Sobre o Blog

O S.S (Sobre Semideuses) é um blog dedicado as séries "Percy Jackson e Os Olimpianos" e "Os Heróis do Olimpo" de Rick Riordan, Escriba Sênior do Acampamento Meio-Sangue.Postem comentários com opiniões e ideias.Muito Obrigada!

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Descrição do Tártaro: parte 2

Desculpem a demora, mas eu tava meio ocupada, então, aqui está:(Não se preocupem, vou postar coisas melhores logo)


"O precipício tinha mais de trinta metros de altura. No fundo havia uma versão pesadelo do Grand Canyon: um rio de fogo passando por fendas obsidianas irregulares. A corrente vermelha brilhante projetava sombras terríveis nas faces rochosas do penhasco."


"Caminharam com dificuldade por saliências escorregadias de vidro, contornando enormes blocos de rocha e evitando estalagmites que os teriam empalado ao menor escorregão. Suas roupas esfarrapadas soltavam vapor devido ao calor do rio, mas eles seguiram em frente até caírem de joelhos às margens do Flegetonte."


"Ao primeiro contato, o fogo não era doloroso. Ele parecia frio, o que provavelmente significava que era tão quente que estava sobrecarregando os nervos de Annabeth. Antes que pudesse mudar de ideia, pegou um pouco do líquido flamejante nas mãos em concha e o levou à boca.Esperava que tivesse um gosto parecido com o de gasolina. Mas era muito pior."


"A paisagem abaixo deles era uma planície desolada e cinzenta de onde se projetavam árvores negras, como pelos de um inseto. O chão estava coberto de bolhas. De vez em quando uma delas inchava e explodia, fazendo surgir um monstro parecido com uma larva saída de um ovo."


"Todos os monstros recém-formados rastejavam e mancavam na mesma direção, rumo a uma barreira de nuvens negras que engolia o horizonte como se uma tempestade se aproximasse. O Flegetonte seguia seu curso e, perto do centro da planície, encontrava outro rio de águas negras, quem sabe o Cócito? As duas correntes se misturavam em uma corredeira fervente e borbulhante e seguiam juntas na direção da névoa preta.Quanto mais Percy olhava para aquela tempestade de escuridão, menos queria ir até lá. Aquilo podia esconder qualquer coisa: um oceano, um poço sem fundo ou um exército de monstros. Mas se as Portas da Morte ficassem naquela direção, era sua única chance de voltar para casa."


"Diante deles se estendiam quilômetros de terra estéril fervilhando com larvas monstruosas e árvores que pareciam pelos gigantescos de inseto. À direita, o Flegetonte se dividia em braços que riscavam a planície, abrindo-se em um delta de fumaça e fogo. Ao norte, ao longo do curso principal do rio, havia inúmeras entradas de cavernas. Aqui e ali, colunas de rocha se projetavam para o alto como pontos de exclamação."

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Descrição do Tártaro: parte1 * ALERTA DE SPOILLER!

Oi semideuses!!Eu sei, eu sumi e não postei por muito tempo mesmo, mas eu estava totalmente sem ideias, até que me veio uma ideia de postagem: uma descrição do Tártaro.Mas atenção: se vc não leu A Marca de Atena, não continue lendo esta postagem pois contem spoiller.
Agora que estão avisados, vamos ao que interessa:A descrição do Tártaro.E vocês, queridos leitores, sabem que vai descrevê-lo?Quem?Quem?Quem?Ninguém mais, ninguém menos que...
                                      ~le fazendo suspense~
Annabeth e Percy!O  Nosso casal favorito!Aqui estão, alguns trechos que eu retirei de A Casa de Hades, que tem uma pequena descrição do local.

"O vento assoviava nos ouvidos de Annabeth. O ar ia ficando mais quente e úmido, como se estivessem mergulhando na garganta de um dragão enorme."


"A escuridão assumiu um tom cinza avermelhado. Ela se deu conta de que enxergava os cabelos de Percy. O assovio em seus ouvidos se transformou em algo mais parecido com um rugido. O ar ficou insuportavelmente quente, permeado por um fedor que lembrava ovos podres."


"De repente, o poço por onde estavam caindo se abriu em uma caverna ampla. Annabeth conseguiu ver o fundo cerca de um quilômetro abaixo deles. Por um instante, ficou atônita demais para pensar direito. Toda a ilha de Manhattan caberia no interior daquela caverna. E ela nem conseguia vê-la por inteiro. Nuvens vermelhas pairavam no ar como se fossem vapor de sangue. A paisagem, pelo menos o que podia ver dela, era composta por uma planície negra rochosa, pontuada por montanhas íngremes e abismos causticantes. À esquerda de Annabeth, o chão se abria numa série de penhascos semelhantes a degraus colossais que levavam para ainda mais fundo do abismo.O fedor de enxofre dificultava a concentração, mas ela encarou o chão diretamente abaixo deles e viu uma faixa de um líquido negro reluzente, um rio."


"Eles estavam mesmo no Tártaro. Aos seus pés, o Rio Cócito passava rugindo, uma torrente de tristeza e infelicidade líquidas. O ar sulfuroso fazia os pulmões e a pele de Annabeth arderem"


"Então o ar era ácido. A água era infelicidade. O chão era vidro quebrado. Tudo ali era feito para machucar e matar."


"Ela examinou os arredores. Acima, não viu sinal do túnel pelo qual haviam caído. Não conseguia enxergar nem o teto da caverna, apenas nuvens cor de sangue flutuando no ar cinza e enevoado. Era como olhar através de uma mistura de cimento com sopa de tomate."


"A praia de cacos de vidro se estendia por uns cinquenta metros, até a beira de um precipício. De onde estava, Annabeth não conseguia ver o que havia abaixo, mas a borda tremeluzia com luz vermelha como se estivesse iluminada por grandes fogueiras.Uma lembrança distante a incomodou, algo sobre o Tártaro e fogo."


Amanhã eu posto o resto. Espero que tenham gostado!




terça-feira, 12 de novembro de 2013

Aviso 2

Meus queridos!As minhas provas importantes acabaram, então eu posso voltar a postar!Estou pesquisando coisas enlouquecidamente, e vcs podem ficar a vontade para mandar perguntas, sugestões, fanarts, fanfics ou tudo.Muito obrigada.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Aviso

Me desculpem!!!Como eu disse, estou em epoca de provas muito importantes, então não posso postar muita coisa, mas eu prometo, juro pelo Rio Estige, que assim que as provas acaberem, eu volto a postar, e peço a colaboração de  vocês, enviando Fanarts ou fanfics (ou os dois).Bem, atá a próxima vez que eu conseguir usar o PC.Muito obrigada.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Novo Livro

Finalmente divulgado nome do 5 livro dos Herois do Olimpo: "Sangue do Olimpo", o nome dá até medo.Está previsto o lançamento em 14 de outubro de 2014.Então temos mais um triste ano de espera pela continuação de A Casa de Hades.


                                      

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Eventos de Lançamento de A Casa de Hades:

Oi!!Aqui está a lista que a Intrínseca publicou, com os eventos:



Confira a programação de eventos de lançamento de A Casa de Hades, penúltimo livro da saga Os heróis do Olimpo, de Rick Riordan.
Leia mais sobre a publicação de A Casa de Hades (aqui).
Aracaju – SE
Data: Sábado, 2 de novembro, às 14h
Local: Parque da Sementeira
Endereço: Av. Beira Mar, s/n
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Belém – PA
Data: Sábado, 2 de novembro, às 14h
Local: Praça Batista Campos
Endereço: Quadrilátero das Ruas Serzedelo Corrêa, Mudurucus, Tamoio e Padre Eutiquio.
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Belo Horizonte – MG
Data: Sábado, 2 de novembro, às 10h
Local: Parque Ecológico da Pampulha
Endereço: Av. Otácilio Negrão de Lima, 7111, Pampulha
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Cuiabá – MT
Data: Domingo, 3 de novembro, às 15h
Local: Parque Mãe Bonifácia
Endereço: Av. Miguel Sutil
Perto do Mirante
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Curitiba – PR
Data: Sábado, 2 de novembro, às 15h
Local: Jardim Botânico
Endereço: Rua Engenheiro Ostoja Roguski, 690
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Fortaleza – CE
Data: Domingo, 3 de novembro, às 9h
Local: Parque Rio Branco
Endereço: Av. Pontes Vieira / Joaquim Távora
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Florianópolis – SC
Data: Domingo, 3 de novembro, às 13h30
Local: Parque Ecológico do Córrego Grande (Horto)
Endereço: Rua João Pio Duarte Silva, 535
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Goiânia – GO
Data: Domingo, 3 de novembro, às 15h
Local: Parque Municipal Flamboyant
Endereço: Parque Municipal Flamboyant Lourival Souza, Jardim Goiás
Entre as ruas 15, 12, 46, 55, 56 e a Avenida H
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João Pessoa – PB
Data: Domingo, 3 de novembro, às 9h
Local: Parque Arruda Câmara (Bica)
Endereço: Av. Gouveia Nóbrega Tambiá
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Manaus – AM
Data: Sábado, 2 de novembro, às 15h
Local: Parque dos Bilhares
Endereço: Av. Constantino Nery, s/n (Av. Djalma Batista)
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Natal – RN
Data: Sábado, 2 de novembro, às 9h
Local: Parque das Dunas
Endereço: Av. Alexandrino de Alencar, s/n – Tirol,
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Palmas – TO
Data: Sábado, 2 de novembro, às 16h
Local: Bosque dos Pioneiros (Feira do Bosque)
Endereço: Quadra 505 Sul, Av. Teotônio Segurado
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Porto Alegre – RS
Data: Sábado, 2 de novembro, às 14h
Local: Parque Farroupilha (Redenção)
Endereço: Av. João Pessoa, s/n.
Ponto de encontro: Arco
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Recife – PE
Data: Domingo, 3 de novembro, às 15h
Local: Parque da Jaqueira
Endereço: Rua do Futuro, 315
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Rio de Janeiro – RJ
Data: Sábado, 2 de novembro, às 14h
Local: Quinta da Boa Vista
Endereço: Quinta da Boa Vista – São Cristóvão
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Salvador – BA
Data: Sábado, 2 de novembro, às 14h
Local: Praça Ana Lúcia Magalhães
Endereço: Rua Padre Manoel Barbosa, 44
Fim da linha da Pituba
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Santa Maria – RS
Data: Domingo, 3 de novembro, às 15h
Local: Universidade Federal de Santa Maria
Endereço: Av. Roraima, 1000 – Cidade Universitária
Área arborizada próxima do Planetário e a Reitoria
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São José dos Campos – SP
Data: Domingo, 3 de novembro, às 12h30
Local: Parque da Cidade Roberto Burle Marx
Endereço: Av. Olivio Gomes, 100, Santana
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São Paulo – SP
Data: Domingo, 3 de novembro, às 13h
Local: Parque da Juventude
Endereço: Av. General Ataliba Leonel, 500
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Teresina – PI
Data: Sábado, 2 de novembro, às 16h
Local: Praça do Caribe – Riverside Walk Shopping
Endereço: Av. Ininga, 1201
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Uberlândia – MG
Data: Sábado, 2 de novembro, às 9h30
Local: Parque do Sabiá
Endereço: Rua Haia, s/n
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Vitória – ES
Data: Sábado, 2 de novembro, às 15h
Local: Parque Pedra da Cebola
Endereço: Rua João Baptista Celestino, Mata da Praia
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Vitória da Conquista – BA
Data: Sábado, 2 de novembro, às 14h
Local: Praça Vitor Brito
Endereço: Praça Vitor Brito (Praça da Bíblia), Centro
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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Link

Bem, como eu estou em época  de provas, e A Casa de Hades é um livro mt mt mt grande, eu n posso postar td, então vou dar um link, onde vcs poderão ler o livro facilmente.Obrigada ;)

link: http://bloglivroson-line.blogspot.com.br/2013/10/a-casa-de-hades.html

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

capitulo 7



                                              Capítulo VII - Annabeth



QUANDO CHEGARAM À BEIRADA DO penhasco, Annabeth tinha certeza de que os estava levando para a morte.
O precipício tinha mais de trinta metros de altura. No fundo havia uma versão pesadelo do Grand Canyon: um rio de fogo passando por fendas obsidianas irregulares. A corrente vermelha brilhante projetava sombras terríveis nas faces rochosas do penhasco.
Mesmo do alto do cânion, o calor era intenso. O frio do Rio Cócito não tinha saído dos ossos de Annabeth, mas agora sentia o rosto ardido parecendo queimado de sol. Respirar era cada vez mais difícil, como se seu peito estivesse cheio de bolinhas de isopor. Os cortes na mão sangravam mais em vez de menos. O pé de Annabeth, que estava praticamente curado, parecia piorar de novo. Ela havia tirado a tala improvisada, mas agora estava arrependida. Seu rosto se contorcia de dor a cada passo.
Supondo que conseguissem chegar ao rio de chamas, o que ela duvidava, seu plano parecia uma insanidade absoluta.
— Hã... — Percy examinou o penhasco.
Ele apontou para uma pequena fissura que descia em diagonal da beirada até o fundo.
— A gente podia tentar aquela saliência. Talvez dê para descer por ali.
Ele não disse que seria loucura tentar. Conseguiu parecer esperançoso. Annabeth ficou feliz por isso, mas continuava preocupada por talvez estar conduzindo-o para a morte.
Claro que se ficassem ali iam morrer de qualquer jeito. O ar quente do Tártaro estava deixando seus braços cobertos de bolhas. Aquele ambiente era quase tão saudável quanto a área de uma explosão nuclear.
Percy foi na frente. A saliência mal era larga o bastante para eles apoiarem as pontas dos pés. Suas mãos procuraram qualquer rachadura na rocha vítrea. Toda vez que Annabeth se apoiava no pé machucado, tinha vontade de gritar de dor. Tinha arrancado as mangas da camiseta e usado o tecido para envolver as palmas das mãos sangrentas, mas seus dedos ainda estavam fracos e escorregadios.
Alguns passos abaixo dela, Percy resmungou enquanto procurava outro apoio para a mão.
— Então... como se chama mesmo esse rio?
— Flegetonte — disse ela. — Você devia se concentrar em descer.
— Flegetonte?
Ele seguia caminhando pela saliência estreita e se segurava onde podia.
Tinham percorrido um terço do caminho até o fundo do penhasco, mas, da altura em que estavam, ainda morreriam se caíssem.
— Parece até nome de bicho pré-histórico: flegetonte, mastodonte...
— Por favor, não me faça rir — disse ela.
— Só estou tentando aliviar o clima.
— Obrigada — grunhiu Annabeth, quase pisando fora da saliência com o pé machucado. — Vou despencar para a morte com um sorriso no rosto.
Eles seguiram em frente, um passo de cada vez. Os olhos de Annabeth ardiam com o suor. Seus braços tremiam. Mas, para sua surpresa, finalmente chegaram ao fim do penhasco.
Quando chegou ao fundo, tropeçou. Percy a segurou. Annabeth ficou assustada ao sentir que a pele dele fervia. Bolhas vermelhas haviam irrompido em seu rosto, fazendo-o parecer uma vítima de varíola.
Sua própria visão estava embaçada. Sentia como se a garganta estivesse cheia de bolhas, e seu estômago estava mais apertado que um punho cerrado.
Temos de nos apressar, pensou.
— Só até o rio — disse a Percy, tentando não parecer em pânico. — Vamos conseguir.
Caminharam com dificuldade por saliências escorregadias de vidro, contornando enormes blocos de rocha e evitando estalagmites que os teriam empalado ao menor escorregão. Suas roupas esfarrapadas soltavam vapor devido ao calor do rio, mas eles seguiram em frente até caírem de joelhos às margens do Flegetonte.
— Temos de beber — disse Annabeth.
Percy hesitou com os olhos semicerrados. Ele contou até três antes de responder.
— Er... beber fogo?
— O Flegetonte corre do reino de Hades para o Tártaro. — Annabeth mal conseguia falar. Sua garganta estava se fechando por conta do calor e do ar ácido. — O rio é usado para punir os maus. Mas além disso... algumas lendas o chamam de Rio da Cura.
— Algumas lendas?
Annabeth engoliu em seco, tentando não desmaiar.
— O Flegetonte preserva os maus para que eles tenham que suportar os tormentos dos Campos de Punição. Eu acho que... pode ser o equivalente do Mundo Inferior da ambrosia e do néctar.
O rosto de Percy se contorceu quando cinzas se ergueram do rio e giraram perto dele.
— Mas isso é fogo. Como vamos...
— Assim. — Annabeth enfiou as mãos no rio.
Burrice? Sim, mas ela estava convencida de que não tinham escolha. Se esperassem um pouco mais, iriam desmaiar e morrer. Era melhor tentar algo idiota e torcer para funcionar.
Ao primeiro contato, o fogo não era doloroso. Ele parecia frio, o que provavelmente significava que era tão quente que estava sobrecarregando os nervos de Annabeth. Antes que pudesse mudar de ideia, pegou um pouco do líquido flamejante nas mãos em concha e o levou à boca.Esperava que tivesse um gosto parecido com o de gasolina. Mas era muito pior.
Certa vez, em um restaurante lá em São Francisco, ela tinha cometido o erro de provar a pimenta mais picante do mundo, que vinha com um prato de comida indiana. Após mordiscá-la, achou que seu sistema respiratório fosse implodir. Beber do Flegetonte era como virar um copo do suco concentrado daquela pimenta. Suas cavidades nasais se encheram de chamas líquidas. A boca parecia estar sendo frita. Os olhos derramaram lágrimas ferventes, e todos os poros de seu rosto pipocaram. Ela desmoronou, engasgando e vomitando enquanto o corpo inteiro tremia violentamente.
— Annabeth! — Percy agarrou seus braços, impedindo-a por pouco de rolar para dentro do rio.
O acesso passou. Ela respirou fundo com dificuldade e conseguiu se sentar. Sentia-se horrivelmente fraca e enjoada, mas a respiração seguinte foi mais fácil. As bolhas nos braços começaram a sumir.
— Funcionou — disse com voz rouca. — Percy, você precisa beber.
— Eu... — Ele revirou os olhos e caiu sobre ela.
Desesperada, Annabeth encheu outra vez as palmas em concha. Ignorando a dor, pingou o fogo líquido na boca de Percy. Ele não reagiu.
Tentou de novo, derramando as mãos cheias em sua garganta. Dessa vez, ele engasgou e tossiu. Annabeth o segurou enquanto Percy tremia e o fogo mágico agia em seu corpo. A febre passou. As bolhas sumiram. Ele conseguiu sentar e estalar os lábios.
— Ergh — disse ele. — Apimentado, mas nojento.
Annabeth riu sem forças. Estava tão aliviada... ficou até meio tonta.
— É. Isso mais ou menos resume tudo.
— Você nos salvou.
— Por enquanto. O problema é que ainda estamos no Tártaro.
Percy piscou. Olhou ao redor como se começasse a aceitar que estavam ali.
— Por Hera! Nunca pensei... bem, não tenho certeza do que pensei. Talvez que o Tártaro fosse um espaço vazio, um poço sem fundo. Mas este é um lugar real.
Annabeth lembrou da paisagem que vira enquanto caíam: uma série de platôs que iam descendo até sumir na escuridão.
— Nós ainda não vimos tudo — alertou ela. — Isto pode ser só uma parte mínima do abismo, os degraus da entrada.
— O tapete de boas-vindas — murmurou Percy.
Os dois olharam para as nuvens cor de sangue que pairavam na névoa cinzenta. Não tinham forças para subir aquele penhasco de volta de jeito nenhum, mesmo que quisessem. Agora só havia duas opções: subir ou descer o Flegetonte, acompanhando suas margens.
— Vamos achar uma saída — disse Percy. — As Portas da Morte.
Annabeth estremeceu. Ela se lembrava do que Percy dissera pouco antes de caírem no Tártaro. Tinha feito Nico di Angelo prometer levar o Argo II até Épiro, até o lado mortal das Portas da Morte.
Encontramos vocês lá, dissera Percy.
A ideia parecia ainda mais louca do que beber fogo. Como eles poderiam sair andando pelo Tártaro e encontrar as Portas da Morte? Mal tinham conseguido cambalear por cem metros naquele lugar venenoso sem morrer.
— Temos que conseguir — disse Percy. — Não apenas por nós, mas por todos os que amamos. As Portas têm que ser fechadas pelos dois lados, ou os monstros vão continuar a passar. As forças de Gaia acabarão dominando o mundo.
Annabeth sabia que ele tinha razão. Mesmo assim... era impossível pensar em um plano com alguma chance de sucesso. Eles não tinham como localizar as Portas. Não sabiam quanto tempo iam demorar, sequer se o tempo passava na mesma velocidade no Tártaro. Como poderiam sincronizar um encontro com seus amigos? E Nico dissera que a legião dos monstros mais fortes de Gaia vigiava as Portas do lado do Tártaro. Annabeth e Percy não podiam exatamente fazer um ataque direto.
Ela resolveu não mencionar nada disso. Os dois sabiam que não tinham muita chance. Além do mais, após nadarem no Rio Cócito, Annabeth tinha ouvido lamentos e gemidos o bastante para uma vida. Prometeu a si mesma nunca mais voltar a reclamar.
— Bem. — Ela respirou fundo, grata por seus pulmões finalmente terem parado de arder. — Se ficarmos perto do rio, vamos sempre ter um modo de nos curarmos. Se descermos o rio...
Aconteceu tão rápido que Annabeth teria morrido se estivesse sozinha.
Os olhos de Percy se fixaram em algo atrás dela. Annabeth girou quando uma forma escura enorme se lançou em sua direção, uma massa monstruosa com pernas finas cobertas de espinhos, olhos reluzentes e presas à mostra.
Só teve tempo de pensar: Aracne. Mas estava paralisada de medo, sem conseguir raciocinar por causa do cheiro doce enjoativo.
Então ouviu o SHWINK da caneta esferográfica de Percy se transformando em espada. A lâmina de bronze reluzente descreveu um arco acima da cabeça de Annabeth. Um gemido horrível ecoou pelo cânion.
Ela ficou ali parada, atônita, enquanto a poeira amarela, os restos de Aracne, caía ao seu redor como uma chuva de pólen de árvore.
— Você está bem?
Percy examinou os penhascos e blocos rochosos, à procura de outros monstros, mas nada mais apareceu. A poeira dourada da aranha caiu sobre as rochas obsidianas. Annabeth olhou impressionada para o namorado. A lâmina de bronze celestial de Contracorrente brilhava ainda mais forte na escuridão do Tártaro e emitiu um silvo desafiador ao cortar o ar denso e quente, como uma serpente furiosa.
— Ela... ela teria me matado — gaguejou Annabeth.
Percy chutou a terra sobre as rochas com a cara amarrada e um ar nada satisfeito.
— A morte dela foi muito rápida, considerando como torturou você. Ela merecia pior.
Annabeth não podia negar isso, mas o tom duro de Percy a incomodou. Ela nunca vira alguém ficar tão raivoso ou vingativo por causa dela. Ficou quase feliz por Aracne ter morrido tão rápido.
— Como você reagiu tão depressa?
Percy deu de ombros.
— Temos que cuidar um do outro, não é? Agora, você estava dizendo... rio abaixo?
Annabeth assentiu com a cabeça, ainda confusa. A poeira amarela se dissipou sobre a margem rochosa e virou vapor. Pelo menos agora sabiam que era possível matar monstros no Tártaro... apesar de ela não ter ideia de por quanto tempo Aracne permaneceria morta.
Annabeth não planejava ficar ali o bastante para descobrir.
— É, rio abaixo — conseguiu dizer. — Se o Flegetonte vem dos níveis superiores do Mundo Inferior, deve correr para as profundezas do Tártaro...
— Na direção mais perigosa — completou Percy. — Que é provavelmente onde ficam as Portas. Sorte a nossa.

Capitulo 6

                                               Capítulo VI - Annabeth


O IMPACTO NÃO A MATOU, mas o frio quase conseguiu.
A água congelante expulsou o ar de seus pulmões. Seus membros ficaram rígidos e ela soltou Percy e começou a afundar. Gemidos estranhos enchiam seus ouvidos, milhões de vozes infelizes, como se o rio fosse feito de tristeza destilada. As vozes eram piores que o frio. Elas a faziam afundar e deixavam seu corpo dormente.
Por que lutar?, perguntaram a ela. Você já está morta mesmo. Nunca vai sair deste lugar.
Ela podia submergir até o fundo e se afogar, deixar que o rio levasse seu corpo. Seria mais fácil. Podia simplesmente fechar os olhos...
Percy agarrou sua mão e a puxou de volta para a realidade. Ela não conseguia vê-lo na água escura, mas de repente não queria mais morrer. Juntos, nadaram e chegaram à superfície.
Annabeth encheu os pulmões, agradecida pelo ar, por mais sulfuroso que fosse. A água girava em volta deles, e ela se deu conta de que Percy estava criando um rodamoinho para fazê-los flutuar.
Apesar de não conseguir ver o que havia ao redor, sabia que aquilo era um rio. E rios tinham margens.
— Terra — disse com voz rouca. — Vá para o lado.
Percy parecia morto de exaustão. Normalmente a água o revigorava, mas não aquela água. Controlá-la devia ter exigido toda a sua energia. O rodamoinho começou a se dissipar.
Annabeth passou um braço pela cintura dele e lutou contra a corrente. O rio estava contra ela: milhares de vozes chorosas murmurando em seus ouvidos, em seus pensamentos.
Vida é desespero, diziam elas. Nada faz sentido, e depois você morre.
— Sem sentido — murmurou Percy.
Seus dentes batiam de frio. Ele parou de nadar e começou a afundar.
— Percy! — gritou ela. — O rio está mexendo com a sua cabeça. É o Cócito, o Rio das Lamentações. Ele é feito de infelicidade!
— Infelicidade — concordou ele.
— Resista!
Ela movia as pernas e fazia um enorme esforço para manter os dois na superfície. Outra piada cósmica para a diversão de Gaia: Annabeth morre tentando impedir que o namorado, o filho de Poseidon, se afogue.
Não vai acontecer, sua bruxa, pensou Annabeth.
Abraçou Percy com mais força e o beijou.
— Conte-me sobre Nova Roma — pediu. — Quais eram seus planos para nós?
— Nova Roma... para nós...
— É, Cabeça de Alga. Você disse que poderíamos ter um futuro, lá! Me fale sobre isso!
Annabeth nunca tivera vontade de deixar o Acampamento Meio-Sangue. Era o único lar de verdade que conhecera. Mas alguns dias antes, no Argo II, Percy dissera que imaginava um futuro para os dois entre os semideuses romanos. Na cidade de Nova Roma, veteranos da legião podiam se estabelecer com segurança, fazer faculdade, se casar e até ter filhos.
— Arquitetura — murmurou Percy. Seus olhos começaram a entrar em foco. — Achei que você ia gostar das casas, dos parques. Tem uma rua cheia de chafarizes bem legais.
Annabeth já conseguia vencer a correnteza. Seus membros pareciam sacos de areia molhada, mas Percy agora a estava ajudando. A linha escura da margem estava a alguns metros de distância.
— Faculdade — disse ela, ofegante. — Será que poderíamos estudar juntos?
— É... É — concordou ele, com um pouco mais de segurança.
— O que você estudaria, Percy?
— Não sei — admitiu ele.
— Biologia marinha? — sugeriu ela. — Oceanografia?
— Surfe? — perguntou ele.
Ela riu. O som produziu uma onda pela água, e o impacto fez os lamentos se reduzirem a um ruído de fundo. Annabeth se perguntou se alguém já havia rido antes no Tártaro, apenas uma risada pura e simples de prazer. Ela duvidava.
Usou o que restava de suas forças para alcançar a beira do rio. Seus pés afundaram no leito arenoso, e ela e Percy saíram da água com dificuldade. Os dois tremiam, ofegavam e desmoronaram sobre a areia escura.
Annabeth queria se encolher junto de Percy e dormir. Queria fechar os olhos, na esperança de que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo, e acordar no Argo II, em segurança e junto de seus amigos (bem... tão em segurança quanto pode estar um semideus).
Mas, não. Eles estavam mesmo no Tártaro. Aos seus pés, o Rio Cócito passava rugindo, uma torrente de tristeza e infelicidade líquidas. O ar sulfuroso fazia os pulmões e a pele de Annabeth arderem. Quando olhou para os braços, viu que já estavam cobertos com feias manchas vermelhas. Ela tentou se sentar, mas ofegou de dor.
A praia não era de areia. Estavam sentados em um campo de cacos de vidro afiados, alguns dos quais agora estavam nas mãos de Annabeth.
Então o ar era ácido. A água era infelicidade. O chão era vidro quebrado. Tudo ali era feito para machucar e matar. Annabeth respirou fundo com dificuldade e se perguntou se as vozes no Cócito estavam certas. Talvez lutar pela vida não fizesse sentido. Eles estariam mortos em menos de uma hora.
Percy tossiu ao seu lado.
— O cheiro deste lugar é igualzinho ao do meu ex-padrasto.
Annabeth conseguiu dar um leve sorriso. Não conhecia Gabe Cheiroso, mas já ouvira várias histórias sobre ele. Amava Percy por tentar melhorar seu ânimo.
Se tivesse caído no Tártaro sozinha, pensou Annabeth, estaria condenada. Depois de tudo pelo que passara no subterrâneo de Roma e de ter encontrado a Atena Partenos, aquilo era simplesmente demais. Ela teria se encolhido e chorado até se transformar em outro fantasma e se dissolver no Cócito.
Mas não estava sozinha. Tinha Percy. E aquilo significava que não podia desistir.
Ela se concentrou para avaliar a situação. Seu pé continuava envolto na tala improvisada com madeira e plástico bolha, ainda emaranhado em teias de aranha. Mas quando o moveu, não sentiu dor. A ambrosia que comera nos túneis sob Roma devia finalmente ter curado a sua fratura.
Sua mochila tinha desaparecido, perdida durante a queda, ou talvez levada pelo rio. Odiou ter perdido o laptop de Dédalo, com todos os seus programas e informações fantásticos, mas tinha problemas piores: sua faca de bronze celestial tinha sumido, a arma que carregava desde os sete anos.
Quando percebeu essa perda, quase desmoronou, mas não podia se permitir pensar muito nisso. Mais tarde teria tempo para chorar. O que mais eles tinham?
Sem comida, sem água... basicamente sem suprimentos.
É. Um começo bastante promissor.
Annabeth olhou para Percy, que estava com uma aparência péssima. Seus cabelos negros estavam grudados na testa, e a camiseta, toda esfarrapada. Seus dedos haviam ficado em carne viva por terem se agarrado à beira do precipício antes de caírem. O mais preocupante de tudo: ele não parava de tremer, e seus lábios estavam azuis.
— Precisamos ficar em movimento ou vamos ter hipotermia — disse Annabeth. — Você consegue se levantar?
Ele assentiu com a cabeça. Os dois fizeram um grande esforço para ficar de pé.
Annabeth o abraçou pela cintura, mas não tinha certeza de quem estava dando apoio a quem. Ela examinou os arredores. Acima, não viu sinal do túnel pelo qual haviam caído. Não conseguia enxergar nem o teto da caverna, apenas nuvens cor de sangue flutuando no ar cinza e enevoado. Era como olhar através de uma mistura de cimento com sopa de tomate.
A praia de cacos de vidro se estendia por uns cinquenta metros, até a beira de um precipício. De onde estava, Annabeth não conseguia ver o que havia abaixo, mas a borda tremeluzia com luz vermelha como se estivesse iluminada por grandes fogueiras.
Uma lembrança distante a incomodou, algo sobre o Tártaro e fogo. Antes que pudesse pensar melhor, Percy arquejou.
— Veja! — Ele apontou rio abaixo.
A uns trinta metros de distância, um carro italiano azul-bebê familiar tinha batido de frente na areia. Parecia exatamente o Fiat que caíra sobre Aracne e a arremessara no abismo.
Annabeth esperava estar errada, mas quantos carros esportivos italianos poderia haver no Tártaro? Parte dela não queria chegar nem perto do veículo, mas ela precisava descobrir. Agarrou a mão de Percy com força, e os dois foram cambaleantes na direção do carro destruído.
Um dos pneus tinha se soltado e estava flutuando sobre um rodamoinho em um remanso do Cócito. As janelas do Fiat tinham se espatifado, e uma camada de vidro mais claro cobria a praia escura como se fosse neve. Sob o capô amassado havia os restos reluzentes de um gigantesco casulo de seda, a armadilha que Annabeth fizera Aracne tecer. Não havia dúvida de que estava vazia. Riscos na areia formavam uma trilha que levava rio abaixo... como se algo pesado e com várias pernas tivesse corrido para se esconder na escuridão.
— Ela está viva. — Annabeth estava tão horrorizada, tão revoltada com toda aquela injustiça, que teve ânsias de vômito.
— É o Tártaro — disse Percy. — Lar e corte dos monstros. Talvez aqui embaixo eles não possam ser mortos.
Olhou envergonhado para Annabeth, como se percebesse que não estava ajudando o moral da equipe.
— Ou talvez esteja gravemente ferida e tenha rastejado para morrer em algum lugar.
— Vamos torcer para que seja isso — concordou Annabeth.
Percy ainda tremia. Annabeth também não estava se sentindo mais aquecida, apesar do ar quente e úmido. Os cortes de vidro em suas mãos ainda sangravam, o que era estranho. Ela costumava se curar rapidamente. Sua respiração foi ficando entrecortada.
— Este lugar está nos matando — disse ela. — Quer dizer, ele vai literalmente nos matar, a menos que...
Tártaro. Fogo . A lembrança distante surgiu em sua mente. Ela olhou para a terra adiante, para o penhasco iluminado por chamas.
Era uma ideia absolutamente louca. Mas podia ser sua única chance.
— A menos que o quê? — perguntou Percy. — Você tem um plano brilhante, não tem?
— É um plano — murmurou Annabeth. — Não sei se brilhante. Temos que encontrar o Rio de Fogo.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

5 Capitulo


Ta-dã-am!


                                                        Capítulo V - Annabeth

NOVE DIAS.
Enquanto caía, Annabeth pensou em Hesíodo, o antigo poeta grego que especulara que o tempo que leva para alguém cair da terra até o Tártaro seria de nove dias.
Esperava que Hesíodo estivesse errado. Tinha perdido a noção de por quanto tempo Percy e ela estavam caindo... horas? Um dia? Parecia uma eternidade. Eles estavam de mãos dadas desde que foram lançados no abismo. Depois, Percy a havia puxado mais para perto, abraçando-a com força enquanto despencavam pela escuridão absoluta.
O vento assoviava nos ouvidos de Annabeth. O ar ia ficando mais quente e úmido, como se estivessem mergulhando na garganta de um dragão enorme. O tornozelo quebrado latejava, mas não sabia dizer se ainda estava envolto em teias de aranha.
Aracne, aquele monstro maldito. Apesar de ter sido capturada por sua própria teia, atropelada por um carro e lançada no Tártaro, a aranha tinha conseguido sua vingança. De algum modo, seu fio de seda tinha se emaranhado na perna de Annabeth e a puxado para o abismo, arrastando Percy junto.
Annabeth não podia imaginar que Aracne ainda estivesse viva em algum lugar na escuridão abaixo deles. Não queria encontrar aquele monstro outra vez quando chegassem ao fundo.
Pensando pelo lado positivo, supondo que houvesse um fundo, Annabeth e Percy provavelmente seriam esmagados com o impacto, por isso aranhas gigantes eram a menor de suas preocupações.
Abraçou Percy e tentou não chorar. Ela nunca havia esperado que sua vida fosse fácil. A maioria dos semideuses morria jovem nas mãos de monstros terríveis. Era assim desde a Antiguidade. Os gregos inventaram a tragédia. Eles sabiam que os maiores heróis não tinham finais felizes.
Mesmo assim, não era justo. Ela tinha passado por tanta coisa para recuperar aquela estátua de Atena. Quando enfim conseguiu e as coisas estavam parecendo melhorar e ela reencontrara Percy, eles tinham despencado para a morte.
Nem os deuses poderiam imaginar um destino tão cruel.
Mas Gaia não era como os outros deuses. A Mãe Terra era mais velha, mais perversa, mais sanguinária. Annabeth podia imaginá-la rindo enquanto eles despencavam nas profundezas.
Annabeth encostou os lábios no ouvido de Percy.
— Eu te amo.
Não sabia se ele podia ouvi-la, mas, se morressem, queria que aquelas fossem suas últimas palavras.
Tentou desesperadamente pensar em um plano para salvá-los. Era uma filha de Atena. Tinha provado seu valor nos túneis sob Roma, superado uma série de desafios apenas com sua inteligência. Mas não conseguia pensar em um modo de reverter ou mesmo reduzir a velocidade de sua queda.
Nenhum deles tinha o poder de voar, não como Jason, que era capaz de controlar o vento, ou Frank, que podia se transformar em um animal alado. Se chegassem ao fundo em velocidade terminal... bem, ela entendia o suficiente de física para saber que seria terminal.
Estava se perguntando seriamente se eles poderiam montar um paraquedas com suas camisas (sim, o desespero chegara a esse ponto) quando algo mudou ao seu redor. A escuridão assumiu um tom cinza avermelhado. Ela se deu conta de que enxergava os cabelos de Percy. O assovio em seus ouvidos se transformou em algo mais parecido com um rugido. O ar ficou insuportavelmente quente, permeado por um fedor que lembrava ovos podres.
De repente, o poço por onde estavam caindo se abriu em uma caverna ampla. Annabeth conseguiu ver o fundo cerca de um quilômetro abaixo deles. Por um instante, ficou atônita demais para pensar direito. Toda a ilha de Manhattan caberia no interior daquela caverna. E ela nem conseguia vê-la por inteiro. Nuvens vermelhas pairavam no ar como se fossem vapor de sangue. A paisagem, pelo menos o que podia ver dela, era composta por uma planície negra rochosa, pontuada por montanhas íngremes e abismos causticantes. À esquerda de Annabeth, o chão se abria numa série de penhascos semelhantes a degraus colossais que levavam para ainda mais fundo do abismo.
O fedor de enxofre dificultava a concentração, mas ela encarou o chão diretamente abaixo deles e viu uma faixa de um líquido negro reluzente, um rio.
— Percy! — gritou no ouvido dele. — Água!
Gesticulou freneticamente. Era difícil interpretar a expressão de Percy naquela penumbra avermelhada. Ele parecia exausto, em estado de choque e apavorado, mas assentiu com a cabeça como se tivesse entendido.
Percy era capaz de controlar a água, supondo que o que estivesse abaixo deles fosse água. Ele podia dar um jeito de suavizar a queda. Claro que Annabeth tinha ouvido histórias horríveis sobre os rios do Mundo Inferior. Eles podiam roubar suas lembranças, queimar seu corpo e sua alma até virarem cinzas. Mas decidiu não pensar nisso. Aquela era sua única chance.
O rio se aproximava rapidamente. No último segundo, Percy soltou um grito desafiador, e então a água jorrou em um gêiser gigantesco que os engoliu inteiros.

4 Capítulo

Lembrando que, como na internet existem mts  fanfics, eu não garanto que o conteúdo é oficial:



                                                            Capítulo IV - Hazel

HAZEL QUERIA CORRER, MAS SEUS pés pareciam presos ao chão branco vitrificado.
Em ambos os lados do cruzamento, dois suportes de metal escuro irromperam da terra como caules de plantas. Hécate prendeu as tochas neles, então caminhou lentamente em torno de Hazel, olhando-a como se fossem parceiras em uma estranha dança.
O cão preto e a doninha a seguiram.
— Você parece com a sua mãe — decidiu Hécate.
Hazel sentiu um nó na garganta.
— Você a conheceu?
— Claro. Marie era uma vidente. Vivia de encantos, maldições e talismãs. Eu sou a deusa da magia.
Aqueles olhos absolutamente negros pareciam atrair Hazel, como se estivessem tentando sugar a sua alma. Durante sua primeira vida em Nova Orleans, as crianças da escola St. Agnes a atormentavam por causa da mãe. Diziam que Marie Levesque era uma bruxa. As freiras murmuravam que a mãe de Hazel tinha coisa com o Diabo.
Se as freiras tinham medo de minha mãe, perguntou-se Hazel, o que achariam desta deusa?
— Muitos me temem — disse Hécate, como se lesse os seus pensamentos. — Mas a magia não é boa e nem má. Trata-se de uma ferramenta, como uma faca. Uma faca é má? Só se o seu dono for mau.
— Minha... minha mãe — gaguejou Hazel. — Ela não acreditava em magia. Não de verdade. Apenas fingia, para ganhar dinheiro.
A doninha chiou e mostrou os dentes. Em seguida, emitiu um ruído de seu traseiro. Em outras circunstâncias, uma doninha soltando gases poderia ser algo engraçado, mas Hazel não riu. Os olhos vermelhos do roedor voltaram-se sinistramente para ela, como pequenas brasas.
— Calma, Gale — disse Hécate. Ela deu de ombros, desculpando-se com Hazel. — Gale não gosta de incrédulos e vigaristas. Ela já foi uma bruxa, sabe?
— Sua doninha era uma bruxa?
— Na verdade é uma tourão — esclareceu Hécate — mas, sim. Gale já foi uma desagradável bruxa humana. Ela cuidava muito mal da higiene pessoal, além de ter muitos, hã, problemas digestivos — Hécate balançou a mão diante do nariz. — Isso dava má fama para meus outros seguidores.
— Tudo bem.
Hazel tentou não olhar para a doninha. Ela realmente não queria saber dos problemas intestinais do roedor.
— De qualquer modo — continuou Hécate —, eu a transformei em um tourão. Ela fica muito melhor assim.
Hazel engoliu em seco. Ela olhou para o cão negro, que esfregava carinhosamente o focinho na mão da deusa.
— E o seu labrador...
— Ah, é Hécuba, ex-rainha de Troia — disse Hécate, como se isso fosse algo óbvio.
A cadela rosnou.
— Você está certa, Hécuba — disse a deusa. — Não temos tempo para longas apresentações. O fato, Hazel Levesque, é que sua mãe podia alegar não acreditar, mas ela detinha a verdadeira magia. E acabou percebendo isso. Quando buscou um feitiço para invocar o deus Plutão, eu a ajudei a encontrá-lo.
— Você...?
— Sim. — Hécate continuou andando ao redor de Hazel. — Eu vi potencial em sua mãe. E vejo ainda mais potencial em você.
Hazel ficou tonta. Ela se lembrou da confissão de sua mãe pouco antes de morrer: como invocara Plutão, como o deus se apaixonara por ela, e como, por causa de sua cobiça, sua filha Hazel nascera amaldiçoada. Hazel era capaz de extrair riquezas da terra, mas qualquer um que as usasse sofreria e morreria.
Agora, aquela deusa estava dizendo que ela provocara tudo aquilo.
— Minha mãe sofreu por causa da magia. A minha vida inteira...
— Sua vida não teria acontecido sem mim — disse Hécate simplesmente. — Eu não tenho tempo para a sua raiva. Nem você, aliás. Sem a minha ajuda, você morrerá.
A cadela rosnou. A tourão trincou os dentes e soltou gases.
Era como se os pulmões de Hazel estivessem se enchendo de areia quente.
— Que tipo de ajuda? — perguntou.
Hécate ergueu os braços pálidos. Os três portais pelos quais entrara – norte, leste e oeste – começaram a girar com a Névoa. Um turbilhão de imagens em preto e branco brilhou e cintilou, como nos velhos filmes mudos que ainda passavam às vezes nos cinemas quando Hazel era pequena.
No portal oeste, semideuses romanos e gregos com armaduras completas lutavam entre si na encosta de uma colina, sob um grande pinheiro. A grama estava repleta de feridos e moribundos. Hazel viu a si mesma montando Arion, avançando pela luta corpo a corpo e gritando, tentando pôr um fim à violência.
No portal leste, Hazel viu o Argo II caindo sobre os Apeninos. Seu cordame estava em chamas. Um pedregulho atingira o tombadilho. Outro perfurara o casco. O navio se rompeu como uma abóbora podre, e o motor explodiu.
As imagens do portal norte eram ainda piores. Hazel viu Leo inconsciente – ou morto – caindo através das nuvens. Ela viu Frank cambaleando sozinho por um túnel escuro, segurando o braço, com a camisa encharcada de sangue. E viu-se em uma vasta caverna repleta de fios de luz, como uma teia luminosa. Ela lutava para avançar enquanto, ao longe, Percy e Annabeth estavam deitados e imóveis ao pé de duas portas de metal preto e prata.
— Escolhas — disse Hécate. — Você está em uma encruzilhada, Hazel Levesque. E eu sou a deusa das encruzilhadas.
O chão sob os pés de Hazel tremeu. Ela olhou para baixo e viu o reflexo de moedas de prata... milhares de antigos denários romanos irrompendo na superfície ao seu redor, como se toda a colina estivesse fervilhando. Ela estava tão agitada por conta das visões nos portais que devia ter invocado toda a prata dos campos ao redor.
— Neste lugar, o passado fica próximo à superfície — disse Hécate. — Nos tempos antigos, duas grandes estradas romanas se encontravam neste ponto. Notícias eram trocadas. Negócios eram realizados. Amigos se encontravam, e inimigos lutavam. Exércitos inteiros tinham de escolher uma direção. Encruzilhadas sempre são lugares de decisão.
— Como... como Jano.
Hazel se lembrou do santuário de Jano na Colina dos Templos, no Acampamento Júpiter. Os semideuses iam até lá para tomar decisões. Lançavam uma moeda, cara ou coroa, e esperavam que o deus de duas faces os guiasse pelo bom caminho.
Hazel sempre odiara aquele lugar. Nunca entendera por que seus amigos estavam tão dispostos a colocar suas escolhas na mão de um deus. Depois de tudo o que passara, Hazel confiava na sabedoria dos deuses tanto quanto confiava em uma máquina caça-níqueis de Nova Orleans.
A deusa da magia sibilou, enojada.
— Jano e seus portais. Para ele, todas as opções são preto ou branco, sim ou não, dentro ou fora. Na verdade, não é tão simples assim. Sempre que você chega a uma encruzilhada, há ao menos três maneiras de prosseguir... quatro, se você contar com a possibilidade de retornar. Você está em uma encruzilhada assim agora, Hazel.
Hazel olhou de novo para cada portal: uma guerra de semideuses, a destruição do Argo II, sua ruína e a de seus amigos.
— Todas as escolhas são ruins.
— Todas as escolhas implicam riscos — corrigiu a deusa. — Mas qual é o seu objetivo?
— Meu objetivo? — Hazel apontou impotente para os portais. — Nenhum deles.
Hécuba rosnou. Gale, a tourão, descreveu um círculo ao redor dos pés da deusa, peidando e mostrando os dentes.
— Você poderia voltar — sugeriu Hécate. — Retornar a Roma... mas as forças de Gaia estão esperando por isso. Nenhum de vocês sobreviverá.
— Então... o que você sugere?
Hécate se aproximou da tocha mais próxima. Ela pegou um punhado de fogo e esculpiu as chamas até ter em suas mãos um pequeno mapa em relevo da Itália.
— Você pode ir para oeste — Hécate afastou o dedo do mapa flamejante — volte para a América com o seu prêmio, a Atena Partenos. Seus companheiros em casa, gregos e romanos, estão à beira da guerra. Volte agora e talvez salve muitas vidas.
— Talvez — repetiu Hazel — mas Gaia deve acordar na Grécia. É lá que os gigantes estão se reunindo.
— Verdade. Gaia escolheu o dia primeiro de agosto, a Festa de Spes, deusa da esperança, para a sua ascensão ao poder. Ao acordar no Dia da Esperança, ela pretende destruir para sempre toda a esperança. Mesmo que você consiga chegar à Grécia a tempo, conseguirá detê-la?
— Eu não sei.
Hécate correu o dedo ao longo dos Apeninos flamejantes.
— Você pode ir para leste, atravessando as montanhas, mas Gaia vai fazer de tudo para impedi-la de cruzar a Itália. Ela lançou os deuses da montanha contra vocês.
— Percebemos — disse Hazel.
— Qualquer tentativa de atravessar os Apeninos resultará na destruição de seu navio. Ironicamente, esta pode ser a opção mais segura para a sua tripulação. Prevejo que todos vocês sobreviveriam à explosão. É possível, embora improvável, que você ainda possa chegar a Épiro e fechar as Portas da Morte. Você poderia encontrar Gaia e impedir a sua ascensão. Mas, a essa altura, ambos os acampamentos dos semideuses estariam destruídos. Você não teria um lar para onde voltar — Hécate sorriu — provavelmente, a destruição de seu navio os deixaria presos nas montanhas. Isso significaria o fim de sua missão, mas pouparia você e seus amigos de muita dor e sofrimento nos dias que virão. A guerra contra os gigantes teria de ser ganha ou perdida sem vocês.
Ganha ou perdida sem nós.
Uma pequena e culpada parte de Hazel achou aquilo tentador. Ela ansiava pela chance de ser uma garota normal. Não queria mais nenhuma dor ou sofrimento para si ou para seus amigos. Eles já haviam sofrido tanto...
Hazel olhou para o portal do meio, atrás de Hécate. Viu Percy e Annabeth caídos diante daquelas portas pretas e prata. Uma enorme forma escura, vagamente humanoide, pairava agora sobre eles com o pé erguido, como se estivesse a ponto de esmagar Percy.
— E eles? — perguntou Hazel, com a voz falhando. — Percy e Annabeth?
Hécate deu de ombros.
— Oeste, leste, ou sul... eles morrem.
— Não é uma opção — disse Hazel.
— Então você tem apenas um caminho, embora seja o mais perigoso.
Hécate arrastou o dedo pelos Apeninos em miniatura, deixando uma linha branca brilhante sobre as chamas vermelhas.
— Há uma passagem secreta aqui no norte, um lugar sob o meu controle, por onde Aníbal cruzou certa vez quando marchou contra Roma.
A deusa traçou uma longa volta... até o topo da Itália, depois para leste sobre o mar e, em seguida, para o sul, ao longo da costa ocidental da Grécia.
— Depois de atravessarem a passagem, vocês viajarão para o norte até Bolonha, e, depois, para Veneza. A partir daí, navegarão no Mar Adriático até o seu objetivo: Épiro, na Grécia.
Hazel não era muito boa em geografia. Não tinha ideia de como era o Mar Adriático. Nunca ouvira falar de Bolonha, e tudo o que sabia sobre Veneza eram histórias vagas sobre canais e gôndolas. Mas uma coisa era óbvia:
— Isso é tão fora de mão...
— Justamente por isso Gaia não vai esperar que vocês sigam por este caminho — disse Hécate — posso ocultar um pouco o seu progresso, mas o sucesso de sua viagem dependerá de você, Hazel Levesque. Você deverá aprender a usar a Névoa.
— Eu? — O coração de Hazel estava disparado. — Usar a Névoa como?
Hécate apagou seu mapa da Itália. Em seguida, acenou em direção a Hécuba. A Névoa se concentrou ao redor da labradora até ela estar completamente envolvida por um casulo branco.
A neblina desapareceu com um sonoro puft! e, no lugar da cadela, surgiu uma gatinha preta e tristonha com olhos dourados.
— Miau — reclamou.
— Eu sou a deusa da Névoa — explicou Hécate. — Sou responsável por manter o véu que separa o mundo dos deuses do mundo dos mortais. Meus filhos aprendem a usar a Névoa a seu favor, para criar ilusões ou influenciar as mentes dos mortais. Outros semideuses também podem fazer isso. Assim como você, Hazel, se quiser ajudar os seus amigos.
— Mas... — Hazel olhou para a gata. Ela sabia que, na verdade, era Hécuba, a labradora preta, mas não conseguia acreditar. A gata parecia tão real. — Eu não vou conseguir fazer isso.
— Sua mãe tinha o dom — disse Hécate. — O seu é ainda maior. Como filha de Plutão que voltou dos mortos, você entende o véu entre os mundos melhor do que a maioria. Você pode controlar a Névoa. Caso contrário... bem, seu irmão Nico já a advertiu. Os espíritos sussurraram para ele, contaram-lhe sobre o seu futuro. Quando chegar à casa de Hades, você encontrará uma inimiga formidável. Ela não pode ser vencida pela força ou pela espada. Só você poderá derrotá-la, e para isso precisará de magia.
Hazel sentiu as pernas ficarem fracas. Ela se lembrou da expressão séria de Nico enquanto ele apertava seu braço com força. Você não pode contar para os outros. Ainda não. A coragem deles já está no limite.
— Quem? — perguntou Hazel com a voz trêmula. — Quem é essa inimiga?
— Não pronunciarei o nome dela — disse Hécate. — Isso seria o mesmo que alertá-la sobre a sua presença antes de você estar pronta para enfrentá-la. Vá para o norte, Hazel. Pratique invocar a Névoa durante a viagem. Quando chegar a Bolonha, procure os dois anões. Eles os levarão a um tesouro que poderá ajudá-los a sobreviver na Casa de Hades.
— Não entendi.
— Miau — reclamou a gatinha.
— Está bem, está bem, Hécuba — a deusa moveu a mão outra vez.
A gata desapareceu e a labradora preta ocupou o seu lugar.
— Você vai entender, Hazel — prometeu a deusa. — De vez em quando, enviarei Gale para verificar o seu progresso.
A tourão sibilou, com os olhos vermelhos e redondos repletos de malícia.
— Maravilha — murmurou Hazel.
— Antes de chegar a Épiro, você deverá estar preparada. Se conseguir, então talvez nos encontremos novamente... para a batalha final.
Uma batalha final, pensou Hazel. Ah, que alegria.
Hazel perguntou-se se seria capaz de impedir as previsões que vira na Névoa: Leo caindo pelo céu; Frank cambaleando no escuro, sozinho e gravemente ferido; Percy e Annabeth à mercê de um gigante sombrio. Ela odiava os enigmas dos deuses e seus conselhos obscuros. E estava começando a detestar encruzilhadas.
— Por que está me ajudando? — perguntou Hazel. — No Acampamento Júpiter disseram que você tomou o partido dos titãs na última guerra.
Os olhos escuros de Hécate brilharam.
— Porque eu sou uma titã, filha de Perses e Astéria. Muito antes de os Olimpianos chegarem ao poder, eu dominava a Névoa. Apesar disso, na Primeira Guerra dos Titãs, há milênios, lutei ao lado de Zeus contra Cronos. Eu não estava cega para a crueldade de Cronos. E esperava que Zeus se mostrasse um rei melhor.
Ela deu uma curta risada amarga.
— Quando Deméter perdeu a filha Perséfone, sequestrada por seu pai, eu a guiei com as minhas tochas pela noite mais escura, ajudando-a na busca. E quando os gigantes se ergueram pela primeira vez, de novo fiquei do lado dos deuses. Lutei contra meu arqui-inimigo, Clítio, criado por Gaia para absorver e derrotar toda a minha magia.
— Clítio — Hazel nunca ouvira esse nome, mas pronunciá-lo fez os seus membros parecerem mais pesados. Ela olhou para as imagens no portal norte: a enorme forma escura pairando sobre Percy e Annabeth. — Ele é a ameaça na Casa de Hades?
— Ah, ele está lá à sua espera — disse Hécate. — Mas primeiro você deve derrotar a bruxa. Se não conseguir...
Ela estalou os dedos, escurecendo todos os portais. A Névoa se dissipou, e as imagens desapareceram.
— Todos precisamos fazer escolhas — disse a deusa. — Quando Cronos se rebelou pela segunda vez, cometi um erro. Eu o apoiei. Estava cansada de ser ignorada pelos chamados deuses maiores. Mesmo com todos os meus anos de serviço fiel, ainda desconfiavam de mim, não permitiam que eu ocupasse um lugar no seu salão...
A tourão Gale chiou com raiva.
— Isso não importa mais — a deusa suspirou — fiz as pazes com o Olimpo. Mesmo agora que estão por baixo, com suas personalidades gregas e romanas lutando entre si, eu os ajudarei. Grega ou romana, sempre fui apenas Hécate. Vou ajudá-los na luta contra os gigantes, se você se mostrar digna dessa ajuda. Portanto, a escolha é sua, Hazel Levesque. Você vai confiar em mim... ou vai me desprezar, como os deuses do Olimpo fizeram tantas vezes?
O sangue rugia nos ouvidos de Hazel. Poderia confiar naquela deusa sombria, que dera para a sua mãe a magia que arruinara a sua vida? Não. E não gostara muito do cão de Hécate e da doninha peidona.
Mas também sabia que não podia deixar Percy e Annabeth morrerem.
— Seguirei para o norte — respondeu — usaremos a sua passagem secreta pelas montanhas.
Hécate assentiu, com uma ponta de satisfação no rosto.
— Você escolheu bem, mas o caminho não será fácil. Muitos monstros enfrentarão vocês. Até mesmo alguns de meus próprios servos passaram para o lado de Gaia, na esperança de destruir o seu mundo mortal.
A deusa pegou as duas tochas de seus suportes.
— Prepare-se, filha de Plutão. Se você conseguir derrotar a bruxa, nós nos encontraremos novamente.
— Vou conseguir — prometeu Hazel — e, Hécate? Saiba que não estou escolhendo um de seus caminhos. Farei o meu próprio.
A deusa arqueou as sobrancelhas. A tourão se contorceu, e a cadela rosnou.
— A gente vai descobrir uma maneira de deter Gaia — disse Hazel. — E vamos resgatar os nossos amigos do Tártaro. Manteremos a tripulação e o navio unidos e impediremos que o Acampamento Júpiter e o Acampamento Meio-Sangue entrem em guerra. Faremos tudo.
A tempestade uivava, e as paredes negras do tornado giravam cada vez mais rápido.
— Interessante — disse Hécate, como se Hazel fosse o resultado inesperado de uma experiência científica. — Essa seria uma magia especial.
Uma onda negra obscureceu o mundo. Quando Hazel voltou a enxergar, a tempestade, a deusa e seus minions haviam desaparecido. Hazel ficou na encosta da colina sob o sol da manhã, sozinha em meio às ruínas, com exceção de Arion, que trotava ao seu lado, relinchando, impaciente.
— Concordo — disse Hazel para o cavalo. — Vamos sair daqui.

* * *

— O que aconteceu? — perguntou Leo quando Hazel embarcou no Argo II.
As mãos da menina ainda tremiam por conta da conversa com a deusa. Ela olhou pela amurada e viu o rastro de poeira levantado por Arion enquanto ele cruzava as colinas da Itália. Queria que o amigo tivesse ficado, mas não podia culpá-lo por querer se afastar daquele lugar o mais rápido possível.
O campo brilhava à medida que o sol de verão iluminava o orvalho matinal. Na colina, as velhas ruínas brancas permaneciam silenciosas – nenhum sinal de estradas antigas, deusas ou doninhas peidonas.
— Hazel — chamou Nico.
Seus joelhos falharam. Nico e Leo a agarraram pelos braços e ajudaram-na a subir os degraus do tombadilho. Ela ficou envergonhada por estar desfalecendo como uma donzela de conto de fadas, mas a sua energia se esgotara. A lembrança daquelas cenas na encruzilhada a enchiam de pavor.
— Estive com Hécate — conseguiu dizer.
Ela não contou tudo. Lembrou-se da advertência de Nico: a coragem deles já está no limite. Mas falou sobre a passagem secreta pelas montanhas ao norte, e sobre a rota que, segundo Hécate, poderia levá-los até Épiro.
Quando terminou o relato, Nico segurou sua mão. Os olhos dele estavam repletos de preocupação.
— Hazel, você encontrou Hécate em uma encruzilhada. Isso é... isso é algo a que muitos semideuses não sobreviveriam. E aqueles que sobrevivem nunca são os mesmos. Tem certeza de que você...
— Eu estou bem — insistiu ela.
Mas sabia que não estava. Hazel se lembrou de como havia se sentido ousada e furiosa ao dizer à deusa que encontraria o seu próprio caminho e faria tudo. Agora, sua resposta orgulhosa parecia ridícula. Sua coragem a abandonara.
— E se Hécate estiver nos enganando? — perguntou Leo. — Essa rota pode ser uma armadilha.
Hazel balançou a cabeça em negativa.
— Se fosse uma armadilha, acho que Hécate teria feito a rota norte parecer tentadora. Acredite, ela não fez isso.
Leo tirou uma calculadora do cinto e apertou alguns números.
— Isso fica uns... quatrocentos e oitenta quilômetros fora de nosso caminho para chegar a Veneza. Então, teríamos de voltar e descer o Adriático. E você disse algo sobre anões pamonhas?
— Anões em Bolonha — corrigiu Hazel. — Acho que Bolonha é uma cidade. Mas por que temos que encontrar anões por lá... não faço ideia. Tem a ver com algum tesouro para nos ajudar em nossa busca.
— Hum — murmurou Leo. — Quer dizer, adoro tesouros, mas...
— É a nossa melhor opção — opinou Nico, ajudando Hazel a se levantar. — Precisamos recuperar o tempo perdido, viajar o mais rápido que pudermos. A vida de Percy e Annabeth pode depender disso.
— Rápido? — Leo sorriu. — Deixa comigo.
Ele correu até o painel de controle e começou a acionar interruptores.
Nico segurou o braço de Hazel e conduziu-a até onde não pudessem ser ouvidos.
— O que mais Hécate falou? Nada sobre...
— Não posso — interrompeu Hazel.
As imagens que vira haviam sido devastadoras: Percy e Annabeth indefesos diante daquelas portas de metal negro, o gigante sombrio pairando sobre os dois, ela mesma presa em um labirinto de luz brilhante, incapaz de ajudar.
Você deve derrotar a bruxa, dissera Hécate. Só você pode derrotá-la. Se não conseguir...
O fim, pensou Hazel. Todos os portais fechados. Toda a esperança extinta.
Nico a advertira. Ele se comunicara com os mortos, ouvira-os murmurando pistas sobre o seu futuro. Dois filhos do Mundo Inferior entrariam na Casa de Hades. Teriam de enfrentar um inimigo impossível. Apenas um deles conseguiria chegar às Portas da Morte.
Hazel não conseguia encarar o irmão.
— Eu lhe digo mais tarde — prometeu, tentando manter a voz firme. — Agora devemos descansar enquanto podemos. Hoje à noite, cruzaremos os Apeninos.