaminhar para os bastidores. Mas uma vez longe dos olhos do público, ele fez uma careta.
Isto era o que sua vida veio a ser – sempre desfilando de um evento a outro como um animal de circo. Ele era um visionário, mas ao mesmo tempo, uma piada. Talvez uma dúzia de pessoas na plateia, mesmo que remotamente, tenham entendido seu trabalho. E menos ainda tinham o aceitado.
A ignorância absoluta de seus fãs o aborrecia.
― Sr. Claymore! ― sua anfitriã correu pelos bastidores, e Claymore transformou sua carranca em um sorriso. Era ela quem estava pagando seu cachê, afinal de contas.
― Você foi um sucesso, Sr. Claymore! ― ela disse, quase pulando fora de seus saltos altos.― Nós nunca tivemos essa multidão!
A mulher voltou a se equilibrar em seus pés, e Claymore estava surpreso por ela não ter quebrado seus saltos com seu peso. Isso era provavelmente um pensamento mal educado, mas essa mulher tinha quase a mesma altura que ele, e Claymore era considerado uma pessoa alta. A melhor maneira de descrevê-la seria como uma avó estereotipada, do tipo que assa biscoitos e tricota suéteres. Ela era maior que a maioria das avós, de qualquer forma. E seu entusiasmo era ávido, quase como se estivesse faminta. Faminta pelo o quê? Ele se perguntou. Claymore concluiu que por mais biscoitos.
― Obrigado ― respondeu, rangendo os dentes. ― Mas é Doutor Claymore, na verdade.
― Bem, você foi incrível! ― ela disse, sorrindo de orelha a orelha. ― Você foi o primeiro autor a lotar nosso auditório!
Mas é claro que eu lotaria o auditório numa cidade minúscula como essa, Claymore pensou. Mais de um crítico o tinha chamado de a mente mais brilhante desde Stephen Hawking. Mesmo quando criança, ele costumava usar sua lábia para fazer com que parecesse ser pouco menos que um deus para seus colegas e professores. Agora ele mirava políticos, cientistas e personalidades do tipo.
― Eu prego a verdade, e as pessoas anseiam pela verdade sobre a morte ― ele disse, citando seu novo livro.
A mulher pareceu um pouco fascinada e sem dúvida permaneceria elogiando-o por horas, mas ela precisava continuar seu trabalho; então Claymore aproveitou a oportunidade para fazer sua saída.
― Eu preciso me retirar para minha casa agora, Sra. Lamia. Tenha uma boa noite.
Com essas palavras, ele saiu do edifício e adentrou o ar fresco da noite.
Ele nunca teria concordado em discursar no meio do nada, em Keeseville, Nova York, se não tivesse uma casa aqui. O auditório gigante se estendia como um polegar inchado nessa cidadezinha singular para onde ele se mudou para prosseguir com sua escrita em paz.
Com sua população que dificilmente passava de dois mil habitantes, Claymore achava que a grande multidão de hoje a noite devia ter vindo do resto do estado. Ele era um evento especial, era um uma-vez-na-vida. Mas para Claymore aquilo tinha sido só mais um trabalho suplementar, algo que seus publicitários tinham exigido. Só mais um dia de trabalho.
― Dr. Claymore, espere! ― uma voz chamou atrás dele, mas ele a ignorou.
Se não era seu patrocinador, ele não precisava responder. Não havia motivo... o evento tinha acabado. Mas então alguém agarrou seu braço.
Ele se virou e olhou. Era aquele garoto, o mesmo que tinha tentando fazê-lo passar vergonha.
― Dr. Claymore! ― o garoto falou, ofegando. ― Espere. Eu preciso lhe perguntar uma coisa.
Claymore abriu a boca para censurar o menino, mas então parou.
O pai do garoto estava poucos passos atrás dele. Pelo menos, Claymore achava que era o pai. Eles tinham o mesmo cabelo castanho e físico magro.
Ele achava que o homem deveria repreender seu filho por ser tão insolente, mas o pai apenas encarava Claymore sem expressão.
― Por que... olá ― Claymore disse, forçando um sorriso em direção ao pai. ― É seu filho?
― Ele só tem uma pergunta rápida para você ― o pai disse distraidamente.
Claymore relutantemente virou seu olhar para o garoto, que, ao contrário de seu pai, tinha olhos que queimavam com uma determinação ardente.
― Suponho que seja minha culpa ― Claymore disse o mais civilizadamente possível. ― Eu deveria ter concedido a você mais tempo para conversar no fim do meu discurso.
― É algo importante ― o garoto disse. ― Então, por favor, leve isso a sério mesmo que soe estranho, ok?
Claymore resistiu a urgência de ir embora. Ele não gostava de pessoas indulgentes, mas sua imagem pública era importante para a venda dos seus livros. Ele não podia ter o idiota do pai desse garoto dizendo ao mundo que eles tinham sido cruelmente ignorados.
― Pergunte ― Claymore respondeu. ― Sou todo ouvidos.
O garoto se endireitou. Apesar de ser fino como um galho, ele ficou quase tão alto quanto Claymore.
― O que acontece se alguém acha uma forma de parar a morte?
Claymore podia sentir seu sangue esfriar com a mudança de voz do garoto. A voz já não era mais nervosa. Era tão pesada e fria como uma pedra.
― Isso seria impossível ― Claymore falou. ― Todas as coisas vivas deterioram ao longo do tempo. Há um certo ponto em que nós nos tornamos incapazes de funcionar. Isso é...
― Você não respondeu minha pergunta ― o garoto o interrompeu. ― Por favor, me dê sua opinião honesta.
― Eu não tenho uma ― Claymore retrucou. ― Eu não sou um escritor de ficção. Não me entrego a impossibilidades.
O garoto franziu o cenho.
― Isso é bem ruim. Pai, o papel?
O homem tirou um pedaço de papel do bolso e o entregou a Claymore.
― É nosso contato ― o garoto explicou. ― Se você descobrir a resposta, me ligue, está bem?
Claymore o encarou, tentando não deixar sua confusão transparecer.
― Você me entendeu, não entendeu? Eu não posso responder a sua pergunta.
O garoto olhou para ele com olhos solenes.
― Por favor, tente, Dr. Claymore. Porque se você não conseguir, eu morrerei.

***

No caminho para casa, Claymore se manteve olhando para seu espelho retrovisor. Realmente, ele era patético. O garoto tinha apenas tentado enervá-lo. Ele não podia se deixar aborrecer por algo como aquilo.
No momento em que ele chegou à entrada da garagem, sentiu como se tivesse superado tudo aquilo. Mas ainda se pegou ajustando o alarme da casa.
Claymore vivia sozinho em sua casa projetada por ele mesmo. Entre seus vários talentos, ele era um arquiteto, e queria que sua casa o espelhasse em todos os aspectos. Impressionantemente moderna com linhas claras, criada bem atrás da estrada. Suas câmeras de segurança e janelas gradeadas protegiam sua privacidade, mas por dentro, os cômodos eram decorados de forma simples, tranquila e confortável.
Sem esposa, sem crianças – não havia ninguém na casa para perturbá-lo. Nem mesmo um gato. Especialmente nem mesmo um gato.
Sua casa era seu oásis e seu oásis solitário. Estar ali sempre acalmava seus nervos desgastados.
Sim, sua linda casa o ajudava a tirar o garoto da cabeça. Mas não demorou muito para que ele se encontrasse sentado à mesa, lendo o cartão que o pai deu a ele.

ALABASTER C. TORRINGTON
273 MORROW LANE
518-555-9530

O código de área 518 significada que eles deviam morar em Keeseville. E Claymore se recordava de um Morrow Lane do outro lado da cidade.
Alabaster Torrington era o garoto, ou o pai? Alabaster era um nome antigo. Ele não o ouvia frequentemente, porque a maioria dos pais tinha o senso de não nomear seus filhos enquanto bêbados.
Claymore sacudiu sua cabeça. Ele deveria jogar o cartão fora e esquecê-lo. Cenas deMisery de Stephen King estavam presas em sua cabeça. Mas era para isso que servia o sistema de alarme, ele disse a si mesmo; manter os fãs assustadores longe. Se no mínimo alguém batesse a porta no meio da noite, a polícia seria enviada imediatamente.
E Claymore não estava indefeso. Ele tinha uma coleção respeitosa de armas de fogo escondidas em vários lugares pela casa. Não era possível ser mais cuidadoso.
Ele suspirou, jogando o pedaço de papel na mesa com o resto de seus recados. Não era comum para ele encontrar pessoas esquisitas nos eventos. Não obstante, para cada pessoa semi-inteligente que comprava seus livros, havia pelo menos três outras que os tinha apanhado achando que eram guias de dieta.
Tudo o que importava era o fato de que Claymore não estava sozinho em um beco escuro com aquelas pessoas. Ele estava em segurança, estava em casa, e não havia melhor lugar para se estar.
Ele sorriu pra si mesmo, se recostando em sua cadeira de trabalho.
― Ok, tudo certo, nada com o que se preocupar ― ele disse a si mesmo. ― Só mais um dia de trabalho.
Foi então que o telefone tocou, e o sorriso de Claymore se desmanchou.
O que alguém queria a essa hora? Eram quase onze da noite. Qualquer um que fosse sensato estaria ou dormindo ou enrolado com um bom livro.
Ele pensou em não atender, mas seu telefone não parava de tocar – o que era bastante estranho, considerando que sua secretária eletrônica era acionada após o quarto toque. Eventualmente, a curiosidade o venceu.
Ele se levantou e caminhou até a sala. Em nome da simplicidade, ele tinha colocado apenas um telefone fixo na casa. No identificador de chamadas lia-se MARIAN LAMIA, 518-555-4164.
Lamia... era a mulher que reservou o evento.
Ele franziu a testa e relutantemente tirou o fone do gancho enquanto se sentava em seu sofá.
― Sim, alô, Claymore falando.
Ele não se esforçou em disfarçar o aborrecimento em sua voz. Essa era sua cara, e forçá-lo a atender um telefonema não era melhor que invadi-la em pessoa. Ele esperava que Lamia tivesse um bom motivo.
― Sr. Claymore! ― Ela disse seu nome como se estivesse anunciando que ele tinha ganhado na loteria. ― Olá, olá, olá! Como você está?
― Você sabe que horas são, Sra. Lamia? ― Claymore perguntou na voz mais áspera possível. ― Você tem algo importante para me dizer?
― Sim, eu tenho! Na verdade, eu tenho que falar sobre isso com você imediatamente!
Ele suspirou. Essa pessoa o fez ir de levemente irritado para claramente enfurecido em um total de trinta segundos.
― Bem, então, não fique dando voltas falando sobre inutilidades ― ele rosnou. ― Diga logo! Eu sou um homem ocupado e não tenho amabilidade para ser perturbado.
A linha ficou em silêncio. Claymore estava quase convencido de que ele tinha a assustado. Mas finalmente ela prosseguiu numa voz muito mais fria.
― Muito bem, Sr. Claymore. Não temos que passar pelas gentilezas, se é isso que você deseja.
Ele quase riu. Parecia que essa mulher estava abertamente tentando ser intimidante.
― Obrigado ― Claymore respondeu. ― O que exatamente você quer?
― Você conheceu um menino essa noite, e ele lhe deu uma coisa ― Lamia disse. ― Eu quero que você entregue isso a mim.
Ele franziu o cenho. Como ela sabia sobre o garoto? Ela o estava espionando?
― Eu não gosto da ideia de você me seguindo, mas acho que isso pouco importa agora. Tudo que o menino me deu foi um pedaço de papel com seu endereço nele. Eu não me sentiria confortável dando isso a você, alguém que eu conheci ontem.
Houve outra pausa. Assim que Claymore estava para desligar o telefone, a mulher perguntou:
― Você acredita em Deus, Sr. Claymore?
Ele rolou os olhos, aborrecido com a mulher.
― Você não sabe quando parar, sabe? Eu não acredito em coisa alguma que eu não possa ver ou sentir por mim mesmo. Então se estiver me perguntando em um contexto religioso, a resposta é não.
― Que pena ― ela disse, sua voz era quase um sussurro. ― Isso torna meu trabalho mais difícil.
Claymore bateu o telefone no gancho.
Qual era o problema dessa mulher? Ela tinha começado a conversa praticamente dizendo, "Eu estive perseguindo você," e depois tentou convertê-lo. Coisas demais sendo ela uma avó agradável.
O telefone tocou de novo – Lamia novamente – mas Claymore não tinha absolutamente nenhum intuito em atendê-lo. Ele desconectou seu telefone, e aquilo foi o fim disso.
No dia seguinte, talvez, ele registraria uma ocorrência policial. Claramente a Sra. Lamia era demente. Por que diabos ela queria o endereço do garoto? O que Lamia queria com ele?
Claymore estremeceu. Ele sentiu uma estranha urgência em alertar o menino. Mas não, isso não era problema seu. Ele simplesmente deixaria os psicopatas se resolverem sozinhos, se era o que queriam. Ele não iria entrar no meio do fogo cruzado.
Especialmente hoje à noite. Nessa noite, ele precisava dormir.

***

Claymore sabia que aquela curiosidade e agitação poderiam bagunçar os sonhos de uma pessoa. Mas isso não explicava aquele sonho.
Ele se viu em uma sala ampla, velha e poeirenta. Se parecia com uma igreja que não era limpa há séculos. Não havia nenhuma luz exceto por um leve brilho verde na parte mais distante da sala. A fonte de luz era obscurecida por um garoto que permanecia no corredor exatamente à sua frente. Embora Claymore não conseguisse ver claramente, ele tinha certeza que era o mesmo menino do auditório. O que ele estava fazendo no sonho de Claymore?
Claymore era o que as pessoas chamavam de sonhador lúcido, alguém que normalmente sabia quando estava sonhando e podia acordar se quisesse. Ele podia acordar agora se desejasse, mas decidiu não fazê-lo por enquanto. Ele estava curioso.
― Ela me achou de novo ― o garoto disse.
Ele não estava falando com Claymore. Ele estava de costas, e parecia estar conversando com a luz verde.
― Eu não sei se consigo derrotá-la dessa vez. Ela está se aproximando pelo meu cheiro.
Por um momento não houve nenhuma resposta. Então, finalmente, uma mulher falou sua voz vinda da parte da frente da sala. Seu tom era firme e sem humor, e algo sobre isso provocou calafrios na espinha de Claymore.
― Você sabe que não posso ajudá-lo, meu filho ― ela disse. ― Ela é minha filha. Eu não posso levantar minha mão contra nenhum dos dois.
O garoto ficou tenso como se estivesse pronto para argumentar, mas ele se deteve.
― Eu... Eu entendo, mãe.
― Alabaster, você sabe que eu te amo ― a mulher disse. ― Mas essa é uma batalha que você trouxe a si mesmo. Você aceitou a benção de Cronos. Lutou junto com seu exército em meu nome. Você não pode simplesmente virar para seus inimigos agora e implorar por perdão. Eles nunca ajudarão você. Eu tive que barganhar para manter você a salvo até então, mas não posso interferir na sua luta com ela.
Claymore franziu a testa. O nome Cronos se referia ao lorde Titã da mitologia grega, filho da terra e dos céus, mas o resto não fazia sentido algum. Claymore esperou obter alguma introspecção deste sonho, mas agora parecia besteira – mais mitologia e lendas. Isso não era nada além de ficção inútil.
O garoto, Alabaster, caminhou em direção à luz verde.
― Cronos não deveria ter perdido! Você disse que as chances de vitória estavam a favor dos Titãs! Você me disse que o Acampamento Meio-Sangue seria destruído!
Quando o garoto se moveu, Claymore pode finalmente ver a mulher com quem ele estava falando. Ela estava ajoelhada no fim do corredor, seu rosto levantado como se em oração para uma janela de vitral suja acima do altar. Ela vestia uma túnica branca ornamentada com desenhos prateados, como runas ou símbolos de alquimia. Seu cabelo escuro mal dava abaixo de seus ombros.
Apesar da sujeira e da poeira ela estava ajoelhada no meio disso, a mulher parecia impecável. Na verdade, ela era a fonte da luz. O brilho verde a cercava como uma aura.
Ela falou sem olhar para o garoto.
― Alabaster, eu simplesmente disse a você o resultado mais provável. Eu não prometi que isso iria ocorrer. Apenas queria que você enxergasse as possibilidades, então estaria preparado para o que viesse.
― Certo ― Claymore finalmente respondeu. ― Eu já tive o bastante. Essa história ridícula termina agora!
Ele esperava saltar acordado. Mas por alguma razão, ele não acordou.
O garoto girou e o examinou com espanto.
― Você? ― Ele se virou de volta para a mulher ajoelhada. ― Por que ele está aqui? Não é permitido que um mortal entre na casa de um deus!
― Ele está aqui porque eu o convidei a entrar ― a mulher replicou. ― Você pediu sua ajuda, não foi? Eu esperava que ele fosse mais solicito se entendesse sua...
― Basta! ― Claymore gritou. ― Isso é um absurdo! Isso não é a realidade! Isso é meramente um sonho, e como seu criador, eu exijo acordar!
A mulher continuou não olhando para ele, mas sua voz soou divertida.
― Muito bem, Dr. Claymore. Se é isso o que quer, eu farei então.

***

Claymore abriu seus olhos. A luz do sol fluía através da janela do seu quarto.
Estranho... Normalmente quando ele escolhia terminar um sonho, ele acordava imediatamente, durante a calada da noite. Por que já era manhã?
Bem, aquele sonho tinha feito o garoto de ontem parecer muito menos intimidante. Benção se Cronos? A casa de um deus? Alabaster parecia mais um membro de RPG do que um psicopata maluco. Titãs? Claymore lutou contra uma risada. Quantos anos ele tinha, cinco?
Claymore se sentia aliviado e revigorado. Estava na hora de começar sua rotina matinal.
Ele se livrou das roupas de dormir, tomou um banho e vestiu seus trajes regulares – o mesmo estilo de roupas que ele tinha usado no seu discurso da noite anterior: calça, camisa e mocassins lustrados marrons. Claymore não acreditava em situações caracterizadas por roupas desnecessariamente informais.
Ele vestiu seu casaco de lã e começou a reunir seus pertences.
Laptop: checado. Carteira: checado. Chaves: checado.
Então ele hesitou. Havia mais uma coisa da qual ele precisava. Era uma precaução completamente desnecessária, mas o deixaria com a mente tranquila. Ele abriu sua gaveta da mesa, apanhou seu revólver – uma nove milímetros – e a guardou dentro do bolso do casaco.
Na noite passada, o garoto Alabaster tinha mexido com sua cabeça. Tanto que Claymore tinha ido para a cama sem escrever qualquer coisa, que era algo que ele não poderia se permitir no momento, com seu prazo tão perto de acabar. Ele não poderia permitir que nenhum fã enlouquecido afetasse seu estado de espirito e produção. Se isso significava que ele teria que carregar sua arma por todo lado, então ele iria carregá-la.

***

Black's Coffee. Era um nome com um trocadilho da pior espécie, mas Claymore retornava dia após dia. Afinal, era a melhor cafeteria em Keeseville. Novamente, era a únicacafeteria em Keeseville...
Ele tinha chegado a conhecer bem o proprietário. Tão logo ele entrava, Burly Black era o primeiro a cumprimentá-lo com “Howard! Como você está? O de sempre?”
Burly era... bem, corpulento. Sua cara carnuda, braços maciços tatuados, e sua carranca permanente teria lhe rendido a entrada em qualquer gangue de motoqueiros. Seu aventalBeije o Cozinheiro era a única coisa que o fazia parecer que deveria ficar atrás do balcão.
― Bom dia ― Claymore respondeu, pegando um lugar no canto e retirando seu laptop. ―Sim, o de sempre seria bom.
Ele estava no capítulo quarenta e seis nesse momento, o que tornava seu trabalho mais fácil. Nada mais de enrolação com os leitores. Se eles não tivessem entendido o propósito até esse momento, nunca entenderiam.
Café e pastel de blueberry apareceram a sua frente, mas Claymore mal os notou. Ele estava em seu próprio mundo, dedos se alastrando sobre o teclado, palavras e pensamentos vindo juntos em um padrão aparentemente irreconhecível, mas Claymore sabia que era um gênio.
O café foi drenado lentamente. O pastel foi reduzido a poucas migalhas. Outros fregueses iam e vinham, mas nenhum deles perturbou Claymore. Nada importava exceto seu trabalho. Era por aquilo que ele vivia.
Mas então seu mundo privado se estilhaçou quando uma mulher se sentou perto dele.
― Claymore, que surpresa! Eu não esperava vê-lo aqui!
Ódio brotou dentro dele. Ele apertou Ctrl+S e fechou seu laptop.
― Sra. Lamia, se eu não fosse um homem civilizado, puxaria essa cadeira debaixo de você.
Ela fez beicinho, dando a ele um olhar de cachorrinho sem dono, que não era convincente em uma mulher da sua idade.
― Isso não é muito legal, Sr. Claymore. Eu estou apenas dando um alô.
Ele olhou para ela.
― É Doutor Claymore.
― Desculpe-me ― ela disse indiferente. ― Eu sempre esqueço... eu não sou muito boa com nomes, como pode ver.
― A única coisa que quero de você é que suma da minha frente. Eu me recuso a ser convertido a qualquer que seja o culto ao qual você pertence.
― Eu só quero conversar ― ela insistiu. ― Não é sobre deuses. É sobre o garoto, Alabaster.
Ele olhou pra ela desconfiado. Como ela sabia o nome do garoto? Claymore não tinha mencionado em sua conversa na noite passada.
Sra. Lamia sorriu.
― Eu tenho procurado por Alabaster por algum tempo. Eu sou sua irmã.
Claymore riu.
― Você não pode arrumar uma mentira melhor que essa? Você é mais velha que o pai do garoto!
― Bem, as aparências enganam. ― Seus olhos pareciam anormalmente brilhantes, luminosamente verdes, como a luz do sonho de Claymore. ― O garoto tem se ocultado muito bem ― ela continuou. ― Devo admitir que ele está ainda melhor em sua magia occultandi. Eu esperava que seu discurso o faria se revelar, e isso aconteceu. Mas antes que eu pudesse pegá-lo, ele conseguiu escapar. Me dê seu endereço, e eu deixarei você em paz.
Claymore tentou manter a calma. Ela era apenas uma mulher velha e louca, divagando sem sentido. Apesar de magia occultandi... Claymore sabia latim. Isso significadaencantamento de ocultação. Quem diabos era essa mulher, e por que ela queria o garoto? Estava claro que ela queria fazer mal a Alabaster.
Enquanto Claymore a encarava, ele percebeu outra coisa... Sra. Lamia não estava piscando. Ele já tinha a visto piscar alguma vez?
― Você sabe o que é? Eu estou cansado disso ― a voz de Claymore tremia de ódio. ―Black, você está me ouvindo?
Ele olhou para Burly por cima do balcão. Por alguma razão, Burly não estava respondendo. Ele continuava polindo as canecas de café.
― Ah, ele não consegue te ouvir. ― A voz de Lamia se transformou no mesmo sussurro rouco que ele tinha ouvido na noite passada ao telefone. ― Nós podemos controlar a Névoa a vontade. Ele nem mesmo faz ideia de que estou aqui.
― Névoa? ― Claymore perguntou. ― Sobre o que diabos você está falando? Você deve ser verdadeiramente maluca1
Ele se levantou, instintivamente recuando, colocando sua mão no bolso do casaco.
― Burly, por favor, expulse essa mulher daqui antes que ela estrague completamente minha manhã!
Burly continuou sem responder. O grandalhão olhou para a direita através de Claymore como se ele não estivesse lá.
Lamia deu um sorriso convencido.
― Sabe, Sr. Claymore, eu não acho que já tenha alguma vez encontrado um mortal tão arrogante desse jeito antes. Talvez você precise de uma demonstração.
― Você não entende, Sra. Lamia? Eu não tenho tempo pra isso! Eu vou me retirar agora, e quanto à...
Ele não teve tempo de terminar. Lamia se levantou e sua forma começou a brilhar. Seus olhos foram os primeiros a mudar. Suas íris se expandiram, brilhando em verde escuro. Suas pupilas se estreitaram até virarem fendas ofídicas. Ela estendeu uma mão e imediatamente seus dedos murcharam e endureceram, e suas unhas se transformaram em garras de lagarto.
― Eu posso matar você agora mesmo, Sr. Claymore ― ela sussurrou.
Espere... Não, isso não era um sussurro. Soava mais como um silvo.
Claymore sacou sua arma do seu casaco e o apontou para a cabeça de Lamia. Ele não estava entendendo o que estava acontecendo – algum tipo de alucinógeno em seu café, talvez. Mas ele não podia deixar essa mulher – essa criatura – levar a melhor em cima dele.
Aquelas garras podiam ser uma ilusão, mas ela ainda estava se preparando para atacá-lo.
― Você realmente pensa que eu agiria tão pretensiosamente em torno de uma lunática se eu não estivesse preparado para me defender? ― ele perguntou.
Ela rosnou e avançou, levantando suas garras.
Claymore nunca tinha atirado em alguma coisa antes, mas seus instintos tomaram de conta. Ele puxou o gatilho. Lamia cambaleou, silvando.
― A vida é uma coisa frágil ― ele disse. ― Talvez você devesse ler um dos meus livros! Estou apenas agindo em legitima defesa!
Ela investiu novamente. Claymore atirou mais duas vezes na cabeça da mulher, e ela desabou no chão.
Ele esperava que tivesse mais sangue... mas isso não importava.
― Você... você viu isso, Burly, não viu? ― ele exigiu. ― Não há forma de socorrê-la!
Ele se virou para Black, e depois franziu o cenho. Burly estava ainda polindo as canecas de café.
Não tinha jeito de Burly não ter escutado os tiros. Como era possível? Como? E em seguida, uma outra impossibilidade aconteceu. O cadáver abaixo dele começou a se mover.
― Eu espero que entenda agora, Sr. Claymore.
Lamia se levantou e o encarou com seu olho de serpente remanescente. Toda a parte esquerda de seu rosto tinha sido estourada, mas onde deveria ter sangue e ossos tinha uma espessa camada de areia preta.
Parecia mais que Claymore tinha destruído parte de um castelo de areia... e mesmo assim essa parte estava se reformando lentamente.
― Por me atacar com sua arma mortal ― ela silvou ― você declarou guerra a uma filha de Hécate! E eu não entro em uma guerra de ânimo leve!
Isso... isso não era um sonho, ou indução por drogas ou qualquer outra coisa. Isso era impossível... Como podia ser real? Como ela permanecia viva?
Foco! Claymore disse a si mesmo. Obviamente isso é real, uma vez que aconteceu!
E então, sendo um homem lógico, Claymore fez a coisa mais lógica. Ele apanhou sua arma e correu.

***

A última vez que ele tinha visto uma trava de carro tinha sido há anos atrás, em um carro de aluguel que ele estacionou ilegalmente em Manhattan – mas agora, claro, justo nesta manhã, havia uma no pneu do seu carro. Fugir não era mais uma opção.
Lamia estava se aproximando. Ela saiu do café como se estivesse deslizando, mal levantando os pés, seu olho esquerdo estava se regenerando lentamente em um olhar irritado.
Um carro passou por Claymore que tentou chamar atenção acenando, mas como tinha acontecido com Black, o motorista não pareceu notá-lo.
― Você não entende? ― Lamia silvou. ― Seus irmãos mortais não conseguem vê-lo! Você está em meu mundo!
Claymore não argumentou. Ele aceitou sua explicação para isso.
Ela cambaleou em direção a ele, levando o tempo que precisava. Ela agora se parecia menos com uma serpente, e mais com um gato brincando com sua presa.
Não havia forma de combatê-la. Ele tinha apenas mais cinco balas. Se três tiros na cabeça não conseguiram pará-la, ele duvidada que qualquer coisa inferior a uma granada pararia.
Ele tinha uma vantagem. Nem de longe era um atleta, mas Lamia parecia ser o tipo de pessoa que tinha dificuldade em ir do sofá até a geladeira. Ele poderia correr e sobreviver a ela, não importava que tipo de monstro ela fosse. Ela estava há seis metros de distância agora. Claymore deu a ela um sorriso desafiador, então se virou e saiu correndo rua abaixo pela Rua Principal. Havia apenas uma dúzia de lojas no centro da cidade, e a rua era bem ampla. Ele teve de virar na Segunda Avenida, para eventualmente perder Lamia de vista em um dos lados das ruas. Depois ele retornaria para sua casa, em segurança, e entraria em contato com a polícia. Uma vez que estivesse lá, ele...
― Incantare: Gelu Semita! ― Lamia gritou atrás dele.
Isso era latim... um encantamento. Ela estava recitando algum tipo de feitiço.
Ele não teve tempo de traduzir a frase antes do ar ao redor dele baixar a temperatura em pelo menos trinta graus. Embora não tivesse nenhuma nuvem no céu, granizo começou a cair. Ele se virou, mas Lamia tinha ido embora.
― Encantamento: Caminho de Geada... ― ele traduziu em voz alta, sua respiração vaporizando. ― Sério? Ela está usando mágica? Isso é ridículo!
Então a voz dela disse atrás dele:
― Você é um homem inteligente de verdade, Sr. Claymore. Agora eu entendo por quê meu irmão procurou você.
Ele girou em direção a voz de Lamia, mas de novo ela não estava lá.
Mais um de seus joguinhos para cima dele... Ótimo. Ele tinha que fazer mais do que apenas fugir. Ela não era humana, mas ele podia aproximar-se dela como qualquer adversário. Ele tinha que estudar seu oponente, descobrir suas fraquezas.
E então poderia escapar.
Ele estendeu sua mão para o granizo.
― Eu podia não saber que isso era possível dez minutos atrás, mas eu sei de uma coisa: se isso é uma extensão do seu poder, não é nenhuma surpresa nós não conseguirmos ver mais monstros como você! ― Ele gritou. ― Nós devemos ter matado todos eles!
Ela silvou furiosa. O granizo começou a cair mais forte, enchendo o ar de névoa gelada. Ele sacou seu revólver, pronto para que ela viesse de qualquer ângulo.
Embora não ligasse para ficção, ele havia passado sua carreira pesquisando sobre crenças antigas. Encantamentos eram atualmente um conceito simples: se você dissesse algo com poder o bastante, isso poderia se tornar realidade.
Esse encantamento devia ser um feitiço translocacional de algum tipo. Caso contrário ela não teria usado a palavra semita. Ela estava fazendo um caminho para si mesma, e esse gelo era o método de viagem – ocultando sua localização e fazendo ficar mais difícil para Claymore se locomover ou antecipar o próximo ataque dela.
Só para enfurecê-lo, mas ele se forçou a manter o foco. O chão ao redor dele estava agora coberto de gelo. Ele se manteve imóvel e com os ouvidos atentos. Ele sabia que ela usaria a oportunidade para atacar.
Ela devia estar brincando com ele, mas Claymore não tinha a intenção de morrer nas mãos de uma idiota como ela, especialmente tendo ela se apaixonado por seu sarcasmo tão facilmente...
Claymore ouviu o som denunciador de seus saltos altos triturando o gelo. Ele rodopiou imediatamente, se esquivando enquanto ela passava as garras pelo lugar onde ele estivera parado. Antes que ela pudesse recuperar seu equilíbrio, ele atirou.
Seu joelho esquerdo explodiu em pó preto, e o granizo cessou. Lamia tropeçou. Pelo olhar em seu rosto, a ferida nem mesmo tinha a perturbado. A metade inferior de sua perna tinha se desintegrado, mas já estava reformando-se. Ele não esperava matá-la dessa vez. Ele observou cuidadosamente enquanto ela se curava, cronometrando sua regeneração. Com uma bala, ele estimava conseguir um minuto.
― Você ainda não entende, mortal! ― ela esbravejou. ― Essas armas não podem me matar! Elas conseguem apenas me retardar!
Claymore olhou para ela e riu.
― Você deve estar maluca se estiver pensando que estou tentando matar você! Obviamente, agora sei que você é imortal, então porque eu tentaria? Não, eu não posso matar você. Mas aprendi algo interessante com nosso tempo juntos. ― Ele apontou sua arma. ― Você não quer realmente me matar. Do contrário não teria perdido seu tempo atirando cubos de gelo em mim. Você quer me assustar, esperando que eu vá levar você até o garoto. Ele é uma ameaça a você, não é? Tudo que eu tenho que fazer é achá-lo então ele pode eliminar você adequadamente. E eu sei exatamente onde ele está!
Ela silvou enquanto sua perna se emendava, mas ele atirou nela mais uma vez.
― Se eu tivesse balas o suficiente poderia ficar sentado aqui o dia inteiro! ― Claymore zombou. ― Você está indefesa! Talvez eu devesse pegar um aspirador de pó e acabar logo com você!
Ele pensou que a besta iria perceber que estava a sua mercê agora, mas por alguma razão, ela continuava sorrindo.
O granizo tinha cessado completamente. O que estava no chão já tinha derretido, então ele sabia que fosse qual fosse o feitiço que ela estava usando ele tinha acabado. Como ela ainda tinha a audácia de sorrir?
― Você é realmente o mortal mais arrogante que eu já vi! Ótimo! Se você não vai me levar até o garoto, eu terei o prazer em te destruir! ― Ela sacudiu a língua de cobra. ―Incantare: Templum Incendere!
― Templo de fogo ― Claymore traduziu.
Provavelmente um feitiço ofensivo – ele estava prestes a ser atacado por fogo de alguma forma. Ele atirou na perna recém restaurada de Lamia que voltou a ser pó.
O feitiço obviamente não funcionou imediatamente, mas ele não fazia questão de descobrir o que o feitiço faria. Ele estava para tomar vantagem do fato de nenhum mortal conseguir vê-lo.
Ele correu de volta para o Black's Coffee e empurrou a porta.
Black deveria está se divertindo muito, muito mesmo polindo as xícaras porque ele ainda estava fazendo isso.
Claymore não se importou. Ele alcançou o bolso de Black e tirou de lá as chaves de seu caminhão – e Black nem mesmo notou.
Quando Claymore pensou que estivesse livre, ouviu a voz áspera de Lamia:
― Você realmente acha que eu sou idiota, não é?
Ela estava exatamente atrás dele... mas como era possível? Ele mediu seu tempo de reação que era em torno de um ou dois minutos. Não havia forma de ela ter sido capaz de segui-lo tão rapidamente.
Ele não teve tempo de reagir. No momento em que se virou, ela apertou suas garras de lagarto ao redor de seu pescoço e seu revolver caiu ruidosamente no chão.
― Eu tenho andando neste mundo por milhares de anos! ― ela silvou, seus olhos de um verde profundo o encarando. ― Você é um mortal! Cego! Eu fui como você, uma vez. Pensei que estivesse acima dos deuses. Eu era a filha de Hécate, deusa da magia. O próprio Zeus se apaixonou por mim! Eu me considerava seu igual! Mas então, o que os deuses fizeram comigo?
Sua mão se fechou mais apertado em torno de sua garganta, e Claymore engasgou tentando tomar fôlego.
― Hera sacrificou meus filhos bem na frente dos meus olhos! Ela...! Aquela mulher...!
Uma lágrima escorreu pelo seu rosto escamoso, mas Claymore não se importou nem um pouco com a história triste da criatura. Ele dirigiu seu joelho ao peito dela com toda a força que conseguiu reunir e ouviu um crack satisfatório vindo das costelas de Lamia se quebrando.
Lamia caiu para trás. Felizmente, suas costelas levariam tempo para se regenerar. Ela se curvou, ofegando, como se o golpe tivesse causado tanta dor que ela não conseguisse se levantar.
― Eu já convoquei o Templo de Fogo ― ela disse. ― Que é um encantamento que destrói seu santuário – seja qual for o lugar que você deposita sua fé. Eu não sou capaz de fazer você sentir minha dor, mas ainda posso tirar tudo o que é precioso para você! E posso com apenas um aceno de mão!"
De repente a temperatura na cafeteria disparou. O local parecia uma sauna em que o calor continuava aumentando. As mesas foram as primeiras a pegar fogo, depois as cadeiras e depois... Claymore correu loucamente para Black, que ainda estava polindo suas xícaras de café alegremente.
― Incantare: Stulti Carcer! ― Lamia gritou.
Subitamente as pernas de Claymore pareceram virar chumbo. Ele tentou se forçar a mover, mas não conseguiu. Ele estava colado no lugar.
Chamas começaram a se aproximar do avental de Black. Logo todo o seu corpo estava em chamas. A pior parte era que ele nem mesmo notava o que estava acontecendo com ele.
Claymore clamou por ele, mas foi inútil. Ele teve de assistir seu único amigo de verdade em Keeseville ser consumido pelas chamas bem na frente dos seus olhos.
― Deuses podem fazer isso! ― Lamia gritou. ― Eles podem eliminar tudo o que você mais preza em um segundo, e assim farei eu! ― Ela virou para o laptop de Claymore. ― Eu vou destruir isso também, seu trabalho mais recente!
Ela gesticulou para o computador enquanto as chamas rolavam em direção ao equipamento através da cafeteria. O plástico começou a derreter.
― Tente salvá-lo, Claymore! ― ela provocou. ― Se você tentar combater as chamas agora, pode não ser tarde demais.
Ela flexionou sua mão e Claymore pôde de repente sentir seus pés.
― Vá, filho de homem ― ela silvou. ― Salve o que é mais precioso para você. Você falhará! Assim como eu...
Lamia não teve tempo de terminar antes que o punho de Claymore acertasse seu rosto.
Ela caiu contra uma mesa. Claymore desceu até ela com outro soco, sua mão agora revestida de areia preta.
― Como você pode simplesmente ficar aí falando dessa forma depois de tirar a vida de um homem? ― ele gritou.
Ela o alcançou com suas garras, mas Claymore as atirou para longe. Ele virou a mesa e Lamia tombou no chão.
― Você o matou! ― ele gritou. ― Burly não tinha nada a ver com isso, e você o matou! Eu não me importo com que tipo de monstro você é! No momento em que eu acabar com você, você irá desejar que Hera tivesse a matado!
Ela abriu sua boca.
― Incantare: Stu...
Claymore chutou sua mandíbula, e a parte inferior do seu rosto se dissolveu em areia.
As chamas tinham ficado mais agressivas agora. A fumaça pungente queimava nos pulmões de Claymore, mas ele não se importava. Enquanto ela tentava se regenerar, ele a chutou e socou repetidas vezes, até que ela virasse um monte de areia.
Entretanto... ele sabia que não podia continuar com isso. Ele não podia deixar a raiva acabar com ele. Isso era o que Lamia queria. Ela ficaria bem independente do que ele fizesse a ela, mas ele não era invulnerável... só a fumaça já tornava difícil respirar. Ele tinha que sair dali. Do contrário, o monte de areia debaixo dos seus pés levaria a melhor, no fim das contas.
Levaria pelo menos um minuto para que ela se reformasse, ele supôs, apenas tempo suficiente para ele desaparecer.
Ele olhou para a massa rodopiante de pó, imaginando se aquilo era capaz de ouvi-lo.
― Na próxima vez, eu saberei como matar você. Sua morte é inevitável. Eu sugiro que corra, assim que suas pernas crescerem novamente.
Ele apanhou seu revólver do chão e atirou contra o monte de areia - um último tiro por Burly Black.
Ainda não era o bastante. Justiça tinha que ser feita, e se a sua intuição estivesse certa, ele conhecia exatamente quem poderia fazê-la.

***

Quando a polícia descobrisse que ele tinha pegado o caminhão de Black, eles o iriam culpar pelo fogo? Eles o acusariam pelo assassinato de Black?
Um monstro de verdade estava atrás dele, mas Claymore devia ser atrelado como um inimigo da lei. Se a situação fosse diferente, ele teria achado tal ironia engraçada; mas não agora, não quando Black está morto.
Com certeza, Black teria permitido que Claymore pegasse seu caminhão... Claymore pisou fundo, dirigindo o mais rápido possível sem que causasse um acidente.
Lamia tinha um conjunto de feitiços a sua disposição. Tudo o que Claymore tinha era uma vantagem de um minuto.
Ele não gostava daquelas probabilidades, mas Claymore tinha uma forma de virar as probabilidades a seu favor. Ele nunca teve vantagens em sua vida, ainda que tivesse conseguido obter um PhD e se tornar um autor bem sucedido. Foi por meio do seu brilhantismo que ele conseguiu fazer um nome. Mesmo se ele tivesse sido jogado dentro de um mundo estranho onde monstros e deuses existem, não havia jeito de ele permitir a si mesmo perder. Não para Lamia, não para Hécate, para ninguém.
Ele entrou na garagem da sua casa e correu para dentro, ajustando o alarme enquanto trancava a porta atrás dele.
Ele não planejava ficar por mais que um minuto, mas o alarme dispararia se Lamia chegasse aqui mais rápido do que ele tinha antecipado.
Ele tentou reunir seus pensamentos. O garoto Alabaster devia saber sobre Lamia. No sonho de Claymore, Alabaster disse a mulher de branco que ele estava sendo caçado. A mulher alertou Alabaster sobre ela não poder interferir num combate entre seus filhos. O que significava que a mulher de branco era Hécate, e Lamia e Alabaster eram ambos seus filhos, presos em um tipo de combate mortal.
O que acontece se alguém acha uma forma de parar a morte? o garoto tinha perguntando a ele do lado de fora do auditório. Alabaster precisava achar uma maneira de derrotar Lamia, que não podia ser morta. Do contrário, Lamia mataria. Então ele foi atrás do maior especialista em morte – Dr. Howard Claymore.
Ele pegou o cartão de cima da mesa e discou o número em seu telefone celular. Mas a resposta que ele teve não foi exatamente um pedido de socorro.
― O que você quer? ― o garoto perguntou em um tom frio feito pedra. ― Eu sei que sua resposta é Não. Então o que é agora? Você quer que eu lhe diga que seu sonho da noite passada não era real?
― Eu não sou idiota ― Claymore retorquiu, reajustando o alarme enquanto saia. ― Agora eu sei que é real, e eu também sei que sua irmã está tentando me matar. Eu fui atacado na área de comércio, muito provavelmente porque você me pediu ajuda.
O garoto parecia aturdido demais para falar. Finalmente, quando Claymore já estava entrando no caminhão de Black, Alabaster perguntou:
― Se ela te atacou, como você ainda está vivo?
― Como eu disse, eu não sou idiota ― Claymore repetiu. ― Mas como consequência de você ter me arrastado para isso, meu amigo está morto.
Ele explicou brevemente o que tinha acontecido no Black's Coffee.
Houve outro momento de silêncio.
Claymore deu partida no caminhão.
― Então?
― Nós precisamos cessar essa conversa ― Alabaster disse. ― Monstros conseguem rastrear chamadas telefônicas. Apenas venha até onde estou e eu irei explicar o que eu preciso que você faça. Depressa.
Claymore jogou seu telefone no banco e meteu o pé fundo no acelerador.

***

A rua de Alabaster era um beco sem saída, com nada atrás exceto penhascos de pedra calcária que terminavam no rio Hudson. Isso significava que não havia jeito de atacá-lo por trás, mas também significava que não havia por onde fugir.
Não foi por acaso que Alabaster estabeleceu sua moradia aqui, Claymore assumiu. Alabaster queria que ali fosse um lugar onde ele poderia facilmente se defender, mesmo se ele perdesse a opção de fugir. Um lugar perfeito para uma última batalha.
De fato, o número 273 ficava bem no final da rua sem saída.
Não era nada extravagante ou especial. A grama precisa ser cortada e as paredes precisavam de uma nova mão de tinta. Não era a casa mais bonita do mundo, mas era boa o suficiente para uma família regular chamar de lar.
Claymore caminhou até a porta e bateu. Não demorou muito para que a porta se abrisse.
Era aquele homem de ontem, o pai de Alabaster. Seus olhos inexpressivos analisaram Claymore, e ele sorriu.
― Olá, amigo! Entre. Eu fiz chá para você.
Claymore franziu a testa.
― Eu honestamente não me importo com isso. Só me leve até seu filho.
Ele continuou sorrindo, e levou Claymore para dentro.
Ao contrário do lado de fora, a sala de estar era meticulosa. Tudo estava perfeitamente lustrado, organizado e espanado. Parecia que toda a mobília tinha acabado de sair do plástico bolha.
Fogo rugia na lareia, e como prometido, havia chá sobre a mesa de café.
Claymore ignorou. Ele sentou no sofá.
― Sr. Torrington, certo? Você compreende a situação em que estou? Eu vim aqui em busca de respostas.
― O chá vai esfriar ― o homem informou, sorrindo alegremente. ― Beba!
Claymore o olhou nos olhos. Esta era sua arma secreta?
― Você é idiota?
O homem não teve tempo de responder antes que uma porta se abrisse para a sala de estar, e o garoto caminhasse para ela.
As mesmas sardas e cabelos castanhos de ontem, mas sua vestimenta estava completamente bizarra. Ele usava um colete a prova de balas sobre uma camiseta de mangas longas cinza. Sua calça era também cinza, mas a coisa mais estranha em suas roupas eram os símbolos.
Marcas sem sentido estavam rabiscadas em lugares aleatórios sobre toda a sua camiseta e calça. Parecia que ele tinha deixado alguma criança de cinco anos de idade se divertir com uma canetinha.
― Dr. Claymore ― ele falou ― não se incomode conversando com meu acompanhante. Ele não irá dizer nada de interessante.
Todo o nervosismo e ansiedade pareciam ter sumido do garoto. Ele parecia severo e determinado, como no momento em que tentou zombar Claymore no auditório.
Claymore olhou para o homem, depois de volta para Alabaster.
― Por que não? Ele não é seu pai?
Alabaster riu.
― Não. ― Ele se deixou cair no sofá e apanhou uma xícara de chá. ― Ele é um Nebuliforme. Eu o criei parar servir como meu guardião, assim as pessoas não fariam perguntas.
Claymore arregalou os olhos. Ele olhou para o homem, que parecia completamente absorto da conversa.
― Criou? Com magia, você quer dizer?
Alabaster assentiu, colocando a mão dentro de seu bolso e tirando um cartão em branco. Ele o colocou sobre a mesa e o bateu duas vezes.
O homem, o Nebuliforme, se desintegrou na frente de Claymore, se transformando em vapor como se estivesse sendo sugado pelo cartão. Assim que o Nebuliforme se foi, Alabaster recolheu o cartão, e Claymore pode ver que agora lá tinha um contorno verde bruto de um homem impresso nele.
― Assim está melhor ― Alabaster conseguiu sorrir. ― Ele se torna irritante depois de um tempo. Eu sei que isso deve ser informação demais para um mortal.
― Eu me viro ― Claymore disse, dispensando-o. ― Eu estou mais interessado em aprender sobre Lamia, particularmente em como matá-la.
Alabaster suspirou.
― Eu já lhe disse, eu não sei. E é por isso que eu pedi sua ajuda. Você se lembra do que eu te perguntei no estacionamento?
― O que aconteceria se alguém achasse uma forma de parar a morte? ― Claymore repetiu. ― Por que isso é importante? Tem alguma coisa a ver com a regeneração de Lamia?
― Não, todos os monstros fazem isso. Existem apenas duas maneiras de matar um monstro: uma é com algum tipo de metal divino. A outra é com algum tipo de magia de ligação que os impeça de se regenerar neste mundo. Mas matá-la não é o problema; eu já fiz isso. O problema é que ela não morrerá.
Claymore levantou uma sobrancelha.
― O que você quer dizer com não morrerá?
― Exatamente o que parece ― Alabaster respondeu. ― Se eu matá-la, ela não vai ficar morta, não importa o que eu tente. A maioria dos monstros quando se desintegra, tem seus espíritos mandados de volta para o Tártaro e levam-se anos, às vezes séculos até que eles se regenerem. Mas Lamia volta imediatamente. É por isso que eu fui até você. Eu sei que você tem pesquisado os aspectos espirituais da morte, provavelmente mais que qualquer um no mundo. Eu esperava que você pudesse descobrir uma forma de manter algo morto.
Claymore pensou sobre o assunto por um segundo, então ele sacudiu a cabeça.
― Não há nada que eu queira mais do que destruir aquela criatura, mas isso está além de mim. Eu preciso entender melhor seu mundo... como esses deuses e monstros atuam, e as regras da sua magia. Eu preciso de dados.
Alabaster franziu o cenho e tomou um gole de chá.
― Eu vou lhe contar o que eu puder, mas nós podemos não ter muito tempo. Lamia está ficando cada vez melhor em ver através dos meus feitiços de ocultação.
Claymore recostou-se.
― No meu sonho, Hécate disse que você era um membro do exército de Cronos. Com certeza existem outros membros do seu exército. Por que não pedir ajuda a eles?
Alabaster balançou a cabeça.
― A maior parte deles está morta. Houve uma guerra entre deuses e titãs no último verão e a maioria dos meio-sangues – semideuses como eu - lutou pelos Olimpianos. Eu lutei por Cronos.
O garoto suspirou antes de continuar.
― Nosso principal navio de transporte, o Princesa Andrômeda, foi obliterado por uma facção inimiga de meio-sangues. Nós estávamos indo invadir Manhattan, onde os deuses tem sua base. Eu estava em nosso navio quando o inimigo o explodiu. Eu sobrevivi só porque fui capaz de colocar um encantamento de proteção em mim. Depois disso, bem... a guerra não saiu como esperávamos. Eu lutei no campo de batalha contra o inimigo, mas a maioria de nossos aliados fugiu. O próprio Cronos marchou até o Olimpo, apenas para ser morto por um filho de Poseidon. Depois da morte de Cronos, os deuses olimpianos liquidaram qualquer resistência remanescente. Foi um massacre. Eu me lembro bem, minha mãe me disse que o Acampamento Meio-Sangue e seus aliados tiveram dezesseis mortos. Nós tivemos centenas.
Claymore olhou para Alabaster. Embora Claymore não se considerasse uma pessoa empática, ele sentiu pena do garoto por ter passado por tanta coisa sendo tão jovem.
― Se as forças de vocês foram completamente destruídas, como você escapou?
― Não foram todos destruídos ― Alabaster respondeu. ― A maioria dos meio-sangues remanescentes fugiram ou foram capturados. Eles estavam tão desmoralizados que se juntaram ao inimigo. Houve uma anistia geral, eu acho que você o chamaria assim – um acordo negociado pelo mesmo garoto que matou Cronos. Esse cara convenceu os olimpianos a aceitarem os deuses menores que seguiam Cronos.
― Como sua mãe, Hécate ― Claymore disse.
― Sim ― Alabaster disse de forma cruel. ― O Acampamento Meio-Sangue decidiu que aceitaria qualquer filho dos deuses menores. Eles construiriam chalés para nós no acampamento e fingiriam que eles não tinham nos massacrado cegamente por resistir. Uma grande parte dos deuses menores aceitou o acordo de paz no momento em que os olimpianos fizeram a proposta, mas minha mãe não. Veja bem... eu não era o único filho de Hécate servindo Cronos. Hécate nunca teve muitos filhos, mas eu era o mais forte, então meus irmãos seguiam minha liderança. Eu convenci uma boa parte deles a lutar... mas fui o único a sobreviver. Hécate perdeu mais filhos semideuses na guerra do que qualquer outro deus.
― É por isso que ela recusou a oferta? ― Claymore supôs.
Alabaster tomou outro gole de chá.
― Sim. Pelo menos, ela recusou em um primeiro momento. Eu a incitei a permanecer lutando. Mas os deuses decidiram que não queriam que uma deusa rebelde estragasse sua vitória, então eles fizeram um acordo com ela. Eles me exilariam para sempre da sua proteção e do seu acampamento – esta foi minha punição por tomar uma atitude – mas eles poupariam minha vida se Hécate se juntasse a eles novamente. Que era uma outra forma de dizer que se ela não se juntasse a eles, eles se certificariam de que eu morresse.
Claymore franziu o cenho.
― Então até mesmo os deuses não são onipotentes o bastante para resistirem a uma chantagem.
Alabaster encarou a lareira aconchegante com um olhar de desgosto.
― É melhor não imaginá-los como deuses. A melhor forma de pensar neles é como uma máfia divina. Eles usaram essa ameaça para forçar minha mãe a aceitar o trato. E no processo, me exilaram do acampamento, então não posso corromper meus irmãos e irmãs. ― Ele terminou seu chá. ― Mas eu nunca irei me curvar aos deuses olimpianos depois das atrocidades que eles cometeram. Os seguidores deles são cegos. Eu nunca colocaria meu pé no acampamento, e se colocasse, seria apenas para dar aquele filho de Poseidon o que ele merece.
― Então você não tem nenhuma ajuda ― Claymore disse. ― E esse monstro Lamia está atrás de você porque...?
― Também queria saber ― Alabaster colocou sua xícara vazia sobre a mesa. ― Desde o momento em que fui exilado, eu derrotei vários monstros que vieram até mim. Eles instintivamente sentem os semideuses. Como um meio-sangue solitário, eu sou um alvo tentador. Mas Lamia é diferente. Ela é uma filha de Hécate dos tempos antigos. Ela parece ter uma vendeta pessoal contra mim. Não importa quantas vezes eu a mato, ela simplesmente não permanece morta. Ela está me desgastando, me forçando a me mudar de cidade em cidade. Meus encantamentos de proteção têm sido levados até o limite. Agora eu nem mesmo posso dormir sem que ela tente quebrar minhas barreiras.
Claymore estudou o garoto mais de perto e notou círculos negros em baixo de seus olhos. Alabaster provavelmente não dormia há dias.
― Há quanto tempo você está por conta própria? ― Claymore perguntou. ― Quando foi que aconteceu seu banimento?
Alabaster deu de ombros como se tivesse esquecido.
― Há sete ou oito meses, mas parece que foi há mais tempo. O tempo é diferente para nós, meio-sangues. Nós não temos a mesma vida confortável que os mortais têm. A maioria dos meio-sangues nem mesmo passa dos vinte anos.
Claymore não respondeu. Até mesmo para ele, isso era muito para assimilar. Este menino era um semideus de verdade, filho de um humano com a deusa Hécate. Ele não tinha a menor ideia de como esse tipo de procriação funcionava, mas obviamente funcionava, porque o garoto estava aqui, e claramente ele não era um mortal normal. Claymore se perguntou se Alabaster também possuía a mesma habilidade de regeneração que Lamia tinha. Ele duvidava que tivesse. Irmãos ou não, Alabaster constantemente se referia a Lamia como um monstro. Esse não era o tipo de termo que você usaria com uma pessoa da sua própria espécie.
O garoto estava realmente sozinho. Os deuses o exilaram. Monstros queriam matá-lo, incluindo um que era sua própria irmã. Sua única companhia era um Nebuliforme que brotava de uma carta oito por treze. E ainda de alguma forma, o menino tinha sobrevivido. Claymore não conseguia não se impressionar.
Alabaster havia começado a se servir de mais uma xícara de chá, mas então congelou. Um dos símbolos rabiscados em sua manga direita estava brilhando em verde.
― Lamia está aqui ― ele murmurou. ― Eu tenho poder o suficiente para mantê-la longe por algum tempo, mas...
Houve um barulho quebradiço como o de uma lâmpada estalando, e o símbolo da manga de Alabaster se estilhaçou como vidro, pulverizando cacos de luz verde.
Alabaster abaixou sua xícara.
― Não é possível! Não tem como ela ter conseguido quebrar minha barreira com sua mágica a não ser que ela... ― Ele encarou Claymore. ― Meus deuses. Claymore, ela está usando você!
Claymore ficou tenso.
― Me usando? Sobre o que você está falando?
Antes que Alabaster conseguisse responder, outra runa em sua camiseta explodiu.
― Levante-se! Nós temos que ir agora! Ela acabou de violar a barreira secundária.
Claymore se pôs de pé.
― Espere! Me diga! Como ela está me usando?
― Você não escapou dela; ela te deixou ir! ― Alabaster olhou para ele. ― Você tem um encantamento em você que rompe minhas insígnias de feitiço! Deuses, como pude ser tão estúpido?
Claymore cerrou seus punhos. Ele tinha sido derrotado no jogo de Lamia.
Ele tinha estado tão ocupado em tentar compreender as regras daquele mundo e em formar uma estratégia que ele não esperou que Lamia usasse uma estratégia por conta própria. Agora seus erros tinham a guiado até o seu alvo.
Alabaster tocou levemente o peito de Claymore.
― Incantate: Aufero Sarcina!
Não houve outra explosão. Desta vez cacos de luz verde voaram da camisa de Claymore e ele cambaleou para trás.
― O que você fez?
― Removi o encantamento de Lamia ― Alabaster explicou. ― E agora...
Alabaster deu tapas em mais algumas runas da sua vestimenta e todas elas se estilhaçaram. Como se em resposta, um símbolo em uma das pernas da sua calça começou a brilhar em verde.
― Eu reforcei as paredes internas, mas não há jeito de elas deterem Lamia por mais tempo. Eu sei que você quer entender, sei que você quer fazer mais perguntas, mas não. Eu não vou deixar você morrer. Apenas me siga, e depressa!

***

Até o momento, ele tinha estado confuso, alarmado, assustado e ofendido além do acreditável. Mas agora ele havia experimentado uma emoção que não sentia em anos. O grande, confiante Dr. Claymore começou a entrar em pânico.
Tudo isso era uma armadilha. Lamia não tinha sido derrotada tão facilmente. Era um truque, então ela poderia passar pelas defesas de Alabaster. E tudo isso era culpa sua.
Alabaster correu para fora, e Claymore o seguiu, murmurando cada palavrão que conhecia – e havia muitos.
Ele não tinha visto isso antes, mas uma redoma verde cintilante envolvia a casa e se estendia até pelo menos metade do quarteirão. O brilho verde parecia estar enfraquecendo, assim como a runa na calça de Alabaster.
Embora o dia estivesse ensolarado até poucos momentos atrás, nuvens tempestuosas agora pairavam no alto, bombardeando a barreira com raios.
Lamia estava lá, e dessa vez ela não estava fazendo joguinhos. Ela estava aqui para matá-los.
Claymore murmurou outro palavrão.
Alabaster parou quando chegou à rua e olhou para o céu.
― Não conseguiremos escapar. Ela está nos prendendo. Essa tempestade é um encantamento de ligação. Eu não posso dissipá-la enquanto as barreiras ainda estão erguidas. Fugir não é uma opção; nós temos que lutar.
Claymore o encarou com descrença.
― O caminhão de Black está bem ali. Nós podemos pegar o caminhão e...
― E depois o quê? ― Alabaster o encarou de volta, congelando Claymore no lugar. ― Não importa o quão rápido formos. Tudo que nós estaremos fazendo é dando a ela um alvo maior para acertar. Além disso, isso é exatamente o que ela espera que um mortal como você faça. Só fique fora disso... eu vou tentar salvar sua vida!
Claymore olhou para ele, seu sangue em ebulição. Ele veio até aqui para ajudar aquele garoto, não para ficar ali parado num canto se sentindo inútil. Ele estava prestes a argumentar quando a runa brilhante na calça de Alabaster irrompeu em chamas. O garoto estremeceu de dor, caindo de joelhos. Acima deles, a redoma verde se estilhaçou fazendo um barulho como o de milhões de janelas se quebrando.
― Irmão! ― Lamia berrou acima de um rugido de trovão. ― Estou aqui!
Raios caíram ao redor deles, arrancando postes elétricos e pondo árvores em chamas.
O resto do mundo nem mesmo notava. Há algumas casas de distância, um homem estava regando seu gramado. Do outro lado da rua, uma mulher corria em direção ao seu utilitário esportivo, conversando no telefone celular, alheia ao fato de sua árvore bordô estar pegando fogo. O mesmo tipo de chamas que tinha matado Burly... Aparentemente para os meio-sangues e monstros, o mundo mortal era apenas uma consequência.
Alabaster se forçou a ficar de pé, tirando uma carta de seu bolso. Ao contrário de um homem, esta carta tinha a inscrição de uma espada toscamente desenhada. Quando Alabaster bateu no desenho, ele começou a brilhar, e de repente a espada não parecia mais tão tosca.
Um sabre de ouro sólido se estendeu para fora da carta, ganhando vida e se formando na mão de Alabaster. A espada tinha runas verdes brilhantes gravadas, como as das roupas de Alabaster. E embora a coisa devesse pesar mais de quarenta quilos, Alabaster a segurava com uma mão só com facilidade.
― Fique atrás de mim e não se mova ― ele instruiu, fixando seu pé firmemente no chão.
Pela primeira vez em sua vida, Claymore não tentou argumentar.
― Lamia! ― Alabaster gritou para os céus. ― Ex-rainha do Império da Líbia e filha de Hécate! Você é meu alvo, e minha lâmina encontrará você. Incantare: Persequor Vestigium!
Os símbolos na espada de Alabaster arderam mais intensamente, e cada runa de suas roupas brilhou como holofotes em miniatura. Uma coleção de feitiços mágicos o cercaram, e todo o seu corpo pareceu irradiar poder.
Ele se virou para Claymore, que deu um passo para trás. Ambos os olhos de Alabaster estavam cintilando em verde, como os de Lamia.
O garoto sorriu.
― Nós ficaremos bem, Claymore. Heróis nunca morrem, certo?
Claymore queria argumentar contra aquilo, na verdade, os heróis sempre morriam nos mitos gregos.
Mas antes que ele pudesse encontrar sua voz, um trovão rugiu, e o monstro Lamia apareceu na extremidade do gramado.
Alabaster atacou.

***

No momento em que Alabaster levantou sua espada, ele sentiu algo que não sentia desde que tinha invadido Manhattan com o exército de Cronos – a disposição de dar sua vida em nome da causa. Ele havia arrastado Claymore para isso. Ele não podia deixar outro mortal morrer por causa desse monstro.
Sua primeira estocada acertou o alvo, e o braço direito de Lamia se desintegrou em areia.
Para monstros normais, uma ferida como aquela provocada por uma espada de ouro imperial seria uma sentença de morte, mas tudo o que Lamia fez foi rir.
― Irmãozinho, por que você persiste? Eu vim aqui só pra conversar...
― Mentiras! ― Alabaster cuspiu, decepando seu braço esquerdo. ― Você é uma vergonha para o nome da nossa mãe! Por que você não morre?
Lamia deu a ele um sorriso com dentes de crocodilo.
― Eu não morro porque minha senhora me sustenta.
― Sua senhora? ― Alabaster fez uma careta. Ele tinha a impressão de que ela não estava falando sobre Hécate.
― Ah, sim ― Lamia se esquivou do seu ataque. Seus braços já estavam se reformando. ―Cronos falhou, mas agora minha senhora terá ascensão. Ela é maior que qualquer Titã ou deus. Ela irá destruir o Olimpo e levar os filhos de Hécate a sua idade de ouro. Infelizmente, minha senhora não confia em você. Ela não quer que você viva para interferir.
― Por mim você e sua senhora podem ir para o Tártaro! ― Alabaster rosnou, fatiando a cabeça de Lamia. ― Você está numa aliança com os deuses agora? Hera te enviou para me matar?
As duas metades da boca de Lamia gemeram.
― Não mencione esse nome em minha presença! Aquela velha destruiu minha família! Você não entende, irmão? Você já leu meus mitos?
Alabaster zombou.
― Eu não me incomodo em ler sobre monstros desprezíveis como você!
― Monstro? ― Ela gritou enquanto seu rosto remendava. ― Hera é o monstro! Ela destrói todas as mulheres por quem seu marido se apaixona. Ela persegue seus filhos por inveja e despeito! Ela matou meus filhos! Meus filhos!
O braço direito de Lamia se regenerou, e ela o segurou na frente do corpo, tremendo de raiva.
― Eu ainda posso ver seus corpos sem vida à minha frente... Alteia queria ser uma artista. Eu me lembro da época em que ela foi aprendiz do melhor escultor do meu reino... Ela era uma criança prodígio. Suas habilidades rivalizam até mesmo as de Atena. Demétrio tinha nove anos, cinco dias para o seu aniversário de dez. Ele era um garoto maravilhoso e forte, sempre tentando deixar sua mãe orgulhosa. Estava sempre disposto a fazer qualquer coisa de modo a se preparar para o dia em que ele tomaria seu lugar como rei da Líbia. Ambos trabalhavam tanto, os dois tinham um futuro incrível pela frente. Mas então o que Hera fez? Ela os assassinou brutalmente simplesmente para me punir por aceitar os cortejos de Zeus! Ela é quem merece apodrecer no Tártaro!
Alabaster atacou novamente. Dessa vez Lamia fez o impossível – ela parou a lâmina, agarrando a extremidade de ouro imperial com sua garra reptiliana.
Alabaster tentou soltar sua espada, mas Lamia segurou firme. Ela aproximou seu rosto dele.
― Você sabe o que aconteceu em seguida, irmão? ― ela sussurrou. Seu hálito cheirava a sangue fresco derramado. ― Minha vida como rainha chegou ao fim, mas a minha aversão estava apenas começando. Usando o poder de minha mãe, eu elaborei um encantamento muito especial, um que permitiu a todos os monstros do mundo serem capazes de sentir a mácula dos meio-sangues... ― ela sorriu. ― Talvez depois que alguns milhares de vocês morram, Hera, a deusa da família, finalmente entenda minha dor!
Alabaster prendeu a respiração.
― O que foi mesmo que você acabou dizer?
― Você me ouviu! Eu sou quem fez da vida de todos vocês um pesadelo! Eu dei aos monstros a habilidade de localizar semideuses! Eu sou Lamia, a caçadora dos maculados! E uma vez que você esteja morto, nossos outros irmãos irão me seguir como sua rainha. Eles irão se juntar a mim ou morrer! Minha senhora – a própria Mãe-Terra – prometeu que iria fazer com que meus filhos retornassem para mim ― Lamia riu com deleite. ―Eles irão voltar à vida, e tudo o que eu tenho que fazer é matar você!
Alabaster conseguiu tirar a espada de suas garras, mas Lamia estava perto demais. Ela estendeu suas garras para arrancar seu coração. Houve então um agudo BANG! e Lamia cambaleou para trás, uma buraco de bala no seu peito escamoso. Alabaster girou a lâmina, cortando-a pela metade na cintura, e Lamia desmoronou em uma pilha de areia negra.
Alabaster olhou de volta para Claymore, que estava há seis metros a sua direita, segurando um revólver.
― O que você está fazendo? Ela poderia ter matado você!
Claymore sorriu.
― Eu vi que você estava fazendo um trabalho tão lamentável quanto eu, então pensei em dar uma mãozinha. Eu tinha que fazer algo com minha última bala.
Alabaster olhou para ele com estranhamento.
― Deuses, você é realmente arrogante.
― Eu tenho ouvido muito isso ultimamente. Vou começar a tomar como elogio. ―Claymore olhou para o corpo de Lamia, que já estava se regenerando. ― Uma vassoura seria de grande utilidade agora. Ela estará de volta em um minuto.
Alabaster tentou pensar, mas ele se sentia exausto. Grande parte dos seus encantamentos tinha acabado. Suas defesas foram destruídas.
― Nós temos que sair daqui.
Claymore sacudiu a cabeça.
― Fugir não o ajudou antes. Nós precisamos de uma forma de lidar com ela. Ela disse que sua vida estava sendo sustentada por sua senhora...
― Mãe-Terra ― Alabaster disse. ― Gaia. Ela tentou derrubar os deuses uma vez nos tempos antigos. Mas como isso nos ajudaria?
Claymore pegou um punhado de areia negra e o observou se contorcer tentando se reformar.
― Terra... ― ele murmurou. ― Se mandar Lamia de volta para o Tártaro não funciona, se ela não permanece morta, não haveria uma forma de aprisioná-la nesta terra?
Alabaster franziu o cenho. Então ele teve uma ideia.
Ele esperava desse homem, desse gênio, uma resposta mais complicada. Alabaster esperava que se ele falasse sobre o Submundo a Claymore e o que causava a morte dos monstros, a mente mais brilhante do século poderia lhe dizer como matar Lamia permanentemente.
Mas a resposta era muito mais simples que isso. Claymore tinha acabado de resolver inconscientemente o problema.
Eles não poderiam matar Lamia por bem. A deusa da terra Gaia simplesmente a traria de volta ao mundo mortal repetidas vezes. Mas e se eles não tentassem mandá-la para o Tártaro? E se ao invés disso esta terra se tornasse a prisão de Lamia?
Alabaster o olhou nos olhos.
― Você precisa voltar para dentro da minha casa! Eu acho que sei uma forma de pará-la.
― Você tem certeza? ― Claymore perguntou. ― Como?
Alabaster sacudiu a cabeça.
― Não temos tempo! Só procure por meu livro de cabeceira. Se conseguirmos o livro, podemos pará-la. Agora vá!
Claymore assentiu, e eles correram em direção à porta da frente.
Alabaster tinha tido o poder de pará-la todo esse tempo, ele apenas não sabia disso. Mas agora tinha a resposta. E não havia um monstro no mundo que seria capaz de pará-lo agora.

***

Claymore estava cansado de correr.
Seu jovem amigo Alabaster parecia poder continuar por quilômetros apesar de estar carregando uma espada de mais de quarenta quilos. E Alabaster tinha estado resistindo aos ataques de Lamia por semanas.
Claymore era outra história. Depois de fugir de Lamia por apenas algumas horas, ele estava prestes a ter um colapso. Meio-sangues deviam ser feitos de um material mais resistente do que o dos humanos.
Alabaster cruzou a sala de estar. Ele olhou de volta, sorrindo de orelha a orelha, e gesticulou para Claymore se apressar.
― Estava aqui o tempo todo! Deuses, queria ter notado isso antes!
Um raio caiu do lado de fora, e Claymore franziu o cenho.
― Você pode guardar essa conversa para depois que ganharmos. Vamos esperar que sua fórmula mágica funcione.
Alabaster assentiu.
― Eu tenho certeza disso! Todo tipo de invencibilidade tem um ponto fraco. Tanques tem a escotilha, Aquiles tinha o calcanhar, e Lamia tem isso.
Olhando para a expressão de Alabaster, Claymore quase sorriu. Esse era o garoto despreocupado que ele deveria ser – não um guerreiro meio-sangue que esperava morrer aos vinte anos.
Ele se parecia com um garoto normal de dezesseis anos com toda uma vida pela frente...
Talvez depois que Lamia estivesse morta, Alabaster poderia viver aquela vida. Talvez, se os deuses o deixassem tê-la...
Mas o que Claymore iria fazer? Toda a sua vida tinha sido devotada a achar uma resposta para a morte, mas no passado ele tinha descoberto que tudo que ele tinha chegado a acreditar era uma mentira. Ou melhor, as mentiras que ele tinha rejeitado durante toda a sua vida eram na realidade verdades.
Como Claymore deveria fazer a diferença agora? Como podia um homem de meia idade sem poderes especiais começar a afetar um mundo de deuses e monstros?
Sua antiga vida parecia sem significado – seus prazos, seus livros autografados. Aquela vida tinha se derretido junto com seu laptop no Black's Coffee. Este novo mundo teria lugar para um mortal como ele?
Alabaster o levou a subir as escadas e depois para dentro de um pequeno quarto. As paredes eram cobertas pelas mesmas runas verdes que estavam nas roupas de Alabaster. Todas elas ganharam vida no momento em que ele caminhou pelo quarto e pegou um livro de sua cabeceira.
― Este é um encantamento atalho ― ele explicou. ― Eu tenho certeza de que irá funcionar. Tem que funcionar!
O garoto se virou em direção a Claymore, que estava esperando na porta. O sorriso de Alabaster se dissipou. Sua expressão agora demonstrava horror.
Uma fração de segundo depois Claymore entendeu o porquê. Garras geladas o alfinetaram na nuca. A voz de Lamia estalou próxima ao seu ouvido.
― Se você disser uma palavra que seja desse encantamento, eu o mato ― Lamia ameaçou. ― Abaixe o livro, e talvez eu poupe sua vida.
Claymore olhou para o garoto, esperando que ele lesse o feitiço de qualquer forma, mas como um idiota, ele abaixou o livro.
― O que você está fazendo? ― Claymore rosnou. ― Leia o feitiço!
Alabaster estava paralisado, como se mil pessoas estivessem olhando para ele.
― Eu... Eu não posso... Ela irá...
― Não se importe comigo! ― Claymore gritou, enquanto Lamia enfiava suas garras mais fundo em seu pescoço. Então ela sussurrou em seu ouvido: ― Incantare: Templum Incendere.
O livro aos pés de Alabaster pegou fogo.
― O que você está fazendo, seu idiota? ― Claymore rugiu para o garoto. ― Você é mais inteligente que isso, Alabaster! Se você não ler esse feitiço, você vai morrer também!
Uma lágrima escorreu pela bochecha de Alabaster.
― Você não entende? Eu não quero que mais ninguém morra por minha causa. Eu levei meus irmãos à morte!
Claymore fez uma careta. Será que o garoto não estava vendo o livro queimando?
Lamia gargalhou conforme a capa do livro virava cinzas. As páginas não iriam durar muito mais tempo. Não havia tempo para convencer o garoto imbecil. Claymore teria que instigá-lo a entrar em ação.
― Alabaster... o que acontece quando morremos?
― Pare de dizer isso! ― Alabaster gritou. ― Você vai ficar bem!
Mas Claymore apenas balançou sua cabeça. Ele era a única coisa que impedia Alabaster de ler o livro, então o caminho que ele deveria tomar estava claro. Ele tinha que destruir o último obstáculo no caminho de Alabaster.
Para vingar Burly, para salvar este filho dos deuses, ele sabia o que tinha que fazer.
― Alabaster, você me disse mais cedo que heróis não morriam. Você deve estar certo, mas vou te dizer uma coisa. ― Claymore olhou o garoto nos olhos. ― Eu não sou um herói.
Com isso, Claymore se jogou para trás contra Lamia. Ambos caíram no hall. Claymore se virou e tentou lutar com o monstro, esperando dar alguns segundos a Alabaster, mas ele sabia que não conseguiria vencer essa luta.
O grito de horror de Alabaster chegou a ele de longe. Então ele estava flutuando e flutuando em outro mundo. A mão fria da morte envolveu Howard Claymore como uma prisão gelada.

***

Não havia nenhum barqueiro para ele, nem mesmo um barco. Ele foi arrastado pela água de gelar do Rio Estige, puxado em direção a qualquer que fosse a punição que o esperava pela vida levou.
Ele poderia tentar alegar que era um homem de motivos puros, tentando pregar o sentido no mundo, mas nem mesmo ele sabia se isso era verdade. Ele tinha descartado a simples ideia da existência de deuses e foi desprezado por seus adoradores. Todos eles tinham sido motivo de piada para ele – mas se ele tinha alguma coisa que ele tinha aprendido com as últimas seis horas, era que esses deuses não tinham senso de humor.
Coitado, ele pensou consigo mesmo enquanto era puxado pela corrente gelada. Se Alabaster não fosse um inimigo dos deuses, Claymore poderia ter sido recebido como um herói por salvar a vida do garoto.
Mas o destino tinha um plano diferente para ele. Quando ele estivesse enfrentando seu julgamento, ele também teria que ser punido por ajudar um traidor.
Era irônico, de verdade... Ele morreu fazendo algo bom, mas podia ser condenado a uma eternidade nas trevas. Este tinha sido o seu medo desde a infância, morrer e ser rejeitado pelo céu.
É claro que, mesmo enquanto estava boiando em águas geladas, ele tinha um sorriso no rosto.
O fato de Alabaster não estar fazendo esta jornada com ele disse-lhe uma coisa: Lamia não tinha matado o garoto. Sem um refém o impedindo, com certeza Alabaster tinha lido o feitiço por pura raiva e derrotado Lamia.
E isso era o bastante para deixar Claymore satisfeito, não importava o castigo que os deuses decidissem.
Ele riria por último agora, e pelo resto da eternidade.
Mas, surpreendentemente, o destino não se desenrolou dessa forma. Acima dele na escuridão, uma luz cintilou cada vez mais brilhante e mais quente. Alguém estendeu a mão para ele – uma mulher estendeu a mão para ele através da escuridão. Sendo um homem lógico, ele fez a coisa mais lógica. Ele a tomou.

***

Assim que seus olhos se adaptaram, ele viu que estava em uma igreja. Não a igreja santa reluzente do paraíso, mas uma em condições precárias. Era a mesma capela imunda, coberta de poeira que ele tinha visto em seus sonhos. E orando no altar estava a jovem mulher em roupas cerimoniais – a mãe de Alabaster, a deusa Hécate.
― Suponho que você esteja esperando que eu lhe agradeça ― Claymore disse. ― Por salvar minha vida, é isso.
― Não ― Hécate respondeu solenemente. ― Porque eu não salvei sua vida. Você ainda está morto.
O primeiro instinto de Claymore era argumentar, mas ele não o fez. Não era preciso ser um gênio para descobrir que seu coração não estava batendo.
― Então por que estou aqui? Por que você me trouxe a este lugar?
Ele se aproximou do altar e se sentou na poeira ao lado de Hécate, mas ela não olhou para ele. Ela manteve seus olhos fechados e orou. Seu rosto era como uma estátua grega, pálida, linda, e sempre jovem.
― Eu os salvei ― ela disse a ele. ― Ambos os meus filhos. Você vai me odiar por isso.
Ambos... Ela tinha salvado Lamia...
Claymore imaginou que não era prudente gritar com uma deusa, mas ele não pôde evitar.
― Você disse a Alabaster que não podia interferir! ― ele exigiu. ― Depois de tudo que eu sacrifiquei para ajudar o garoto, você entra no último momento e salva o monstro?
― Eu não quero que mais nenhum filho meu morra ― Hécate disse. ― A solução de Alabaster teria funcionado. Graças a sua morte altruísta, ele teve tempo de recuperar o livro e achar o feitiço. Era um encantamento de ligação – o inverso de um feitiço concebido para curar e fortalecer um corpo vivo. Se ele tivesse o lançado em Lamia, ela teria sido reduzida uma pilha de pó preto, mas não teria morrido. Nem teria se regenerado. Ela teria permanecido viva na forma de uma pilha de pó preto para sempre. Eu parei isso antes que acontecesse.
Claymore piscou. A solução do garoto teria sido brilhante e simples ao mesmo tempo. Ele admirava Alabaster mais que nunca.
― Por que você não o deixou fazer? ― Claymore questionou. ― Lamia é uma assassina. Será que ela não merece o julgamento de Alabaster?
Hécate não respondeu por um momento. Ela apenas apertou com mais força suas mãos entrelaçadas.
Depois do que pareceu uma eternidade de silencio, ela sussurrou:
― Alabaster gosta de você. Eu vi o quão feliz você o fez. Provavelmente porque você nos lembra seu pai. ― Ela sorriu fracamente. ― Alabaster é um menino que sempre procura deixar sua mãe orgulhosa, mesmo que às vezes ele seja imprudente... Mas Lamia também teve um passado difícil. Ela não pediu por seu destino. Eu quero vê-la tão feliz quanto Alabaster.
― Você me trouxe aqui só para me dizer isso? ― Claymore perguntou, levantando uma sobrancelha. ― Para me dizer que todos os meus esforços foram em vão?
― Eles não irão ser em vão, Doutor. Porque eu vou ter você para cuidar de Alabaster.
Ele a olhou com curiosidade.
― E como eu farei isso se estou morto?
― Meu principal papel como deusa é manter a Névoa, a barreira mágica entre o Olimpo e o mundo mortal. Eu mantenho esses dois mundos separados. Quando os mortais têm um vislumbre de algo mágico, eu venho com alternativas felizes para eles acreditarem. Alabaster também tem poder sobre a Névoa. Tenho certeza de que ele lhe mostrou algumas de suas criações – símbolos que podem ser transformados em objetos sólidos.
― Nebuliformes ― Claymore se lembrou do pai falso e da espada de ouro. ― Sim, Alabaster me deu uma demonstração.
A expressão de Hécate ficou mais séria.
― Recentemente, os limites entre a vida e morte tem sido enfraquecidos, graças à Gaia. É assim que ela consegue trazer de volta do submundo seus servos monstruosos tão rapidamente. Mas eu posso usar essa fraqueza a nosso favor. Eu poderia devolver sua alma ao mundo em um corpo Nebuliforme. Seria necessária uma boa parte do meu poder, mas eu poderia lhe dar uma nova vida. Alabaster sempre foi teimoso e impaciente, mas se você estivesse ao seu lado, poderia guiá-lo.
Claymore olhou para a deusa. Retornar a vida como um Nebuliforme... ele tinha que admitir que parecia melhor que o sofrimento eterno.
― Se você tem tanto poder, por que não pôde separar Lamia e Alabaster antes? Minha morte não foi desnecessária?
― Infelizmente, Doutor, sua morte foi muito necessária ― Hécate disse. ― A mágica não pode criar algo do nada. Ela faz uso do que já existe. Um sacrifício nobre gera uma energia mágica poderosa. Eu usei essa força para separar meus filhos. Na verdade, sua morte me permitiu salvar os dois. Talvez o mais importante seja o fato de Alabaster ter aprendido alguma coisa com a sua morte. E eu suspeito que você também tenha aprendido algo.
Claymore reprimiu uma réplica. Ele não gostou da ideia de sua morte sendo usada como uma lição.
― E se isso acontecer de novo? ― Claymore perguntou. ― Lamia não irá continuar indo atrás de seu filho?
― Em curto prazo, não. Alabaster agora possui um feitiço poderoso para derrotá-la. Ela seria tola se atacasse.
― Mas eventualmente, ela irá encontrar uma maneira de combater esse feitiço ―Claymore previu.
Hécate suspirou.
― Esse dia pode chegar. Meus filhos sempre lutaram uns com os outros. O mais forte lidera os outros. Alabaster se juntou a causa de Cronos e levou seus irmãos para a guerra. Ele se culpa por suas mortes. Agora Lamia ascendeu para desafiar sua preeminência, esperando que os filhos da magia a sigam sob a bandeira de Gaia. Deve haver outra maneira. Os outros deuses nunca confiaram em meus filhos, mas essa rebelião de Gaia só irá trazer mais derramamento de sangue. Alabaster deve encontrar outra resposta – algum novo arranjo que traga paz para meus filhos.
Claymore hesitou.
― E se eles não quiserem paz?
― Eu não vou escolher um lado. Mas espero que com você o guiando, Alabaster tome a decisão certa, uma decisão que trará paz a minha família.
Uma razão para viver, Claymore pensou. Um caminho para um homem mortal sem poderes especiais para afetar o mundo dos deuses e monstros.
Claymore sorriu.
― Isso parece um desafio. Muito bem, eu aceito. E apesar de eu ser apenas um Nebuliforme, irei garantir que ele consiga.
Ele se levantou e estava prestes a sair pelas portas da igreja, mas então parou.
Mesmo estando morto, a resposta que ele estava procurando estava bem a sua frente.
― Eu tenho mais pergunta a fazer, Hécate. ― Ele preparou sua língua, assim como Alabaster deve ter feito em frente ao público em sua palestra. ― Se você mesma é uma divindade, para quem está orando?
Ela parou por um momento, virou-se para ele, e abriu seus olhos verdes brilhantes. Então como se a resposta fosse óbvia, ela sorriu e disse:
― Eu espero que você descubra.

***

Alabaster acordou em um campo. Todas as runas de suas roupas tinham se estilhaçado, e seu colete à prova de balas tinha sido destruído a ponto de se tornar inutilizável.
Porém, surpreendentemente, ele sentiu-se bem.
Ele ficou ali na grama por um minuto, tentando descobrir onde estava. Suas últimas lembranças eram de Claymore batendo no monstro, as garras de Lamia se fechando ao redor do pescoço do Doutor, o livro em chamas, o encantamento...
Ele estava preparado para lançar o feitiço, e então... acordou aqui.
Ele enfiou a mão no bolso e tirou suas cartas Nebuliforme, mas todas as inscrições tinham se transformado em manchas pretas gastas, junto com o resto da sua magia.
Então a forma de um homem apareceu sobre ele, bloqueando a luz do sol. Uma mão se estendeu para ajudá-lo.
― Claymore? ― o ânimo de Alabaster cresceu imediatamente. ― O que aconteceu? Eu pensei que... O que você está fazendo aqui?
Claymore deu a Alabaster um sorriso que duraria o resto de sua vida.
― Vamos ― ele disse. ― Eu acho que nós dois temos uma investigação a fazer.